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Defasagem dos combustíveis cresce com alta do dólar

Se não houver mudança em sua política de investimentos ou de preços de combustíveis, a Petrobras pode ter de passar por outro aumento de capital


	Notas de dólar: o dólar fechou em alta de 1,39% no balcão na quarta-feira
 (AFP)

Notas de dólar: o dólar fechou em alta de 1,39% no balcão na quarta-feira (AFP)

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Da Redação

Publicado em 3 de outubro de 2014 às 08h38.

São Paulo - O risco de aumento de capital da Petrobras continua no radar de analistas do mercado e essa possibilidade aumentou com a recente valorização do dólar. Um relatório do HSBC diz que, se não houver mudança em sua política de investimentos ou de preços de combustíveis, a estatal pode ter de passar por outro aumento de capital "com consequente diluição de acionistas".

Karina Freitas, analista da Concórdia, diz que o desempenho das ações da Petrobras vai depender da adoção de uma política de preços mais condizente com as necessidades da companhia. Ela também trabalha com a possibilidade de aumento de capital.

A trajetória de valorização do dólar, que, na quarta-feira,01, fechou em alta de 1,39% no balcão, a R$ 2,4840, maior cotação desde 8 de dezembro de 2008, traz um risco adicional nesse sentido.

"A empresa tem uma exposição importante à moeda estrangeira, considerando o relevante volume de importação de derivados e de dívida no exterior", explica Karina. "Se o dólar continuar subindo, será maior a chance de aumento de capital."

"A Petrobrás hoje não gera caixa suficiente para suas necessidades de investimento e obrigações de dívida. E a gente sabe que a empresa ainda paga dividendos." Nesse caso, a analista vê alto risco de diluição dos acionistas minoritários, devido à operação feita em 2010, que trouxe perdas aos investidores.

O relatório do HSBC diz que, em um cenário de taxa de câmbio a R$ 2,50, a Petrobrás precisaria reajustar os preços dos combustíveis em 15% para compensar as perdas no segmento de refino, no cálculo dos analistas Luiz Carvalho e Filipe Gouveia, que assinam o documento.

A tese deles é a de que a petrolífera tem uma correlação inversa dos lucros à desvalorização do real, por causa da política de preços vigente e do impacto que uma mudança na classificação de crédito pode ter sobre sua alavancagem. Além disso, cerca de 80% de sua dívida tem exposição ao câmbio, de acordo com o relatório.

"(A presidente) Dilma (Rousseff) tem uma posição pública a respeito desse tema... Ela acredita que o Brasil não deve ter paridade nos preços dos combustíveis para evitar criar volatilidade nos preços domésticos", acrescentam. A recomendação do banco para a ação preferencial da estatal é neutro (em linha com o mercado), com preço-alvo de R$ 19.

Segundo Carvalho e Gouveia, investidores questionam se o nível de produção pode compensar os prejuízos no refino. Eles fizeram um estudo no qual concluíram que um aumento de 10% na gasolina parece ter o mesmo impacto de um acréscimo de 100 mil barris diários na produção, enquanto 10% de alta no preço do diesel tem impacto cerca de três vezes superior.

Eles salientam que o aumento na produção leva a uma alta nos investimentos, enquanto a elevação nos preços dos combustíveis tem impacto imediato na geração de caixa, com risco baixo e sem exigência de investimento. "Isso ilustra o efeito que a intervenção do governo na política de preços pode ter nos resultados da empresa."

Bruno Gonçalves, analista da Alpes/WinTrade, diz que, mais do que o reajuste no combustível, já esperado pelo mercado, a Petrobrás necessita de uma política de preços mais transparente. Segundo ele, a volta da Cide faria com que o efeito de um reajuste no combustível sobre a Petrobrás fosse menor ou "até mesmo nulo". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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