Repórter
Publicado em 29 de dezembro de 2025 às 17h19.
A startup britânica Builder.ai entrou em insolvência após vir à tona que sua suposta plataforma de inteligência artificial dependia, na prática, de cerca de 700 engenheiros na Índia escrevendo código manualmente, enquanto a empresa vendia o serviço como automação.
A companhia havia captado mais de US$ 445 milhões de investidores, entre eles a Microsoft, com a promessa de simplificar o desenvolvimento de aplicativos sem necessidade de programação.
Que fim teve o Fotolog? Rede social veio antes do Instagram, mas não sobreviveu à era dos appsCriada em 2015, a Builder.ai se apresentava como uma plataforma no-code, termo usado para ferramentas que permitem criar software sem escrever código, operada por uma assistente virtual chamada Natasha. Segundo o discurso comercial, o sistema montava aplicativos de forma automática, como se fossem peças de Lego.
Na prática, porém, solicitações de clientes eram encaminhadas para equipes humanas na Índia, que desenvolviam os aplicativos manualmente. O trabalho era entregue como se fosse resultado direto de automação, ocultando o uso intensivo de mão de obra especializada.
O número de cerca de 700 engenheiros foi estimado a partir de denúncias públicas, análises de especialistas do setor e relatos internos vazados. Esses materiais indicam que a escala da operação humana era incompatível com a narrativa de uma plataforma amplamente automatizada.
Entre 2021 e 2024, a Builder.ai teria superestimado suas vendas em até 300% ao apresentar resultados a investidores e credores. Em 2023, a gestora Viola Credit congelou US$ 37 milhões da empresa após o não pagamento de dívidas, aprofundando a crise financeira.
Desde então, a companhia entrou em processo formal de insolvência no Reino Unido, com a nomeação de um administrador judicial para tentar preservar ativos e avaliar responsabilidades. Autoridades dos Estados Unidos também abriram investigação e emitiram intimações para obtenção de documentos financeiros, políticas contábeis e listas de clientes.
A Builder.ai reconheceu a existência de inconsistências em suas vendas históricas, mas não detalhou a extensão das irregularidades nem comentou as acusações sobre a dependência de trabalho humano.
O caso se soma a outros episódios recentes que colocam em xeque promessas de automação total no setor de tecnologia. Em 2024, a Amazon anunciou o fim gradual do sistema Just Walk Out, tecnologia que prometia eliminar caixas em lojas físicas por meio de câmeras e sensores.
Investigações mostraram que o sistema dependia de mais de 1.000 funcionários, também na Índia, para revisar imagens e corrigir falhas nas compras. Diante dos custos e limitações, a empresa passou a adotar carrinhos com leitores de código de barras e caixas de autoatendimento.
Os episódios reforçam um padrão no mercado: soluções vendidas como altamente automatizadas frequentemente escondem operações manuais de alto custo, o que compromete escala, rentabilidade e credibilidade.