Michel Barnier enfrenta um cenário político tenso enquanto tenta aprovar um orçamento de austeridade e evitar a instabilidade nos mercados financeiros. (Yves Herman/Reuters)
Redator na Exame
Publicado em 28 de novembro de 2024 às 06h42.
Os mercados financeiros da França enfrentaram uma turbulência na quarta-feira, 27, com uma queda significativa em ações e títulos soberanos, à medida que crescem os temores de que uma crise política possa derrubar o governo do primeiro-ministro Michel Barnier.
De acordo com o Financial Times, o índice de referência Cac 40 caiu 0,7%, apresentando o pior desempenho entre os principais mercados europeus, após uma queda inicial de mais de 1%. Paralelamente, os rendimentos dos títulos franceses de 10 anos subiram para mais de 3%, aumentando o diferencial em relação à Alemanha para 0,9 ponto percentual, o nível mais alto desde a crise da zona do euro em 2012.
No centro da crise está a tentativa de Barnier de aprovar um orçamento que inclui €60 bilhões (R$ 348,6 bilhões) em cortes de gastos e aumentos de impostos. Sem uma maioria parlamentar, Barnier planeja usar uma ferramenta constitucional para forçar a aprovação, o que exporia seu governo a um voto de desconfiança que poderia derrubá-lo.
A líder da extrema-direita Marine Le Pen, do partido Rassemblement National, desempenha um papel central nesse impasse, já que seu partido é o maior na câmara baixa e seus votos são cruciais para um possível voto de censura. Após uma reunião com Barnier, Le Pen criticou o governo por ignorar suas demandas para proteger a população de novos aumentos de impostos e reiterou sua ameaça de derrubá-lo.
Em entrevista à emissora francesa TF1, Barnier alertou que a rejeição do orçamento desencadearia uma “grande tempestade e turbulências muito sérias nos mercados financeiros.”
A crise política ocorre em um momento em que a dívida e o déficit da França estão sob escrutínio crescente. O déficit orçamentário do país deve ultrapassar 6% do PIB em 2024, mais que o dobro da meta de 3% estabelecida pela União Europeia. A Comissão Europeia colocou a França em um processo de monitoramento por déficit excessivo, pressionando o país a reduzir seus desequilíbrios fiscais ao longo dos próximos cinco anos.
Barnier havia prometido reduzir o déficit para 5% do PIB até o final de 2025 e voltar aos limites da UE até 2029. No entanto, economistas veem essas metas como improváveis.
“É difícil ser otimista sobre a trajetória da França”, disse Mark Dowding, diretor de investimentos da RBC BlueBay Asset Management para o Financial Times. “Existe o risco de que os títulos soberanos sofram uma pressão de venda ainda maior se o cenário político se deteriorar.”
Com os rendimentos dos títulos franceses próximos aos níveis da Grécia, o epicentro da crise da dívida soberana da década passada, os investidores questionam a sustentabilidade da dívida de Paris. Uma escalada na crise política pode aumentar as dificuldades econômicas, pressionando ainda mais o governo e os mercados financeiros.