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Os Estados Unidos sabem quem são os alvos de seus drones?

A estimativa é que houve 522 ataques seletivos americanos no Paquistão, Iêmen e Somália desde setembro de 2011 e que mataram 3.852 pessoas


	Barack Obama: presidente ordenou a identificação de possíveis mudanças na política de drones
 (Nicholas Kamm/AFP)

Barack Obama: presidente ordenou a identificação de possíveis mudanças na política de drones (Nicholas Kamm/AFP)

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Da Redação

Publicado em 25 de abril de 2015 às 20h54.

Washington.- A revelação de que os Estados Unidos mataram "acidentalmente" dois reféns ocidentais em um ataque com aviões não tripulados (drones) renovou as críticas a esse programa secreto da CIA e a impressão de muitos analistas de que o governo não sabe com certeza quem morre em seus ataques aéreos.

O presidente Barack Obama ordenou a identificação de possíveis mudanças na política de drones por causa do incidente revelado nesta quinta-feira, que aconteceu durante uma operação contra Al Qaeda no Paquistão em janeiro e no qual morreram o refém americano Warren Weinstein e o italiano Giovanni Lo Porto.

Mas, para vários legisladores, pesquisadores e analistas, o fato ressalta a urgência de esclarecer e reforçar as normas de uso dos drones, que chegaram a seu apogeu durante a presidência de Obama e que executam ataques seletivos em virtude de informação de inteligência que, em algumas ocasiões, resultou ser incompleta ou errônea.

"Em cada uma das operações que reconheceu (o governo nesta quinta-feira), os Estados Unidos literalmente não sabiam quem estavam matando", disse Jameel Jaffer, analista legal da organização União de Liberdades Civis dos EUA (ACLU), em comunicado.

Para lançar um ataque aéreo sobre um alvo, a CIA requer uma "certeza quase completa" de que não se atingirá civis, e em muitos casos, quem opera drones a milhares de quilômetros de distância se baseia em uma estimativa imperfeita, sem saber realmente quem se encontra dentro do edifício contra o qual querem disparar.

A estimativa é que houve 522 ataques seletivos americanos no Paquistão, Iêmen e Somália desde setembro de 2011 e que mataram 3.852 pessoas, das quais 476 eram civis, ou seja, 12% do total.

Esses números foram proporcionados na quinta-feira por Micah Zenko, um pesquisador especializado no estudo da política de drones, e são uma média de diferentes estimativas divulgadas pelo Escritório de Jornalismo de Investigação, o projeto Long War Journal e o centro New America Foundation.

Além disso, segundo Zenko, oito cidadãos americanos morreram nos ataques com drones dos EUA, e só um deles era um alvo que a inteligência americana queria atacar: o imã Anwar al Awlaki, assassinado em 2011 no Iêmen.

Quanto às vítimas civis não americanas, o governo dos EUA "se nega a proporcionar informação" a respeito quando há denúncias "críveis" de grupos de direitos humanos, segundo escreveu Zenko nesta semana na revista "Foreign Policy".

A organização britânica Reprieve, que representou familiares de vítimas civis em casos de ataques com drones dos EUA, lembrou nesta quinta-feira que o governo de Obama "não se desculpou por seu erro" nos muitos outros casos de mortes de pessoas inocentes em ataques seletivos.

"A Casa Branca está criando um precedente perigoso: se você é ocidental e é atingido (por um drone) por acidente pediremos perdão, mas imporemos um muro de silêncio se você for um civil iemenita ou paquistanês que perdeu um ente querido", disse Alka Pradhan, um advogado da Reprieve, em comunicado.

Os relatórios independentes sobre as mortes de centenas de civis em ataques de drones mancharam a imagem dos EUA em parte do mundo árabe; e o Ministério das Relações Exteriores do Paquistão alertou na quinta-feira que a morte dos reféns é um novo lembrete do "risco e das consequências acidentais do uso dessa tecnologia".

Segundo Zenko, que é analista do centro de estudos Council of Foreign Relations, os EUA "têm uma obrigação com os civis assassinados pelos drones de lançar um estudo sobre as políticas de ataques letais seletivos, igual ao que fez um comitê do Senado sobre o programa de interrogatórios da CIA" em dezembro do ano passado.

A senadora democrata Dianne Feinstein, que liderou esse estudo sobre a CIA, disse na quinta-feira que quer revisar a política de drones para prevenir mortes de civis, uma ideia apoiada pelo republicano Richard Burr, presidente do Comitê de Inteligência.

Quanto à revisão ordenada nesta quinta-feira por Obama, uma das mudanças que poderia gerar seria a transferência do controle dos ataques com drones da CIA ao Pentágono, segundo observadores.

No entanto, não há indicações claras de que o Pentágono possa corrigir alguns dos erros da CIA, já que ambos se apoiam na mesma informação de inteligência.

Dentro dos Estados Unidos, a polêmica sobre os drones só surgiu, timidamente, nas poucas vezes em que a vítima foi um civil americano e, segundo uma pesquisa divulgada em 2014 pelo Pew Center, 52% dos cidadãos do país apoia o uso de aviões não tripulados contra o terrorismo.

Esse respaldo, unido à aceitação generalizada da política no Congresso dos EUA e ao uso crescente dos drones na luta contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria, torna improvável que Obama freie o que se transformou em um pilar de sua estratégia contra o terrorismo.

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