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3 perguntas para entender a sucessão – agitada – no comando da Vale (VALE3)

Desde o início do ano, a indefinição quanto ao nome do futuro presidente da Vale alimenta a cautela dos investidores

A Vale anunciou que o atual CEO da companhia terá seu mandato estendido até dezembro (Germano Lüders/Exame)

A Vale anunciou que o atual CEO da companhia terá seu mandato estendido até dezembro (Germano Lüders/Exame)

Janize Colaço
Janize Colaço

Repórter de Invest

Publicado em 11 de março de 2024 às 15h40.

Última atualização em 11 de março de 2024 às 16h41.

A novela da sucessão do comando na Vale (VALE3) continua a ganhar novos capítulos. Na última sexta-feira, 8, a mineradora anunciou que o seu conselho de administração votou pela extensão até dezembro do mandato de Eduardo Bartolomeo, que deveria chegar ao fim em maio. A notícia caiu como um alívio imediato para os papéis da companhia, cujo valor de mercado já caiu cerca de R$ 48 bilhões desde o início do ano, mas a indefinição quanto ao nome do futuro presidente da Vale continua a alimentar a cautela dos investidores.

1. Por que a permanência de Bartolomeo dividiu os analistas?

Na avaliação da Genial Investimentos, a permanência de Bartolomeo à frente da mineradora é “parcialmente negativa”. “A renovação por um prazo tão curto implica dizer que a discussão em torno do nome definitivo para assumir de 2025 em diante ainda continuará nos próximos meses”, dizem os analistas. Isso porque, conforme a companhia informou, o nome do novo CEO da Vale virá de uma lista tríplice que será elaborada por uma empresa de recursos humanos.“Portanto, a decisão tomada de estender o mandato do Bartolomeo até dezembro não remove incertezas.”

Por outro lado, os analistas do Itaú BBA veem o movimento como positivo para a mineradora. Eles apontam que mesmo que os investidores vejam a extensão do mandato do atual presidente como algo neutro do ponto de vista operacional e estratégico, a permanência de Bartolomeo deve diminuir os ruídos que têm abalado as ações da Vale. Além disso, eles acreditam que a transição do comando poderá seguir um caminho mais tranquilo e organizado. “A empresa internacional responsável por auxiliar a Vale [na escolha do novo presidente] terá o tempo necessário para avaliar minuciosamente as competências dos potenciais candidatos.”

2. Por que a escolha do novo CEO da Vale (VALE3) não é simples?

De janeiro para cá, o noticiário do mercado financeiro tem sido constantemente pautado pela sucessão da Vale. Para além da falta de uma indicação clara de quem vai comandar a mineradora, o fato de ela ter sido privatizada há quase 30 anos não afastou os rumores de uma possível intervenção do governo federal na companhia.

“Por meio da Previ [fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil] e um acordo com outros conselheiros, o governo tentou promover o nome do ex-ministro Guido Mantega. Isso gerou ainda mais ruídos, tendo sido visto como uma tentativa de colocar alguém do governo na presidência da Vale”, diz Lucas Serra, analista da Toro Investimentos. Ainda segundo ele, o fato de Bartolomeo não ser um nome que agrada em unanimidade o conselho também pesou para a indefinição na troca de comando da mineradora.

Junto a isso, alguns dos desafios que o novo dirigente da Vale vai enfrentar é em relação ao minério de ferro, que devido às incertezas quanto à demanda chinesa tem enfrentado sucessivas quedas de meados do ano passado para cá.

Segundo Renato Nobile, analista e gestor da Buena Vista Capital, isso tem pressionado negativamente as ações da mineradora e as incertezas sobre o comando da companhia soam como um risco adicional. “O preço da ação está bem depreciado por conta disso [queda do minério de ferro] e a questão da sucessão tem se tornado um problema que também está intensificando esse movimento de desconfiança e na pressão do preço do papel VALE3.”

3. Quem seria o presidente da Vale ideal para o mercado?

Na avaliação de Nobile, a extensão do mandato de Bartolomeo à frente da Vale foi mais para “tapar buraco”, a fim de resolver no curto prazo essa demanda, sobretudo devido às pressões do governo. “Foi uma decisão que dividiu o conselho e mesmo não sendo a melhor solução, acaba resolvendo pontualmente e postergando o problema.”

Entre os nomes que têm despontado como possíveis futuros comandantes da Vale, além de Guido Mantega, está o do ex-presidente do Banco do Brasil (BBAS3), Paulo Caffarelli. Ele já foi conselheiro da mineradora e rumores apontam que a Previ é favorável ao nome. Outra pessoa que tem sido apontada no mercado é Luiz Henrique Guimarães, representante da Cosan (CSAN3) no conselho de administração da empresa. Em seu currículo há passagens como CEO da Cosan, Raízen e Comgás.

Mas enquanto a lista tríplice de indicados para suceder Bartolomeo na Vale não está definida, Nobile frisa que o cenário ideal para a mineradora — e para qualquer companhia — é a escolha de um dirigente focado no retorno econômico da companhia e consiga manter possíveis interferências do governo federal distante.

Já Serra, da Toro Investimentos, pontua que também é essencial a escolha de alguém com experiência em posições de liderança de empresas do porte da Vale. E que de preferência que já tenha atuado no ramo de mineração. “Também seria bem-vindo se o futuro CEO não tivesse forte participação ou vieses políticos e que também conseguisse apoio de ampla maioria do conselho.”

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