Sede da ONU em Nova Yorque - Bandeira das nações Unidas Foto: Leandro Fonseca data: 22/09/2024 (Leandro Fonseca/Exame)
Redação Exame
Publicado em 8 de dezembro de 2025 às 13h35.
A Organização das Nações Unidas (ONU) criticou nesta segunda-feira, 8, a “apatia” global diante do sofrimento humano ao apresentar sua campanha humanitária para 2026, que será limitada em razão dos cortes na ajuda externa promovidos por diversos países.
“Estamos em um período de brutalidade, impunidade e indiferença”, declarou Tom Fletcher, subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários e coordenador de Ajuda de Emergência.
O representante britânico afirmou ter presenciado em 2025 “a ferocidade e a intensidade dos assassinatos, o completo desprezo pelo direito internacional, os níveis horríveis de violência sexual”.
Segundo a organização, apesar da gravidade da crise, a ONU arrecadou no ano passado apenas US$ 12 bilhões (R$ 65 bilhões) dos US$ 45 bilhões (R$ 245 bilhões) solicitados — o pior resultado em uma década. O montante permitiu atender 98 milhões de pessoas, 25 milhões a menos que no ano anterior.
“É um período em que as regras estão em retrocesso, em que a estrutura da coexistência está sob ataque constante, em que nossos instintos de sobrevivência foram entorpecidos pela distração e corroídos pela apatia”, afirmou Fletcher.
Para 2026, a ONU apresentou um plano mínimo para arrecadar ao menos US$ 23 bilhões (R$ 125 bilhões) e prestar assistência a 87 milhões de pessoas em regiões consideradas as mais perigosas do mundo, como a Faixa de Gaza, a Ucrânia, o Sudão, o Haiti e Mianmar.
A meta ideal da organização é alcançar US$ 33 bilhões (R$ 180 bilhões) para ajudar 135 milhões de pessoas, mas a própria ONU reconhece que atingir esse objetivo será difícil após os cortes na ajuda externa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Segundo Fletcher, o orçamento reduzido obrigou a ONU a tomar decisões “muito difíceis”. Ele disse esperar que Washington reconheça as reformas feitas para aumentar a eficiência da ajuda humanitária e volte a “renovar o compromisso” com a assistência internacional.
As Nações Unidas estimam que 240 milhões de pessoas, em zonas de conflito, afetadas por epidemias, desastres naturais e mudanças climáticas, necessitem de ajuda de emergência.
De acordo com dados da ONU, os Estados Unidos seguem como o principal doador humanitário do mundo, mas o volume caiu de forma acentuada em 2025, para US$ 2,7 bilhões (R$ 14 bilhões), ante US$ 11 bilhões (R$ 60 bilhões) em 2024.
Entre as prioridades para 2026 estão Gaza e a Cisjordânia. A ONU solicita US$ 4,1 bilhões (R$ 22 bilhões) para os territórios palestinos, com o objetivo de atender três milhões de pessoas.
O Sudão também figura entre os casos mais urgentes. Em meio à guerra civil que deslocou milhões de habitantes, a organização pretende arrecadar US$ 2,9 bilhões (R$ 15 bilhões) para assistir 20 milhões de pessoas no país.
Caso a arrecadação fique novamente aquém do necessário, a ONU planeja ampliar a mobilização e recorrer à sociedade civil, ao setor empresarial e à população em geral. Para Fletcher, parte da resistência vem da desinformação, que leva muitas pessoas a acreditar, de forma equivocada, que seus impostos são destinados integralmente à ajuda externa.
“Estamos pedindo pouco mais de 1% do que o mundo gasta atualmente com armamentos e defesa”, disse.
“Não estou pedindo que as pessoas escolham entre um hospital no Brooklyn e um hospital em Kandahar, estou pedindo ao mundo que gaste menos com defesa e mais com ajuda humanitária”, completou.
*Com informações da AFP