América Latina: As moedas de Brasil, Colômbia, Argentina e México também foram as de pior desempenho entre os mercados emergentes no mês (Germano Lüders/Exame)
Karla Mamona
Publicado em 2 de fevereiro de 2021 às 10h49.
Os dois meses da América Latina na liderança do mercado de dívida em dólares de mercados emergentes chegaram ao fim e poucos preveem alguma recuperação tão cedo.
Os títulos soberanos e corporativos da região deram aos investidores uma perda de 2,3% em janeiro, conforme o agravamento da pandemia aprofundou o pessimismo com a economia e intensificou a expectativa de rebaixamento nas classificações de risco de crédito. Enquanto isso, a dívida asiática sofreu queda de 0,2% e a categoria que inclui Europa, Oriente Médio e África recuou 0,4%.
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As moedas de Brasil, Colômbia, Argentina e México também foram as de pior desempenho entre os mercados emergentes no mês. É uma virada em relação ao que se via em novembro e dezembro, quando a vitória de Joe Biden na disputa pela Casa Branca incentivou o apetite global por risco, levando os títulos da América Latina a registrarem ganho médio de 7%.
Agora, programas de vacinação instáveis e o aumento do endividamento abalam quem investe na região mais atingida pela pandemia da covid-19. O número de mortes no México na semana passada ultrapassou o da Índia, onde a população é 10 vezes maior. No Brasil, uma variante mais contagiosa do coronavírus fez com que o número total de casos ultrapassasse a marca de 9 milhões.
“O que está por trás do desempenho inferior é a deterioração na América Latina relacionada à Covid”, disse William Snead, estrategista de renda fixa do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria em Nova York. “Um forte aumento nos casos de Covid-19 dificulta a tomada de medidas para equilibrar o déficit fiscal e reduzir as taxas de endividamento nos países.”
Algumas das maiores nações latino-americanas estão prestes a enfrentar revisão de suas classificações de risco de crédito. Duas das três principais agências de rating têm perspectiva negativa para México, Chile e Colômbia (que tem o menor grau de investimento).
O aumento de casos de Covid-19 e novas ordens de confinamento provavelmente dificultarão o equilíbrio orçamentário e a diminuição dos índices de dívida. Até no Uruguai, onde a gestão da pandemia superou a da vizinhança, foram impostas restrições ao longo de janeiro.
Segundo Snead, a dívida do Uruguai já estava cara e ele prefere os ativos do México, uma vez que a recuperação da economia dos EUA aumenta suas exportações. “A onda mais severa de Covid no inverno e o risco de mutações do vírus também elevam os riscos fiscais e, em alguns casos, podem resultar em maiores prêmios de risco político”, alertaram analistas do Barclays Bank liderados por Christian Keller em nota divulgada em 28 de janeiro.
Nem todos estão pessimistas em relação à América Latina já que o ritmo de vacinação se acelera e uma recuperação mais forte nos EUA reforça a confiança. A ressalva é que a retomada pode levar o banco central americano (Federal Reserve) a reduzir seus estímulos. “Espero um desempenho melhor no resto do ano”, disse Graham Stock, estrategista da Bluebay Asset Management em Londres. “Mas haverá episódios frequentes de volatilidade devido a essa tensão entre as boas notícias referentes a uma recuperação mais rápida nos EUA e em nível global e o medo da reação à sinalização de retirada dos estímulos.”
As vendas de títulos denominados em dólares e euros por governos da América Latina passaram de US$ 18 bilhões em janeiro. Durante todo o ano passado, o volume foi de US$ 60 bilhões, segundo dados compilados pela Bloomberg. O movimento recente destaca a crescente pressão fiscal que esses governos enfrentam. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro declarou que a capacidade do governo de assumir dívidas para fornecer mais auxílio emergencial “está no limite”.
“A região enfrenta muitos ventos contrários”, disse Lale Akoner, estrategista sênior de mercado do BNY Mellon Investment Management em Londres, que tem US$ 2 trilhões sob gestão. “Falta de espaço fiscal, balanços patrimoniais estressados e riscos políticos amplificam a preocupação com o vírus.”