O Bradesco quer alongar o prazo de suas captações no mercado interno para reduzir o risco de refinanciamento e conseguir mais capital (Germano Lüders/EXAME)
Da Redação
Publicado em 26 de março de 2012 às 06h15.
São Paulo - O Banco Bradesco SA está liderando uma tendência entre os maiores bancos do país de alongar o prazo de suas captações no mercado interno para reduzir o risco de refinanciamento e conseguir mais capital.
As emissões de letras financeiras, títulos de dívida com no mínimo dois anos de prazo de vencimento, triplicaram para R$ 166,3 bilhões em 29 de fevereiro, ante os R$ 39,5 bilhões em 31 de janeiro do ano passado, segundo dados da câmara de compensação Cetip SA - Mercados Organizados. Já as emissões de Certificados de Depósitos Bancários, que têm resgate diário, caíram 17 por cento, para R$ 652 bilhões, no período.
O uso maior de títulos domésticos de prazo mais longo como fonte de financiamento faz parte do esforço do governo para desenvolver o mercado local de dívida e fortalecer o balanço dos bancos. O mais alto juro real entre os países do Grupo dos 20, atrás apenas da Rússia, e o histórico de inflação, que chegou a taxa anual de 6.000 por cento em 1990, fomentaram uma cultura de resistência a riscos de longo prazo entre os investidores. O Banco Itaú SA captou R$ 6 milhões com uma emissão de letras financeiras subordinadas com vencimento em dez anos e pagou taxa de até 110,5 por cento dos juros dos títulos dos bancos no mercado interbancário de um dia, os Certificados de Depósitos Interfinanceiros, ou 10,57 por cento ao ano.
“Por meio do uso das letras financeiras, os bancos podem melhorar o perfil de sua dívida e reduzir o risco de liquidez”, disse Luiz Carlos Angelotti, diretor executivo do Bradesco, em entrevista por telefone. “Como os títulos têm prazo de pelo menos dois anos, os bancos sabem que terão recursos em mãos por esse período sem o risco de investidores resgatarem os papéis por causa de, por exemplo, uma crise internacional que não tem nada a ver com o Brasil.”
Letras do Bradesco
A emissão de letras financeiras foi aprovada pelo Banco Central em 2009 para ajudar na captação de fundos de longo prazo após a crise financeira global. Esse método de captação só ganhou força em dezembro de 2010, quando o BC elevou a taxa do depósito compulsório para CDBs de 23 por cento para 32 por cento e tornou as letras financeiras isentas de compulsório.
O Bradesco, segundo maior banco do país em valor de mercado, tinha R$ 27,12 bilhões reais em letras financeiras em circulação em dezembro, quase três vezes e meia mais que no ano anterior e após salto de 40 por cento no quarto trimestre. Os depósitos a prazo do banco, com sede em Osasco, São Paulo, caíram 8,6 por cento nos últimos três meses de 2011.
O Itaú, sediado em São Paulo, tinha R$ 33,6 bilhões em letras financeiras em circulação em dezembro, contra R$ 14,3 bilhões um ano antes, segundo comunicado ao mercado. Os depósitos a prazo aumentaram de R$ 113,5 bilhões para R$ 130,5 bilhões no período.
A Dibens Leasing SA, uma divisão do Itaú, vendeu neste ano R$ 20 bilhões em debêntures com resgate diário pagando retorno de 100 por cento do CDI, ou 9,52 por cento ao ano.
O Itaú preferiu não comentar.
Cortes de juros
Mais bancos conseguem emitir letras financeiras porque o corte do juro básico pelo BC, de 275 pontos-base desde agosto, aumentou a demanda pelos papéis, disse Paulo Petrassi, que ajuda a administrar R$ 140 milhões na Leme Investimentos.
O rendimento das Notas do Tesouro Nacional da série F com vencimento em 2021 caiu 160 pontos-base desde 1 agosto para 11,29 por cento em 23 de março, segundo dados compilados pela Bloomberg.
“A queda nos juros dos títulos públicos, que estão pagando muito pouco, acaba levando o mercado a procurar mais rendimento no crédito privado”, disse Petrassi em entrevista por telefone de Florianópolis.
Fernando Hadba, que ajuda a supervisionar R$ 4,2 bilhões em ativos como chefe de renda fixa na BRZ Investimentos SA, disse que os CDBs continuarão sendo uma fonte significativa de financiamento para os grandes bancos porque são aplicações populares entre os investidores de varejo.
“As letras financeiras vão crescer, mas sempre haverá lugar para os depósitos a prazo”, Hadba disse em entrevista por telefone de São Paulo. “Nem todo mundo compra títulos de longo prazo dos bancos.”
O Banco do Brasil SA, o maior banco do país em ativos, tinha R$ 3,2 bilhões de letras financeiras subordinadas em dezembro do ano passado, ante R$ 1,083 bilhão de dezembro do ano anterior. O banco vendeu no ano passado R$ 2 bilhões de letras financeiras subordinadas de seis anos pagando rendimento de 111 por cento do CDI, o equivalente a um rendimento de 10,62 por cento ao ano.
O Banco do Brasil preferiu não comentar.
O crédito na maior economia da América Latina cresceu 19 por cento no ano passado, depois de ter crescido 20,6 por cento em 2010.
“À medida que o crédito de longo prazo se expande no Brasil, as letras financeiras fortalecem o balanço dos bancos reduzindo os descasamentos entre ativos e passivos”, disse Angelotti, do Bradesco.