Startup brasileira usa cripto para simplificar pagamentos internacionais e capta R$ 4 milhões
BRLA Digital concluiu rodada de investimento que teve participação de ex-head de criptoativos do SoftBank
Repórter do Future of Money
Publicado em 31 de janeiro de 2024 às 15h14.
Última atualização em 31 de janeiro de 2024 às 15h43.
Os pagamentos e transações transfronteiriços ainda são uma grande dor de cabeça para as pessoas e para as empresas, com uma combinação de custos altos e um longo tempo de processamento. No entanto, diversas iniciativas surgiram no mundo cripto nos últimos anos para tentar resolver esse problema. É o caso da BRLA Digital, uma startup criada no Brasil em 2023.
Recentemente, a startupconcluiu uma rodada de captação de investimento pré-seed que totalizou R$ 4 milhões. Entre os investidores que participaram da rodada está Dave Wang, ex-diretor de cripto do SoftBank, uma multinacional japonesa que se tornou um dos mais relevantes agentes de venture capital do Brasil nos últimos anos e é focada na área de tecnologia.
Em entrevista à EXAME, Leandro Noel, CSO da BRLA Digital, explica que, antes da rodada, a startup estava usando capital dos sócios para custear suas operações. Agora, a ideia é usar os recursos obtidos para "ter mais capacidade, aumentar a probabilidade de sucesso". Ao mesmo tempo, a rodada também "ajuda no reputacional atrelado, já que é uma chancela de investidores que avaliariam o negócio e decidiram fazer a alocação de capital".
O principal produto da empresa já está em funcionamento, focado em atrair empresas como clientes. A expectativa de Noel é que a rodada ajude a "acelerar a jornada de crescimento", atraindo mais clientes e interesse para o projeto.
Pagamentos internacionais e cripto
Noel explica que a BRLA Digital surgiu da percepção de um contexto de atração de empresas estrangeiras para o Brasil que tinham como grande problema a gestão de fluxos de capital para dentro e fora do país. Do diagnóstico, surgiu a ideia de "fornecer uma forma simples das empresas de fora poderem receber pagamentos".
Para isso, a BRLA funciona como um "canal indireto para acessar ao sistema bancário". Matheus Moura, CEO da startup, afirma à EXAME que a tecnologia blockchain — que está por trás das criptomoedas — apareceu como uma solução viável e com potencial para o problema.
"O blockchain permita fazer transações instantâneas entre tokens. Quando compara com sistemas tradicionais bancários e crossborder, você consegue fazer transações em nível muito rápido e consegue reduzir o custo de transação. Hoje existem blockchains bastante amigáveis para a área de pagamentos, chega a ser 99% mais barato que o SWIFT", comenta, se referindo à principal plataforma de pagamentos entre países atualmente.
Há, ainda, vantagens em áreas como transparência, segurança, garantia da operação e verificabilidade. Para a realização das transferências em si, a BRLA usa stablecoins , criptomoedas pareadas a outras moedas. No caso do dólar, a startup optou por usar a USDC e a USDT, as maiores stablecoins do mercado, Já para o real, a empresa decidiu criar uma stablecoin própria, o BRLA token.
O motivo, explica Noel, é que houve a percepção da necessidade de criar um token mais adequado aos padrões de segurança e funcionamento definidos pela empresa. Na prática, os sistemas permitem o uso de "qualquer stablecoin" disponível.
Desde o lançamento da startup, em junho de 2023, a empresa somou R$ 5 milhões movimentados entre seus primeiros clientes. Para 2024, a meta é mais ambiciosa: chegar a R$ 100 milhões por mês até o fim do ano.
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Próximos passos
Questionado sobre a regulação em torno do uso das stablecoins para as operações transfronteiriças, Noel explica que, hoje, a empresa se enquadra no Marco Legal das Criptomoedas , que entrou em vigor em 2023. Com isso, ela opera como uma prestadora de serviços com ativos virtuais (VASP, em inglês). Há a expectativa, ainda, pelas regras específicas para o setor que deverão ser criadas pelo Banco Central ao longo deste ano .
Com a rodada concluída, o executivo destaca que a BRLA pretende ter uma alocação maior de capital para tecnologia e desenvolvimento de novos produtos, citando uma demanda alta para produtos de investimento, acesso direto ao dólar e inclusão de novas moedas.
"Essa é a visão mais de médio prazo, no curto, é mais trabalhar em integrar novos clientes. Temos 20 fechados, dos quais 14 estão em integração. A expectativa é ter essa curva de crescimento ao longo dos próximos meses. A gente quer viabilizar o acesso à economia tokenizada, de forma mais descomplicada. Ainda tem uma barreira técnica muito forte para as empresas", comenta.
Já o CEO da startup avalia que mesmo o lançamento das moedas digitais de bancos centrais ( CBDCs , na sigla em inglês), como o Drex no Brasil, não seria uma ameaça para as operações da BRLA. "Cada CBDC vai ser lançada em um blockchain, e eles são ilhas, precisa de pontes para que eles se comuniquem entre si. Essa coordenação precisa ser criada para ter esse tipo de transação", opina.
"Eu acredito que essa vai ser uma realidade nos próximos dez anos, pelo motivo de ser muito mais eficiente e para a transação, mas não vamos esperar isso acontecer e ficar de mãos atadas até lá, por isso criamos a infraestrutura própria. A estrutura pode se conectar a outras stablecoins, e seria possível fazer essa conexão com CBDCs. Podemos ser a ponte inicial, privada, e eventualmente usar essa ponte pública, mas com a tecnologia já desenvolvida", explica.
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