Alfredo Menezes: "Devemos ver o dólar batendo a máxima do ano no último trimestre, a não ser que o governo mude o discurso. Se não mudar, o dólar pode ir a R$ 6 facilmente" (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter
Publicado em 28 de junho de 2024 às 18h17.
Última atualização em 28 de junho de 2024 às 18h50.
O dólar atingiu a máxima desde janeiro de 2022 nesta sexta-feira, 28, com a moeda sendo negociada a R$ 5,60. A valorização ocorreu após um novo discurso agressivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que afirmou que "gostaria de fazer o ajuste fiscal em cima da rentabilidade dos banqueiros, que ganham dinheiro fazendo especulação na bolsa de valores." A alta no ano é de 15,3%.
O patamar, embora bem acima do consenso do mercado para o fim do ano (de R$ 5,15), não é exagerado, na avaliação de Alfredo Menezes, CEO da Armor Capital. Embora a projeção dos principais bancos ainda seja de dólar abaixo de R$ 5,30 para o próximo ano, Menezes acredita que há razões bastante concretas por trás da valorização do dólar no Brasil. "Não vejo o BC intervindo pela hipótese de o mercado não ser funcional, pois está funcional ainda. O que me preocupa é que, dado o nível do dólar, vai deteriorar a expectativa de inflação para o ano que vem e os agentes de mercado vão cobrar uma alta de juros para controlar a inflação. É um cenário bem complicado."
A alta do dólar no Brasil tem relação com sua apreciação no mundo, dada a menor urgência do Federal Reserve (Fed) em cortar as taxas de juro dos Estados Unidos, diante de dados ainda fortes para a inflação e atividade econômica americana. A expectativa do mercado, que chegou a ser de sete cortes de juros ainda neste ano, hoje é de apenas dois. O real, no entanto, é o maior destaque negativo do ano, mesmo se comparado a outras moedas emergentes. O peso mexicano e a lira turca, por exemplo, tiveram respectivas quedas de 9,7% e 7,3% ante o dólar. A pior performance, afirma Menezes, é justificada em grande parte pela piora da percepção fiscal.
"Devemos ver o dólar batendo a máxima do ano no último trimestre, a não ser que o governo mude o discurso. Se não mudar, o dólar pode ir a R$ 6 facilmente", disse Menezes em entrevista à EXAME Invest. Menezes, que foi chefe de tesouraria do Bradesco e é uma das principais referências do mercado brasileiro em câmbio, afirmou estar apostando na desvalorização do real.
A solução para o câmbio, na avaliação de Menezes, seria o governo buscar um maior equilíbrio fiscal pelo lado dos gastos, já que o espaço para aumento de impostos teria atingido um limite. "Mas os sinais ainda são de aumento de arrecadação. Se esse cenário continuar, vamos ter um nível de atividade pior para o ano que vem. É importante mantermos um crescimento constante para a relação dívida/PIB não se deteriorar rapidamente. Seria muito bom se o governo alinhasse seu discurso com as necessidades fiscais."
Mas não é só o fiscal que preocupa o gestor. As contas correntes, diz, têm piorado de forma acelerada, com as importações subindo mais rápido que o esperado. Já do lado das exportações, a expectativa é de que o melhor já tenha ficado para trás. "O primeiro trimestre é o momento de melhor fluxo para o real. É quando há maior exportação de grãos. No último trimestre, não há nenhuma grande pauta de exportações e as importações de bens duráveis tendem a subir, um pouco devido às importações de carros modelo 2025 e às importações de Natal. Além disso, há uma remessa de juros e dividendos bem expressiva, o que deve explicar o dólar mais forte no último trimestre."
Menezes conta que havia, entre investidores, a expectativa de que grandes exportadoras estivessem com dólares represados no exterior e que, no momento de internalizar esses recursos, o real iria valorizar. "Só que nós temos analisado as 19 principais exportadoras do Brasil e elas não têm aumentado o caixa fora do país. É um colchão de liquidez que o mercado achava que existia e não existe. Então, qualquer momento de estresse realmente vai impulsionar o preço do dólar para cima."
O gestor aponta ainda que a política monetária, que vinha jogando a favor do real nos últimos anos, não é um diferencial. "A diferença de juros em relação ao externo, considerando o cupom cambial interno, está muito baixa. É um cupom de 3,30%. Os próprios juros locais não estão protegendo a moeda." O que poderia ajudar a moeda no curto prazo, diz, seria o Fed iniciar o corte de juros em setembro. "Mas acredito que ficará apenas para novembro."