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Dólar a R$ 5,80: como proteger o portfólio da alta da moeda americana

Ativos com exposição cambial podem estar caros com alta da moeda americana; especialistas divergem sobre se é recomendado investir ou não neste momento

Os fluxos do dólar também impactam diretamente as ações de companhias brasileiras que são exportadoras, uma vez que suas receitas estão atreladas à moeda americana (Igor Golovniov/Getty Images)

Os fluxos do dólar também impactam diretamente as ações de companhias brasileiras que são exportadoras, uma vez que suas receitas estão atreladas à moeda americana (Igor Golovniov/Getty Images)

BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 10 de março de 2021 às 06h30.

Última atualização em 11 de março de 2021 às 09h56.

Em um ano em que muitos analistas apostaram na queda do dólar contra o real, a moeda americana já avançou 13% e chegou a ser negociada acima da marca de 5,87 reais na máxima intradiária desta terça-feira, 9, encerrando aos 5,79 reais.

A alta está associada às incertezas fiscais e ao avanço da pandemia e foi amplificada pelo provável cenário de polarização na eleição de 2022 com possibilidade de o ex-presidente Lula voltar a disputar a presidência

Em um cenário de dólar fortalecido, quais os melhores investimentos? E como proteger a carteira?

O movimento favorece os investimentos que estão atrelados à variação do dólar como os BDRs, certificados negociados na B3 que espelham ações de empresas estrangeiras. No universo dos fundos, existem os cambiais – que investem em ativos atrelados a moedas estrangeiras – e aqueles que investem diretamente no exterior e não fazem hedge, ou seja, não protegem o ativo da variação da moeda. 

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Para quem ainda não tem esse tipo de ativo na carteira, o momento pode não parecer certo para começar. Afinal, o dólar tem ficado próximo de renovar suas máximas, o que encarece os investimentos. Ainda assim, especialistas recomendam contratar e manter alguma exposição cambial na carteira para efeito de diversificação.

“Todo brasileiro tem que ter uma parte boa do patrimônio no exterior. Talvez valha a pena esperar um momento mais favorável do câmbio para entrar nesse tipo de investimento, mas é necessário. Quando o dólar estava em 4 reais, muita gente já dizia que os ativos estavam caros”, afirma Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch.

Para quem já tem ativos com exposição cambial na carteira, a recomendação de Attuch é mantê-los. “Não é a hora de sair. Investir fora é a melhor forma de descorrelacionar a renda do patrimônio e proteger os investimentos do risco-Brasil”, aponta.

Sérgio Zanini, sócio da Galapagos Capital, entende que este não é o momento mais adequado para entrar. “Quem não tem investimento fora não deve comprar bolsa americana com o dólar na cotação atual porque vai correr o risco de a bolsa cair e o dólar voltar a se desvalorizar. Seria um prejuízo nas duas pontas”, diz.

Zanini acredita que o real deve se valorizar nos próximos meses. Considerando esse cenário, o gestor traça duas opções para quem quer diminuir a exposição ao dólar. A primeira opção é realizar os lucros e investir no Brasil. A segunda é manter os recursos no exterior buscando opções que garantam a proteção da variação do câmbio, optando por ativos que façam hedge cambial.

Vale lembrar que os fluxos do dólar também impactam diretamente as ações de companhias brasileiras que são exportadoras, uma vez que suas receitas estão em boa parte atreladas à moeda americana. Neste momento de alta da moeda americana, esses papéis se fortalecem, tanto é que Minerva (BEEF3), BRF (BRFS3) e Suzano (SUZB3) registraram altas entre 4% e 6% no pregão da terça-feira, no dia seguinte à decisão que liberou Lula para a eleição.

O dólar vai voltar a cair?

No curto prazo, dois fatores podem reverter a alta da moeda americana: a aprovação da PEC Emergencial na Câmara sem alterações e a elevação da taxa Selic. A PEC deve entrar em votação ainda nesta quarta-feira, 10, e pode ajudar a diminuir as incertezas fiscais. Isso porque a proposta permite a volta do auxílio emergencial enquanto prevê, simultaneamente, ferramentas para controle de gastos – medida vista com bons olhos pelo mercado.

Já a elevação da Selic, a taxa básica de juros da economia, pode ao mesmo tempo ajudar a ancorar as expectativas de inflação no Brasil e aliviar a pressão sobre o câmbio ao elevar o juro real. Muitos analistas projetam uma alta já para a próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, marcada para os dias 16 e 17 de março. 

“Com as questões fiscais do país em pauta, incertezas geradas pela pandemia e Selic pouco atrativa para trazer investidores, o real sofreu uma forte desvalorização. A tendência, no entanto, poderá ser revertida caso as reformas estruturais ocorram e a Selic se normalize”, destaca Carolina Giovanella, sócia fundadora da Portofino Multi Family Office.

Ainda assim, alguns analistas acreditam que a medida no curto prazo pode ser insuficiente para conter a trajetória do dólar, que depende também da condução da pandemia, que continua descontrolada no país.

"Como o cenário ainda traz bastante incerteza por conta da mutação do vírus, aumento do contágio e número de óbitos, além da velocidade da vacinação abaixo da esperada, o risco deve continuar elevado por um tempo, com o fortalecimento do dólar", explica Renato Santaniello, head de soluções de investimentos e multimercados da Santander Asset Management.

Nesta terça-feira, o Brasil bateu um novo recorde, com o maior número de mortes por covid-19 confirmadas no período de 24 horas. De acordo com o Ministério da Saúde, foram 1.972 registros, o mais alto número contabilizado desde o início da pandemia no país, há um ano.

 

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