Inteligência Artificial

A pandemia fez o Vale do Silício abandonar São Francisco. A IA trouxe empresas de volta

Polo de tecnologia dos EUA perdeu destaque durante a pandemia para cidades como Austin, Los Angeles e Miami

Elon Musk é um dos líderes de tecnologia que estão visitando SF com mais frequência (Raymond Hall/GC Images)

Elon Musk é um dos líderes de tecnologia que estão visitando SF com mais frequência (Raymond Hall/GC Images)

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 19 de fevereiro de 2024 às 15h12.

Última atualização em 19 de fevereiro de 2024 às 15h25.

Nos últimos quatro anos, investidores e executivos do Vale do Silício apostaram em polos tecnológicos menores e mais baratos. A ascensão do home office, o aperto na economia americana e o elevado custo de vida em São Francisco foram algumas das razões que levaram à migração para cidades como Los Angeles e Miami.

Em 2024, essa tendência começa a se reverter, impulsionada pela ascensão da inteligência artificial.  Líderes de diversas empresas de tecnologia estão voltando para a cidade, seja ocasionalmente, seja de vez, e estão até se envolvendo na política para tornar a cidade mais segura. Ao mesmo tempo, investidores fazem pressão para que as empresas voltem para o tradicional polo de tecnologia. 

Os exemplos se multiplicam. A OpenAI, detentora do ChatGPT com valor de mercado avaliado em US$ 80 bilhões, alugou dois novos edifícios no bairro de Mission Bay, e o CEO Sam Altman mora em Russian Hill, também em São Francisco.

Menos de um ano após sua fundação em Miami, a startup de IA Delphi se deslocou para São Francisco após receber um aporte de US$ 2,7 milhões para uma plataforma de chatbots personalizados, que funcionam como "clones virtuais".

Elon Musk, que mudou a sede da Tesla para perto de Austin, tem voltado a passar dias em São Francisco para supervisionar o X, antigo Twitter, e a xAI, startup de inteligência artificial do bilionário.

Investidores do setor também estão fazendo o mesmo movimento: Erik Torenberg, que acelerou as startups Scale AI e Figma, mudou-se recentemente de Miami para São Francisco, onde trabalha no desenvolvimento de uma nova empresa de mídia.

“A realidade é que a capacidade intelectual está aqui”, disse Max Gazor, sócio geral da empresa de capital de risco CRV e membro do conselho da Airtable, ao Wall Street Journal. "Isso é especialmente verdadeiro para a IA, dada a velocidade da luz com que essas empresas são capazes de inovar".

Nem mesmo os brasileiros passaram imunes. A fintech Brex, por exemplo, retornou à Bay Area no final do ano passado. A dupla de brasileiros por trás do negócio fez uma peregrinação a Los Angeles, Nova York e Miami durante a pandemia, quando a avaliação da empresa saltou para US$ 12 milhões, e acabou voltando para São Francisco diante da realidade macroeconômica mais dura. No início de 2024, a Brex demitiu 20% de sua força de trabalho.

Ninguém como ela

Em meio ao boom global da inteligência artificial, há um outro fator que coloca São Francisco nos holofotes: a resiliência financeira da cidade nos Estados Unidos, mesmo com a queda da qualidade de vida local sendo um assunto frequente. 

Na mídia americana, São Francisco virou sinônimo de uma cidade zumbi dominada pelo crime – mesmo com Los Angeles, por exemplo, apresentando índices similares de criminalidade. Alguns casos, como o esfaqueamento do executivo de tecnologia Bob Lee, que foi atacado na rua, acabaram se tornando símbolo do que a cidade havia se tornado.

Mas em comparação com outras cidades, São Francisco resistiu à crise mais ampla do financiamento de startups. Em 2023, os aportes em empresas na Bay Area caíram 12%, atingindo US$ 63,4 bilhões. Já em Austin, no Texas, e em Los Angeles, o tombo foi muito maior, de 27% e 42%, respectivamente. Miami, que foi declarada como "capital da criptomoeda" pelo prefeito Francis Suarez durante a pandemia, viu o volume de investimento cair para US$ 2 milhões, uma queda de 70%, em 2023.

“Um ecossistema como o de SF, que foi construído ao longo dos últimos mais de 50 anos, não morre apenas por causa de uma pandemia de alguns anos”, disse Mo Koyfman, fundador da empresa de risco Shine Capital, ao Wall Street Journal. Para Koyfman, a proximidade com universidades como Stanford acaba sendo motivo para a permanência de empresas na Bay Area.

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