Repórter
Publicado em 10 de dezembro de 2025 às 07h35.
O Projeto de Lei da Dosimetria, aprovado na madrugada desta quarta-feira, 9, pela Câmara dos Deputados, agora depende de duas etapas para que suas mudanças comecem a valer: a votação no Senado e a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A proposta altera regras de cálculo e progressão de penas em crimes contra o Estado Democrático de Direito e pode reduzir significativamente o tempo de prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Se aprovado pelos senadores e sancionado por Lula, o texto poderá cortar em mais da metade o período de reclusão de Bolsonaro, atualmente fixado em 27 anos e 3 meses pelo Supremo Tribunal Federal (STF).No cenário projetado pelo relator Paulinho da Força (Solidariedade-SP), Bolsonaro poderia cumprir apenas 2 anos e 4 meses em regime fechado — menos da metade dos 5 anos e 11 meses hoje previstos antes da progressão para o semiaberto.
O projeto foi encaminhado para o Senado Federal logo após sua aprovação na Câmara, por 291 votos a 148. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), afirmou que tentará votar a proposta ainda em 2025. No entanto, o avanço enfrenta resistências de bancadas importantes como a do PSD e do MDB.
O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Otto Alencar (PSD-BA), já sinalizou que o texto deve ser discutido presencialmente e sem “atropelos”. A análise da proposta ocorrerá em um ambiente de forte polarização, com parte da oposição pressionando por aprovação imediata e governistas tentando barrar ou modificar o conteúdo.
Caso o Senado aprove o projeto sem alterações, ele seguirá diretamente para a sanção ou veto do presidente Lula. Se houver modificações no texto, ele precisará retornar à Câmara para nova votação.
A proposta prevê mudanças que beneficiariam diretamente Bolsonaro e outros condenados:
A votação do projeto foi articulada por partidos do Centrão com apoio do PL, e contou com aval direto de Jair Bolsonaro. “Bolsonaro nos autorizou a avançar na redução das penas. Foi o acordo possível”, declarou o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder da legenda na Câmara.
A base do governo se queixou de ter sido atropelada e tentou, sem sucesso, adiar a votação. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), negou pressões externas e defendeu que a matéria estava “madura” para votação.
Além de Bolsonaro, o PL da Dosimetria beneficiaria réus dos atos de 8 de janeiro. Figuras como Débora do Batom, Fátima de Tubarão e Antônio Cláudio Alves Ferreira poderiam ter suas penas reduzidas para menos de quatro anos, o que permitiria progressão de regime e até liberdade antecipada, a depender da análise individual de cada caso.
Entre ministros do STF, a leitura é de que o projeto, embora polêmico, não invade prerrogativas da Corte, já que a revisão das penas continuará dependendo de decisões judiciais.
A nova legislação seria uma espécie de “válvula de escape” para reduzir a pressão por uma anistia ampla, rejeitada pela maioria dos ministros.*Com informações do O Globo