Jair Bolsonaro e Michel Temer em Brasília | Foto: Alan Santos/PR/Divulgação (Alan Santos/PR/Divulgação)
Beatriz Quesada
Publicado em 9 de setembro de 2021 às 17h25.
Última atualização em 10 de setembro de 2021 às 00h00.
Em uma sessão volátil, o Ibovespa virou de queda para forte alta na meia hora final do pregão após o presidente Jair Bolsonaro divulgar uma nota oficial para tentar apaziguar a crise com o Supremo Tribunal Federal (STF). O principal índice da B3 chegou a subir perto de 3% e encerrou com alta de 1,72%, aos 115.360 pontos. Na véspera, na quarta, o índice havia caído quase 4% com investidores repercutindo os desdobramentos das manifestações de 7 de setembro.
Após a nota do presidente, o dólar comercial aprofundou a trajetória de queda e recuou 1,85%, encerrando a sessão negociado a 5,227 reais. Durante boa parte da tarde, foi cotado acima do patamar de 5,30 reais.
No pregão desta quinta, o Ibovespa tinha em foco a greve dos caminhoneiros, que segue firme, apesar dos pedidos do presidente para que sejam encerradas as paralisações nas estradas do país.
A greve, no entanto, acabou ficando em segundo plano após Bolsonaro se encontrar com o ex-presidente Michel Temer, que aconselhou um aceno do Executivo ao STF para tentar estancar a crise. No fim da tarde, Bolsonaro publicou uma nota oficial a respeito dos embates entre os Poderes da República.
O presidente afirmou que “nunca teve nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes”.
“Na vida pública as pessoas que exercem o poder não têm o direito de ‘esticar a corda’, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia”, afirma a nota.
“O passo atrás de Bolsonaro diminui riscos e acalma, marginalmente, os ânimos que sugeriram rupturas. Trata-se do início de uma reconsideração que, pelo menos, pode voltar a trazer à mesa perspectivas sobre reformas, ainda que diminutas, mas que neste momento se afastam do 0% de chance de avançarem”, avaliou Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
A carta de Bolsonaro também se referiu diretamente ao ministro Alexandre de Moraes, alvo de grande parte das críticas do presidente e responsável pelo inquérito das fake news no qual o chefe do Executivo é investigado.
“Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes. Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais previsto no Art 5º da Constituição Federal. Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país”, diz a nota.
Além das turbulências políticas, o mercado também repercutiu os dados de inflação, que voltaram a superar as estimativas. Divulgado nesta manhã, o IPCA referente a agosto bateu 9,68% no acumulado de 12 meses, com com a alta mensal ficando em 0,87%. A expectativa era de uma inflação de 0,71% no mês.
"Com os reajustes de energia e a crise hídrica aguda, isso somado aos efeitos de uma paralisação parcial dos caminhoneiros, faz que o mercado fique ainda mais resistente.", afirma em nota André Perfeito, economista-chefe da Necton.
O IPCA mais forte do que o esperado tem elevado as expectativas de alta de juros por parte do Banco Central. Com decisão monetária prevista para daqui a duas semanas, parte do mercado já fala em uma alta da taxa Selic em 1,25 ponto percentual para 6,5%.
Na bolsa, os juros futuros de curto prazo, mais sensíveis à inflação, subiram e passaram a precificando uma Selic a 7,37% no fim do ano, contra 6,98% no ajuste anterior. No mercado, porém, já se fala em Selic a dois dígitos.
No cenário externo, as bolsas reagem positivamente ao anúncio do Banco Central Europeu de implementar apenas uma leve redução dos estímulos via compra de ativos. Na Europa, o Stoxx 600 fechou em queda de 0,04%.
Nos Estados Unidos, saíram os pedidos semanais de seguro desemprego, que renovaram a mínima desde o início da pandemia para 310.000. O número ficou melhor do que o consenso de 335.000 pedidos. Por lá, os principais índices fecharam em queda, com investidores ainda preocupados com os próximos passos da bolsa americana.