Linha de produção da Embraer em São José dos Campos, no interior de São Paulo | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 20 de dezembro de 2021 às 06h45.
O ano de 2021 foi marcado por perdas generalizadas para a bolsa brasileira. Mesmo com a recuperação no começo deste mês, o Ibovespa ainda registra queda de 9,93% no acumulado anual (até o último dia 17).
A explicação para o movimento de queda -- acentuado ao longo do segundo semestre -- passa por uma conjunção de fatores: incertezas sobre o quadro fiscal, disparada da inflação e consequente alta acentuada na taxa Selic e nas de juros futuros etc. Com a aprovação da PEC dos Precatórios, o quadro de incertezas sobre as contas públicas deu trégua, mas não foi suficiente: só 23 das 92 ações que compõem o Ibovespa apontam que vão fechar o ano no positivo.
Para completar o cenário desafiador, os bancos centrais dos países desenvolvidos, -- a começar pelo Federal Reserve, dos Estados Unidos -- começaram a reduzir a liquidez do mercado e a sinalizar e até dar início ao ciclo de aperto monetário, o que afeta o fluxo de capital para emergentes como o Brasil.
Mas a queda do Ibovespa não impediu que o investidor pudesse encontrar boas oportunidades de ganhos entre as 92 ações que atualmente fazem parte do índice de referência da B3 ao longo do ano.
Entre os papéis que devem fechar 2021 com os maiores ganhos, um fator em comum: quase todos têm parte de sua receita atrelada ao exterior. “Cada alta teve sua particularidade, mas é possível dizer que as empresas que mais subiram têm receita dolarizada, e o faturamento em dólar acaba sendo muito benéfico neste ano de forte alta da moeda”, afirma Fernando Ferrer, analista da casa de análises Empiricus. No ano, a moeda americana salta 9,57% frente ao real.
Veja a seguir a lista das 10 maiores altas do Ibovespa até a última sexta, dia 17:
As 10 maiores altas de 2021* | |||
Nome | Código |
Retorno em 2021 (%) | |
1 | Braskem | BRKM5 |
134,15 |
2 | Embraer | EMBR3 |
130,51 |
3 | Marfrig | MRFG3 |
63,89 |
4 | JBS | JBSS3 |
61,75 |
5 | PetroRio | PRIO3 |
44,61 |
6 | Gerdau | GGBR4 |
33,38 |
7 | Gerdau Metalúrgica | GOAU4 |
29,02 |
8 | Méliuz | CASH3 |
28,46 |
9 | Cosan | CSAN3 |
18,33 |
10 | Cemig | CMIG4 |
15,39 |
*Até o pregão de 17/12 | Fonte: Investing |
A Braskem (BRKM5) foi destaque no ano, com alta de 134,15%. A disparada do preço da ação da maior petroquímica do país e da América Latina está ancorada em dois fatores, segundo analistas: os fortes resultados ao longo do ano e aguardada venda do seu controle por Petrobras (PETR3, PETR4) e Novonor (ex-Odebrecht).
No terceiro trimestre, a empresa teve um lucro líquido de 3,537 bilhões de reais, revertendo prejuízo de 1,41 bilhão em igual período de 2020. A empresa havia sido fortemente penalizada pelo mercado em 2020 com o afundamento de bairros na capital de Alagoas, Maceió, em acidente relacionado à exploração das minas de sal-gema na região. A empresa se recuperou neste ano, com impulso da alta de cerca de 50% do petróleo, sua principal matéria-prima.
Soma-se a isso a expectativa de venda das fatias de 36,15% e de 38,4% que a Petrobras e a Novonor (ex-Odebrecht) detêm na companhia. Na última semana, a Petrobras aprovou o modelo de venda de até 100% das ações que detém na petroquímica via oferta pública secundária (follow-on). No dia do anúncio, a Braskem subiu mais de 6%.
Outro destaque de 2021 é a ação da Embraer (EMBR3), igualmente depois de um ano difícil. Analistas dizem que a valorização se deve à recuperação do mercado de aviação comercial para jatos de médio porte, segmento explorado pela companhia na aviação comercial, e às perspectivas favoráveis no novo mercado de “carros voadores”. Os eVolts, aeronaves elétricas de pouso e decolagem verticais, são o destaque de sua subsidiária Eve Urban.
“A empresa sofreu em 2020 com o fim das negociações com a Boeing e com o fechamento da economia por causa da pandemia. Em contrapartida, o mercado para 'carros voadores' tem chamado atenção, e a companhia já fechou 12 acordos em três meses. E a expectativa é que o apetite continue forte pelo segmento”, analisa Ferrer.
O setor de e-commerce ficou na ponta oposta, com quatro ações entre as dez maiores baixas do ano. A liderança das perdas ficou com a ação de Lojas Americanas (LAME4), que recuaram 77,32% no ano até a sexta passada, dia 17.
A ação sofreu em particular por causa de uma reestruturação anunciada em abril, que resultou na criação da Americanas, unindo os ativos da então B2W, uma das maiores empresas de e-commerce do país, com as lojas físicas da Lojas Americanas, que ficou como holding. O plano na época era listar a controladora nos Estados Unidos.
Desde então, no entanto, as ações de Lojas Americanas ficaram com performance abaixo da esperada. Uma das razões, segundo analistas, foi o habitual desconto imposto pelo mercado a empresas que são holding. Nem o anúncio de unificação das duas ações, no fim de outubro, conseguiu fazer o papel de recuperar -- a forte alta dos juros futuros e o ambiente macro desfavorável de modo geral acabaram atrapalhando, segundo especialistas.
Veja a seguir a lista das 10 maiores quedas do Ibovespa até a última sexta, dia 17:
As 10 maiores quedas de 2021* | |||
Nome | Código |
Retorno em 2021 (%) | |
1 | Lojas Americanas | LAME4 |
-77,32 |
2 | Magazine Luiza | MGLU3 |
-73,31 |
3 | Via | VIIA3 |
-69,99 |
4 | GPA | PCAR3 |
-69,02 |
5 | Americanas | AMER3 |
-58,58 |
6 | Eztec | EZTC3 |
-51,28 |
7 | Qualicorp | QUAL3 |
-50,86 |
8 | Cyrela | CYRE3 |
-47,39 |
9 | IRB Brasil | IRBR3 |
-46,94 |
10 | Natura | NTCO3 |
-46,74 |
*Até o pregão de 17/12 | Fonte: Investing |
Apesar do avanço da vacinação, a economia do Brasil não mostrou a recuperação que se esperava: o crescimento está patinando, o desemprego é elevado e a inflação bateu na casa de 10% em 12 meses, exigindo juros mais altos.
Um dos setores que deixaram a desejar em meio a esse cenário macroeconômico adverso foi o varejo e, em particular, o segmento de e-commerce. Nos últimos meses, a forte concorrência estrangeira – personalizada por gigantes como Shopee, AliExpress e Amazon – também pesou sobre o resultado e sobre as ações das empresas.
Grandes companhias de e-commerce como Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3), que haviam apresentado resultados fortes no primeiro ano da pandemia, não conseguiram manter o mesmo ritmo de crescimento em 2021.
A inflação medida pelo IPCA, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, deve fechar o ano em torno de 10%, segundo projeção do mercado. Para fazer frente à alta das expectativas de aumento de preços, a Selic, a taxa básica de juros da economia, foi elevada de 2% para 9,25% ao ano em 2021. E deve chegar aos dois dígitos no ano que vem.
A alta da Selic também está causando impacto sobre as ações do setor imobiliário, como as de incorporadoras: Eztec (EZTC3) e Cyrela (CYRE3) figuram entre as maiores quedas do Ibovespa neste ano.
“São companhias que sofrem com aumento de custos via inflação, que tiveram de repassar o aumento de preços [com impacto na demanda] e agora devem sofrer com a restrição do crédito imobiliário diante da alta da Selic”, diz Ferrer.