Mercados

As palavras cruzadas, o Fed e a bolsa de valores

Como a maneira com que Bernanke encara os problemas econômicos pode influenciar no caminho da renda variável em uma analogia com as palavras cruzadas do New York Times

Exemplo de um jogo de palavras cruzadas do NYT: mercado precisa agora resolver o desafio a ser proposto por Bernanke quando começar o início da retirada dos estímulos econômicos (Palavras cruzadas/NYT)

Exemplo de um jogo de palavras cruzadas do NYT: mercado precisa agora resolver o desafio a ser proposto por Bernanke quando começar o início da retirada dos estímulos econômicos (Palavras cruzadas/NYT)

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Da Redação

Publicado em 9 de março de 2011 às 13h58.

São Paulo – Há décadas o The New York Times publica diariamente um jogo de palavras cruzadas. A dificuldade aumenta a cada dia da semana. O da segunda-feira, por exemplo, é considerado mais fácil. O de sábado, por sua vez, é o mais difícil. E um dos usuários assíduos desse jogo é nada menos que Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve, o BC americano. Bernanke divide o seu tempo livre entre os desafios do NYT e a série de TV House. Análise feita hoje por Nicholas Colas, estrategista-chefe do ConvergEx Group, compara os desafios recentes de Bernanke e o Fed aos jogos de palavras cruzadas. Para ele, a política monetária está saindo de um jogo fácil de palavras cruzadas para algo mais próximo de um desafio de sábado, considerado o mais complicado da semana.

"A política monetária americana pode estar passando do que pode ser comparado a um jogo de palavras cruzadas de iniciantes para um de nível avançado. Ben Bernanke gosta de resolver os quebra-cabeças do New York Times, mas frequentemente esquiva-se dos dias fáceis – oferecidos normalmente no começo da semana para viciar os iniciantes – porque eles não são suficientemente desafiadores", ressalta Colas. "Poderíamos afirmar que determinar a política monetária está prestes a deixar o modo palavras cruzadas de segunda-feira para algo mais próximo de um desafio de sexta-feira e sábado", compara.

Para Colas, o ponto no qual o Fed irá retirar os estímulos está rapidamente se tornando um problema imediato, especialmente se os números positivos do Relatório de Emprego da última sexta-feira forem um sinal de aceleração da atividade econômica. A economia americana criou 192 mil vagas em fevereiro. Os números vieram acima dos 185 mil postos de trabalho esperados pelo mercado. Os números dos últimos dois meses também foram revisados para cima. Para combater os efeitos da crise financeira e falta de crédito, Bernanke reduziu o juro para quase zero, deixando a Fed Funds Rate (a taxa básica de juro da economia) em um nível entre zero e 0,25% ao ano. E tem sido assim desde 16 de dezembro de 2008, data do último corte na taxa.

Além disso, apelidado há anos de “Helicopter Ben”, por defender em 2002 a famosa frase do economista Milton Friedman no qual ele sugeriu jogar dólares do helicóptero para lutar contra a deflação, o líder do Fed também implementou duas rodadas de afrouxamento quantitativo. O resultado foi a injeção de centenas de bilhões de dólares para combater um possível ambiente deflacionário ao estilo da armadilha na qual o Japão se encontra desde a década de 1990. "A certeza com que Bernanke manteve a taxa básica de juros em baixa e implementou duas rodadas de afrouxamento quantitativo indicam que ele encarou os últimos dois anos como uma palavra cruzada de um nível de dificuldade parecido ao de uma segunda-feira", provoca o estrategista.

Agora, contudo, Bernanke está sendo desafiado e as condições econômicas estão mais para um desafio parecido a algo como "A primeira pessoa a receber dois prêmios Nobel (Resposta: Marie Curie)", explica. Para ele, as pistas para encontrar a resposta para a atual situação econômica seriam as seguintes:

- O Relatório de Emprego veio em linha com as agressivas estimativas entre 180 a 200 mil novos postos de trabalho, e as revisões para os últimos dois meses também foram positivas.

- A demanda por ativos de risco como ações ou títulos corporativos de alto rendimento continua robusta.

- A deflação parece agora uma ameaça menor agora que os preços de alimentos e energia estão voltando a subir.

Além disso, a frase tem 16 letras. A resposta? "Aumente os juros". Para Colas, essas pressões, na balança, sugerem que o Federal Reserve precisará elevar o juro na metade do ano, e isso cria um jogo de palavras cruzadas complicado para os investidores em ações. "Como os mercados de capitais resolverão esse desafio, em conjunto com as incertezas geopolíticas nos países produtores de petróleo no Oriente Médio, está longe de uma certeza", afirma. Colas sugere que o mercado já está sendo confrontado pelo desafio, algo como uma palavras cruzadas nível difícil, e que já teria pegado algumas dicas de imediato. "Mas boa parte ainda não está resolvido", afirma. O que falta, agora, é aquele momento "Aha!", comum para os praticantes das palavras cruzadas que ficam com aquela certeza de que sabem a resposta, mas ainda não a encontraram.

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