Fernanda Consorte: economista chefe do Banco Ourinvest (Ourinvest/Divulgação)
Guilherme Guilherme
Publicado em 24 de março de 2022 às 16h06.
Última atualização em 24 de março de 2022 às 16h16.
O dólar chegou a ser negociado próximo de R$ 4,76 nesta quinta-feira, 24, o menor patamar desde março de 2020, que marcou os primeiros impactos da pandemia no mercado brasileiro. A queda acumulada desde o início do ano, quando a moeda americana era cotada próxima de R$ 5,60, supera 12%. A entrada de investidores estrangeiros tem contribuído. O ingresso de capital externo na B3 nesses três primeiros meses de 2022 já está em R$ 86,6 bilhões, segundo dados da B3.
Apesar da recente desvalorização do dólar, Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest, acredita que são necessárias melhorias estruturais para que o movimento seja sustentável. "Se não houver isso, ainda mais em um ano de eleição, poderemos ver um repique na taxa de câmbio", disse Consorte em entrevista à Exame Invest.
A proximidade das eleições presidenciais, segundo Consorte, deve adicionar um novo fator de risco ao câmbio. "Devemos ver, pelo menos, muita volatilidade nos próximos meses."
Confira a entrevista com Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest.
O que explica a queda do dólar do patamar acima de R$ 5,50 no início do ano para R$ 4,80?
Temos visto fluxo de investimento entrando pesadamente no Brasil, ainda mais com a taxa de juros, que tem contribuído para trazer o preço para baixo. O fluxo que eventualmente iria para a Rússia tem saído de lá e vindo para o Brasil. Por outro lado, não vemos sinais de investimentos de longo prazo, são mais focados no curto prazo.
A queda do dólar não é sustentável?
A queda poderá ser duradoura somente se o aumento de fluxo for acompanhado de uma melhora conjuntural, da reputação internacional do Brasil e da parte fiscal. Se não houver isso, ainda mais em um ano de eleição, poderemos ver um repique na taxa de câmbio nos próximos meses.
Qual impacto a eleição pode ter na taxa de câmbio?
Pode haver bastante impacto. Historicamente, em ano de eleição em países emergentes, a taxa de câmbio se valoriza. Como a corrida eleitoral ainda está para começar, devemos ver, pelo menos, muita volatilidade nos próximos meses.
A alta de juros nos Estados Unidos pode atrapalhar a queda do dólar no Brasil?
Isso, em tese, já está precificado. A alta de juros sugere fuga de dinheiro para os Estados Unidos e aumento da taxa de câmbio. Porém, esse movimento tem sido amenizado pelo aumento da taxa de juros brasileira. Mas, como disse, se isso não for acompanhado de uma melhora estrutural, pode haver fuga de fluxo do Brasil para países mais seguros.
Como a alta de commodities, como petróleo e minério de ferro, altera a busca de estrangeiros pelo Brasil?
Quando há aumento de preços de commodities, os países exportadores acabam sendo buscados por divisas estrangeiras, porque sabem que vão ter ganhos. É um tema que tem ajudado bastante o câmbio. Embora não sejamos exportadores de petróleo, isso puxa o preço de outras commodities, como soja, em que temos protagonismo.
Como a expectativa de crescimento para este e para os próximos anos pode mexer com a taxa de câmbio?
A relação entre crescimento econômico e câmbio se dá por expectativa e confiança. Se não há confiança na economia, não há uma ótima história e, portanto, o país não se torna atrativo. Quedas de PIB e desaceleração são acompanhadas pela queda da taxa de câmbio, que é o termômetro da economia. Há uma expectativa de crescimento muito baixo para este ano que não está sendo refletida nesse momento, devido à questão do diferencial de juros. Mas com a corrida eleitoral chegando e a continuidade de um cenário ruim, a taxa de câmbio tende a inverter.
Há uma maior tendência para a alta ou queda do dólar no Brasil?
Olhando para a saúde da economia, sugiro que a taxa de câmbio seja mais alta. É preciso mais para que essa queda seja sustentável no longo prazo, mas temos que ver como o mercado vai se comportar.