Web 3 é conhecida como a nova fase da internet (ipopba/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 7 de agosto de 2022 às 10h24.
Cada dia mais integrada às nossas rotinas, a internet está sob um contínuo processo de transformação. Desde a popularização dos computadores domésticos, a forma como utilizamos e interagimos com a rede mudou significativamente; e a chegada de uma nova fase que oferece mais transparência e segurança de dados deve remodelar a tecnologia e a economia como as conhecemos.
Na prática, a terceira fase da internet, também conhecida como Web3, é gerida por meio de blockchains, que são plataformas de acesso público que armazenam os dados e transações dos usuários. Por meio delas, a Web3 promete descentralizar a rede e limitar a influência das grandes empresas de tecnologia, permitindo que as pessoas possam escolher em qual centro de dados suas informações serão armazenadas. Em suma, o objetivo dos desenvolvedores da Web3 é retomar o protocolo aberto e descentralizado da internet.
Quando apresentada ao grande público, a World Wide Web permitia pouca interação e as informações ainda eram centralizadas - ou seja, as pessoas tinham acesso, mas não produziam conteúdos. Isso mudou com a revolução da web 2.0, que permitiu a interação entre os usuários a partir de blogs, chats e redes sociais. Apesar da inovação, essa fase trouxe consigo uma problemática: os usuários fornecem suas informações pessoais para personalizar as experiências de uso, mas ficam suscetíveis ao vazamento ou venda de seus dados.
Essa centralização da internet na forma em que a utilizamos hoje foi exemplificada em um levantamento da Synergy Research Group. Segundo a pesquisa, Amazon, Google e Microsoft controlam mais de 73% do mercado de armazenamento de dados em nuvem.
A revolução proposta pela Web3 tem potencial para alterar os mais variados aspectos do nosso cotidiano. A expansão do metaverso, por exemplo, deve influenciar a forma como nos entretemos e interagimos, o que já tem sido observado e, em certo nível, capitalizado pelas empresas. Outro setor que deve ser fortemente impactado pela nova fase da internet é o financeiro.
Um dos conceitos fundamentais da Web3 é a tokenização. Esse processo consiste no registro digital de dados em uma rede blockchain. Em outras palavras, as informações são criptografadas e armazenadas em um banco de dados que pode ser verificado publicamente, mas não pode ser alterado sem que haja um novo registro.
A partir desse processo surgiram novas modalidades de administrar negócios e de adquirir bens e serviços. Como exemplo, podemos citar as populares NFTs, ou token não fungíveis na sigla em inglês, que representam a posse específica e individual de obras de arte e objetos raros que são comercializados por meio de criptomoedas - outra vertente fundamental da Web3. O mercado cripto, tal qual a nova fase da internet, é baseado no registro público de dados mutuamente intercambiáveis entre os usuários.
Outro exemplo são as DAOs, ou organizações autônomas descentralizadas. Essas entidades funcionam da seguinte forma: a) os fundadores criam uma criptomoeda, chamada de token de governança; b) esses ativos digitais são distribuídos entre os usuários, apoiadores e outros stakeholders da organização; c) cada token corresponde a uma quantidade definida de poder de voto dentro da DAO, e podem ser comprados ou vendidos conforme a vontade do proprietário.
Todos os exemplos citados acima tem como premissa o descarte de figuras intermediadoras da economia, como bancos e outras organizações financeiras. Esse tipo de transação, também conhecido como "peer-to-peer" (P2P), é baseado na troca de recursos e informações entre os usuários de igual para igual.
As mudanças trazidas pela nova fase da rede devem se consolidar lentamente. A transição da web 1.0 para a web 2.0, por exemplo, levou anos para acontecer. Ainda estamos em processo de construção, mas a popularização das criptomoedas e dos NFTs já indica um terreno fértil para o crescimento da Web3.
Segundo dados do Web3 Report, elaborado pela Chainalysis, mais de US$ 40 bilhões em criptomoedas foram enviados para contratos inteligentes associados a coleções de NFTs em 2021. Neste ano, esse número está perto de ser superado - até o dia 15 de abril foram movimentados mais de US$ 30 bilhões.
A consolidação desse mercado, entretanto, está sujeita a testes e falhas. Os desenvolvedores estão olhando cuidadosamente para projetos que fracassaram, a fim de não repetir seus erros. Podemos citar, por exemplo, o colapso da stablecoin UST-Terra, que perdeu sua paridade com o dólar, extinguindo cerca de US$ 60 bilhões de carteiras digitais em um único dia, de acordo com um levantamento da Bloomberg.
Apesar de casos como este, é evidente que as mudanças provocadas pela descentralização vieram para ficar. Sabendo disso, as bigtechs têm criado grupos de trabalho e aplicado milhões em recursos para se preparem para o cenário que se instala - o que pode ser exemplificado pela mudança no nome do Facebook para ‘Meta’, em alusão à nova fase do grupo com foco no metaverso.
Além das empresas privadas, entidades públicas também têm se preparado para a consolidação Web3. Recentemente, o Banco Central do Brasil (BC) anunciou que o Real Digital, moeda virtual emitida pela autarquia, tem grande potencial para funcionalidades de DeF, ou Finanças Descentralizadas - como são conhecidas as transações que descartam intermediários financeiros centrais, como corretoras, exchanges e bancos.
Segundo o BC, os ativos digitais poderão ser programados e liberados mediante regras estabelecidas em contratos inteligentes, uma ferramenta da descentralização da economia que descarta a mediação de operações financeiras por terceiros. Ainda em testes, o Real Digital deve ser lançado em 2023.
Com isso, é perceptível que as empresas e governos que se prepararem para essa nova fase da tecnologia e da economia estarão melhor posicionadas na corrida por esse mercado que demonstra, cada dia mais, seu poder disruptivo.
*Brianna Kernan é LATAM Sales Lead na Chainalysis, plataforma de dados e pesquisa especializada em blockchain e criptoativos.
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