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Unicoin: projeto de 'moeda digital global' levanta suspeitas; entenda

Projeto teria sido apresentado durante evento do FMI e promete seguir normas divulgadas por órgão para o segmento cripto

Projeto de moeda digital global despertou suspeitas entre investidores (Reprodução/Reprodução)

Projeto de moeda digital global despertou suspeitas entre investidores (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 17 de abril de 2023 às 16h25.

Última atualização em 17 de abril de 2023 às 17h01.

Uma suposta proposta de criação da Unicoin, uma moeda digital de banco central (CBDC) que busca se tornar a nova referência global para a realização de trocas e movimentações entre países, repercutiu no mercado cripto e na imprensa e despertou um misto de interesse e de suspeita, com alguns integrantes do segmento alertando para um possível novo golpe.

As informações sobre o projeto foram divulgadas pela Autoridade Monetária para Moedas Digitais (DCMA, na sigla em inglês), uma organização que afirma ser especializada no tema de moedas digitais, mas que nunca havia sido citada anteriormente em trabalhos acadêmicos ou produções jornalísticas sobre o assunto.

Em um comunicado divulgado à imprensa, a entidade disse que teria apresentado a proposta durante um evento do Fundo Monetário Internacional (FMI). A informação acabou gerando confusão no mercado, com muitas pessoas compartilhando a notícia como se o projeto fosse da entidade global, o que não é o caso. Além disso, a EXAME não encontrou informações no site do FMI sobre a participação da DCMA no evento, algo que também foi confirmado separadamente pelo Portal do Bitcoin.

Segundo os idealizadores da Unicoin, a ideia seria ter uma CBDC internacional que conseguisse reforçar a soberania de bancos centrais nacionais e seguir as recomendações do FMI para os criptoativos. Por isso, a Unicoin seria legalmente uma commodity que poderia ser usada como dinheiro e em transações como uma moeda digital legal. Ao mesmo tempo, ela funcionaria como uma CBDC, atrelada a bancos centrais para garantir a conformidade com regulações e "proteger a integridade financeira do sistema bancário internacional".

A moeda digital teria uma carteira digital própria que poderia ser atrelada a códigos do SWIFT - o sistema internacional de transações financeiras - e a contas bancárias, mas com "trilhos" próprios para a realização dessas operacionais internacionais, buscando reduzir custos e processar as movimentações "de forma instantânea".

"Essa visão expressa pelo FMI é a solução exata que o DCMA está entregando aos bancos centrais em todo o mundo", alega o diretor-executivo da DCMA, Darrell Hubbard. Em poucos dias, o anúncio foi compartilhado por diversos veículos de imprensa especializada no segmento de criptomoedas, apesar da falta de detalhes sobre o projeto.

Hubbard se apresenta como um fundador da DCMA desde agosto de 2018, e alega ter participado de projetos envolvendo moedas digitais com os bancos centrais da Zona do Euro, China e Coreia do Sul. Segundo os responsáveis pelo projeto, o FMI não apóia oficialmente a Unicoin, mas está revisando seu projeto e realiza encontros semanais com a equipe da DCMA.

Hubbard disse ainda que a moeda digital "não está tentando perturbar o sistema monetário internacional. Na verdade, ela o fortalece ao ajudar o FMI a cumprir seu mandato declarado de proporcionar estabilidade econômica e financeira a seus estados membros. A Unicoin é um divisor de águas na forma como os pagamentos transfronteiriços são transacionados e atenua a depreciação sazonal e sistêmica da moeda local".

Em resposta a um usuário no LinkedIn, Hubbard afirmou que a DCMA foi convidada pelo FMI para participar do evento e apresentar uma versão beta da moeda digital. Os responsáveis pelo projeto teriam, então, "aproveitado a oportunidade" e "acelerado" o desenvolvimento da Unicoin. Ele prometeu ainda que compartilhará mais notícias sobre o projeto no futuro.

Golpe com criptomoeda?

A falta de detalhes sobre o projeto e a falta de um comunicado oficial do FMI sobre o tema deixaram os investidores em alerta. Até pela relativa facilidade de criar novas criptomoedas, o setor cripto enfrenta diariamente diversos golpes que buscam atrair investidores desavisados e roubar seus recursos.

Recentemente, especialistas também criticaram a popularidade em torno do CryptoGPT, uma suposta solução que usa a tecnologia blockchain para dar controle aos usuários sobre seus dados usados em treinamentos de inteligência artificial, recebendo em troca uma recompensa. O token do projeto chegou a subir 12% em um único dia, mas um especialista fez um alerta de que o projeto pode não ser tão sólido assim.

A EXAME entrou em contato com o FMI para confirmar a veracidade das informações divulgadas pela DCMA sobre a Unicoin. O órgão não esclareceu se a DCMA foi convidada ou não para participar do evento e se o anúncio ocorreu nela, mas destacou que "o FMI não tem envolvimento com a DCMA ou o Unicoin".

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