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defi decentralized finance (Imaginima/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 27 de dezembro de 2025 às 10h00.
Por muitos anos, o mercado cripto operou a partir de um gatilho quase automático: a valorização dos ativos. Preços em alta atraíam usuários, capital e atenção; movimentos de queda produziam o efeito inverso. Em 2025, essa lógica começou a perder força. O setor entrou em uma fase mais madura, na qual o crescimento sustentado passou a depender menos de preço e mais de solução de problemas reais.
A evolução em 2025 não é mais sobre a próxima memecoin ou a alta estratosférica de uma criptomoeda sem lastro em utilidade. É sobre a infraestrutura tecnológica que está sendo construída e a sua capacidade de desintermediar, otimizar e tokenizar setores inteiros da economia global. A criptoeconomia está, finalmente, deixando a adolescência da especulação para entrar na fase adulta da aplicação prática.
Historicamente, o termo "criptomoeda" era sinônimo de reserva de valor digital ou meio de troca descentralizado. Em 2025, essa definição passou a ser estreita demais. Os projetos de maior impacto já não estão focados em criar moedas, mas sim em desenvolver tokens de utilidade que servem como combustível ou direito de acesso a sistemas complexos e eficientes.
● Engajamento e Entretenimento (Fan Tokens): No setor esportivo e de entretenimento, os Fan Tokens são um exemplo claro de utilidade. Eles não são criados primariamente para especulação, mas sim para conceder aos detentores direitos reais de participação, como votar e participar em decisões de clubes (cor da camisa, música do estádio), acessar experiências exclusivas (meet & greets) e obter descontos. Aqui, o token é uma ferramenta de fidelização e governança, transformando fãs em stakeholders ativos.
● Infraestrutura de Dados e Computação: Plataformas descentralizadas de armazenamento em nuvem (Web3 Storage) e redes de computação de alto desempenho estão oferecendo alternativas mais seguras, transparentes e, em muitos casos, mais acessíveis que os gigantes centralizados do Vale do Silício. O token, nesse contexto, é usado para pagar o armazenamento ou a capacidade computacional, criando um mercado ponto a ponto para recursos digitais.
● Identidade e Privacidade: A ascensão da Identidade Soberana Descentralizada (DID) está pavimentando o caminho para um novo modelo de propriedade de dados. Em vez de depender de terceiros (Google, Meta) para gerenciar nossa identidade digital, frameworks baseados em blockchain dão o controle total ao usuário, permitindo interações digitais seguras e privadas, essenciais para o futuro do e-commerce e serviços financeiros.
● Supply Chain e Logística: A rastreabilidade é um desafio crônico, especialmente em setores como alimentos e farmacêuticos. Blockchains privados e permissionados estão sendo implementadas para criar trilhas de auditoria imutáveis, garantindo a proveniência e a autenticidade de produtos, reduzindo fraudes e otimizando a logística global.
Porém, talvez o caso de uso mais promissor de 2025 seja a integração de Ativos do Mundo Real (RWA - Real World Assets) com a infraestrutura descentralizada. Essa tendência conecta o capital digital on-chain com o valor tangível do mundo físico, democratizando o acesso e, crucialmente, criando liquidez onde ela não existia, ou era demasiada cara e burocrática para acessar.
Em vez de focar na "digitalização" do ativo em si, a inovação pode estar em usar protocolos DeFi para prover liquidez para um mercado (no esporte chamamos de SportFi). Pense, por exemplo, nos direitos de transmissão esportiva, um dos principais ativos dos clubes, atualmente são negociados em longos contratos e com pagamentos tardios ou fracionados que não permitem ao clube acessar fácil e rapidamente aquele valor para investir de forma mais imediata de gerando claros benefícios (como a contratação de um atleta que pode ser decisivo para melhorar o desempenho do clube e trazer outros ganhos financeiros).
Dessa forma, novos protocolos, como o Decentral na Chiliz Chain, estão sendo desenvolvidos para abastecer o mercado com liquidez através de pools de stablecoins. Que permitem que mais atores possam prover liquidez para este mercado e recebam retornos reais, participando de forma mais ativa de toda a economia que gira em torno desse ativo e de todo o setor esportivo.
Porém, para que essa infraestrutura floresça, dois pilares são cruciais: a experiência do usuário (UX) e a conformidade regulatória.
Muitos projetos de primeira geração falharam em criar interfaces intuitivas, exigindo do usuário um conhecimento técnico desnecessário. Em 2025, a infraestrutura está se tornando "invisível": o usuário interage com um serviço digital aprimorado, sem necessariamente saber que está utilizando um blockchain.
Paralelamente, o arcabouço regulatório finalmente está ganhando forma em grandes jurisdições. A clareza regulatória — especialmente sobre a natureza desses instrumentos de liquidez — é o que dá a segurança jurídica necessária para que grandes corporações e fundos de investimento aloquem capital de forma massiva nesses projetos de utilidade real.
O mercado cripto de 2025 é definido pela utilidade, e não mais pela especulação. O capital de risco e o talento estão migrando dos projetos "de hype" para as equipes que estão construindo a espinha dorsal da Web3 — a internet descentralizada e orientada por dados.
O investidor deve olhar além da valorização diária e focar na métrica de adoção: quantos usuários estão interagindo com a plataforma? Quanto valor real está sendo processado? Em que medida o projeto está sendo integrado à infraestrutura de um setor tradicional e transformando sua lógica de interações (financeiras ou não)?
O verdadeiro valor da criptoeconomia não está na volatilidade, mas sim em sua capacidade de construir sistemas mais justos, eficientes e transparentes. Em 2025, estamos testemunhando o início de uma economia digital onde a tecnologia blockchain deixa de ser uma promessa para se tornar o motor invisível da inovação real.
*Marina Fagali é Head de Comunicação & Corporate Affairs da Chiliz.
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