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Efeito manada passou e há ações atrativas, diz especialista do BTG

Jerson Zanlorenzi, head da mesa de ações e derivativos do BTG Pactual digital, diz que, apesar de alta do juro, investidor pode colher bons resultados na bolsa no médio e longo prazo

Zanlorenzi, head da mesa de ações e derivativos do BTG Pactual digital: queda da bolsa abre espaço para compra de ativos por preços atrativos | Foto: BTG Pactual digital/Divulgação (BTG Pactual digital/Divulgação)

Zanlorenzi, head da mesa de ações e derivativos do BTG Pactual digital: queda da bolsa abre espaço para compra de ativos por preços atrativos | Foto: BTG Pactual digital/Divulgação (BTG Pactual digital/Divulgação)

BA

Bianca Alvarenga

Publicado em 23 de novembro de 2021 às 06h10.

Última atualização em 23 de novembro de 2021 às 06h53.

Depois de fortes emoções em 2021, é inevitável que o investidor brasileiro faça votos por um 2022 mais calmo. Mas o cenário que se desenha no mercado financeiro ainda é de alta volatilidade. No lado doméstico, a luta do Banco Central para controlar uma inflação de dois dígitos deve se traduzir em uma taxa Selic no maior patamar desde 2016. Já no exterior, o Federal Reserve pode também começar a mover o ponteiro dos juros para cima.

É normal que a mudança de expectativas aqui e nos Estados Unidos se traduza em mais solavancos para o mercado e, por essa razão, a recomendação de estrategistas e gestores tem sido a de aumentar a proteção da carteira.

"2022 será um ano de volatilidade para ativos de risco, então a renda fixa ganhará espaço. Possivelmente veremos os investidores pessoa física saindo da bolsa, porque o CDI voltará a pagar 1% ao mês", afirmou Jerson Zanlorenzi, head da mesa de ações e derivativos do BTG Pactual digital, em entrevista à EXAME Invest.

Zanlorenzi contou que a recomendação neste momento é a escolha de títulos pós-fixados atrelados à Selic ou à inflação, mas que a saída de muitos investidores da bolsa pode gerar boas oportunidades para a compra de ações.

"O Brasil é um país volátil, juros altos e inflação alta, e, mesmo assim, empresas continuam indo bem e distribuindo dividendos. Os múltiplos da bolsa parecem estar chegando a patamares atrativos", ponderou.

Confira a entrevista completa com Jerson Zanlorenzi, head da mesa de ações e derivativos do BTG Pactual digital:

O que o investidor pode esperar de 2022?

Todos já imaginavam que o ano que vem seria atípico. Teremos eleições -- e eleições polarizadas --, incertezas grandes com relação à inflação e um cenário internacional diferente, dado que podemos ter alta de juros nos Estados Unidos. São movimentos que o mercado não vê há alguns anos e com o qual vai ter que se acostumar.

2022 será um ano de volatilidade para ativos de risco, então a renda fixa ganhará espaço. Possivelmente veremos os investidores pessoa física saindo da bolsa, porque o CDI vai voltar a pagar 1% ao mês. Gestores e investidores terão que ter foco em equilibrar riscos, pois mesmo na renda fixa é preciso ter atenção e cuidado na escolha de ativos.

Quais são as melhores alocações em renda fixa para o próximo ano?

Acredito que os títulos pós-fixados atrelados à Selic e à inflação sejam o melhor caminho. As taxas do prefixado estão bem tentadoras, mas ainda podemos ter uma piora da inflação e do cenário fiscal, por causa da eleição, e aí a Selic pode ir para mais de 13%, que é o que as taxas estão pagando agora. Como os prefixados têm esse risco, recomendamos pesar mais a mão em pós-fixados.

Os títulos do Tesouro pós-fixados, especialmente os atrelados à inflação, tiveram bastante volatilidade nas taxas em 2021.

Sim, a chamada marcação a mercado penalizou o preço desses títulos, mas ela evidencia muito mais o medo do mercado do que efetivamente a perda do investidor. É importante lembrar que boa parte da piora foi decorrente da aceleração da inflação, o que vai, no fim das contas, impulsionar o indexador desses títulos, o IPCA. Ou seja: se o investidor carregar a aplicação até o vencimento, o acumulo da inflação compensará a piora das taxas. Mas é claro que se sair do título agora o investidor terá prejuízo.

Dado que pode aparecer algum componente surpresa no ano que vem, por causa do cenário eleitoral, não existe o risco de 2022 repetir a volatilidade de 2021?

Eu diria que o cenário difícil parece bem precificado, mesmo considerando as incertezas eleitorais. Dificilmente teremos outra onda de volatilidade igual à que tivemos agora, porque o mercado já parece mais atento aos riscos. Mas é claro que se tivermos um cenário catastrófico, em que a Selic vai precisar subir ainda mais ou em que o câmbio fique fora de controle, pode ser que haja pressão nas taxas.

E quanto à renda variável? A bolsa pode cair mais antes de engatar uma recuperação?

Os ativos da bolsa estão sendo penalizados demais por uma questão de confiança. Por outro lado, começamos a ver melhora na assimetria de risco, e os preços dos ativos estão ficando interessantes. O Brasil é um país volátil, juros altos e inflação alta, e, mesmo assim, empresas continuam indo bem e distribuindo dividendos. Os múltiplos da bolsa parecem estar chegando a patamares atrativos.

Boa parte do efeito manada de saída do mercado já aconteceu. O investidor que estava muito desesperado acabou saindo nas últimas semanas. Nosso trabalho é mostrar que a volatilidade faz parte, mas, se houver paciência e um bom aconselhamento, o investidor pode colher resultados bem positivos no médio e longo prazo.

Então o Ibovespa chegou ao piso?

Não necessariamente. A economia pode não crescer em 2022, temos a volatilidade das eleições, mas eu acredito que seja mais provável que haja uma surpresa positiva, dado que os preços estão "amassados". Vemos empresas descontadas, e são empresas que vão bem, entra governo e sai governo.

Poderia citar algumas dessas empresas?

A princípio, temos uma boa visão para as empresas de siderurgia, como Gerdau (GGBR4), e para a Vale (VALE3), em mineração. Além disso, o setor elétrico tem ótimas oportunidades, principalmente no segmento de transmissão, e vemos varejistas de muita qualidade, como a Renner (LREN3), bem descontadas. Por fim, temos boas perspectivas para o mercado global, o que ajuda as empresas exportadoras de maneira geral.

Falando em cenário global, como a redução de estímulos e a possível alta de juros nos EUA impactam a nossa bolsa?

A redução de estímulos, chamada de tapering, e a alta de juros são coisas que o mercado já vem precificando. Sempre existe a chance de o Federal Reserve "perder a mão" e acabar falhando na comunicação, ou acabar adotando uma posição mais rígida, o que poderia causar algum tipo de turbulência, mas o cenário-base é que as coisas serão conduzidas de acordo com a expectativa do mercado. Vale lembrar que, como pano de fundo, provavelmente teremos a economia americana crescendo 5% em 2022.

Isso pode fortalecer o dólar?

Provavelmente sim. 2022 deve ser um ano de dólar mais forte, mesmo com a Selic subindo por aqui. A alta de juros nos EUA deve favorecer a moeda local, e, lembrando, teremos eleições presidenciais no Brasil, o que sempre penaliza o câmbio. Um dos grandes consensos do mercado é que vai ser difícil ver um real forte no ano que vem.

Outro segmento da renda variável que sofreu bastante foi o de fundos imobiliários. O que o investidor pode esperar?

Em geral, o público que investe em FIIs busca renda, quer acumular capital por meio de dividendos. O que acontece é que o setor passa por uma tempestade perfeita: temos o cenário de alta rápida de juros, inflação galopante e, para completar, ainda houve aquele susto com a possível tributação de fundos imobiliários, na reforma tributária.

Em meio a tudo isso, o investidor resolveu sair para não correr risco, porque o CDI voltou a oferecer mais conforto e sem a questão da volatilidade das cotas, que os FIIs têm. Mas, assim como em ações, temos excelentes FIIs descontados, que podem ser uma boa oportunidade.

O que o investidor pode fazer para fugir da volatilidade do mercado de juros no Brasil e nos EUA?

Temos olhado para ativos sem correlação com os juros e com a bolsa. Os fundos de infraestrutura, por exemplo, estão com preços interessantes, porque sofreram um estresse de liquidez no pior momento da pandemia e agora estão se recuperando. Outras opções são ativos menos tradicionais, como as alocações em cobre e os próprios criptoativos.

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