Cotação do ouro desaba com alta do dólar e juros altos nos EUA
As cotações do ouro caíram por cinco semanas seguidas, algo que não ocorria desde 2018
Carlo Cauti
Publicado em 18 de julho de 2022 às 17h47.
Última atualização em 18 de julho de 2022 às 18h37.
As cotações internacionais do ouro estão caindo de forma expressiva desde abril deste ano, com o valor da onça que chegou para menos de US$ 1,7 mil.
A mesma cotação do ouro de 2012, antes de uma queda que levou o mineral a ser cotado em US$ 1,1 mil em 2015.
As cotações do ouro caíram por cinco semanas seguidas. Algo que não ocorria desde 2018.
Ouro nas montanhas-russas
Somente em março, logo após a guerra na Ucrânia, o ouro tinha subido para US$ 2.069 a onça.
Entretanto, hoje a guerra na Ucrânia e a inflação na Europa acabaram em segundo plano nos radares do mercado. Com isso, o ouro parou de brilhar.
Os temores de uma recessão global agora são os dominantes, e o dólar parece ser o único refúgio para os investidores.
Com isso, o lingote se tornou alvo de vendas cada vez mais intensas.
E muitos analistas estão considerando como muito provável que o ouro se mantenha sob pressão por causa da força do dólar, que chegou em sua máxima dos últimos 20 anos.
O UBS, por exemplo, está prevendo que o ouro continue caindo para US$ 1,6 mil a onça até o final do ano.
Além disso, a rápida subida das taxas de juro nos EUA desincentiva a manutenção de uma carteira que não pague juros (ou dividendos). O que é o caso do ouro.
O Federal Reserve (Fed) está determinado a apertar ainda mais agressivamente a política monetária, e as taxas podem subir até um ponto percentual na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) previsto para os dais 26 a 27 de julho.
Investidores em fuga das commodities
O ouro, na verdade, não é o único material que está perdendo valor muito rapidamente nas últimas semanas.
Em geral, os investidores estão fugindo de todo o setor de commodities.
O cobre caiu para a mínima desde 2020, o petróleo caiu abaixo de US$ 100 o barril, ambos com queda de mais de 30% em relação às altas recentes.
O ouro, na verdade, é uma commodity muito peculiar, com características semelhantes às moedas, e por isso sofre de fragilidades específicas.
Mas não consegue evitar de ser atingido pela onda de liquidações que atinge o setor de forma indiscriminada, já que está incluído nos índices de commodities.
Segundo o World Gold Council, os ETFs sobre o ouro não estão mais interessando os investidores.
Em maio houve resgates líquidos de 53 toneladas, em junho de outras 28 toneladas. E essa saída continua em julho também.
O maior ETF de ouro, o SPDR Gold Trust, já sofreu liquidações de mais de 30 toneladas.
Pessimismo generalizado
Entre os analistas, o pessimismo é generalizado. Mas também há quem esteja convencidos de que há uma chance de recuperação.
O ouro, segundo o banco alemão Commerzbank, pode voltar a ser um bem refúgio caso os EUA realmente entrarem em recessão.
"É uma das razões pelas quais esperamos preços mais altos nos próximos meses e trimestres. Dito isso, porque isso possa acontecer é necessário que as saídas ainda fortes dos ETFs terminem e que um interesse de compra retorne ao mercado", aparece em um relatório do banco alemão.
Enquanto isso, na última sexta-feira, 15, a União Europeia (UE) e o G7 aprovaram a proibição da importação de ouro da Rússia.
Entretanto, segundo muitos analistas, a medida é simbólica, pois os russos encontrarão outros canais de escoamento de seu mineral, e por isso ninguém espera repercussões no mercado que influenciem os as cotações internacionais do ouro.