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O papel das stablecoins na dinamização do mercado

Stablecoins já são uma realidade e seus casos de uso vêm crescendo velozmente, promovendo competição de mercado, segurança e ferramentas e melhorando a experiência com inovação e tecnologia

 (Chesnot/Getty Images)

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Gabriel Rubinsteinn

Publicado em 5 de março de 2022 às 10h04.

Última atualização em 11 de março de 2022 às 11h15.

Por Henrique Teixeira*

As stablecoins surgiram alguns anos após o lançamento dos criptoativos mais antigos do mercado como bitcoin (BTC), ether (ETH) e ripple (XRP). Porém, os casos de uso das stablecoins evoluíram rapidamente e já é possível identificar vários projetos que foram implementados com sucesso, com volumes que não param de crescer vertiginosamente.

A mais famosa e provavelmente a mais antiga de todas foi o tether (USDT), criada em 2014, por uma empresa de Hong Kong, que já apresenta capitalização de mercado de mais de US$ 78 bilhões, sendo o terceiro maior market cap somente atrás do Bitcoin (US$ 797 bilhões) e do Ether (US$ 340 bilhões).

Em linhas gerais, podemos dizer que a capitalização desta stablecoin, especificamente, é de aproximadamente 10% do Bitcoin atualmente e vem crescendo. Na quinta posição do mercado, temos a USDC, com mais de US$ 52 bilhões, criado por um consórcio liderado pela empresa americana Circle, e que também vem apresentando crescimento agressivo, com a movimentação crescendo mais de sete vezes entre 2020 e 2021, de US$ 4 bilhões para US$ 28 bilhões, e praticamente dobrando de volume nesses primeiros meses de 2022.

Como pudemos ver acima, dentre os top cinco ativos digitais por capitalização, temos duas stablecoins. Se olharmos para o ranking das 20 maiores capitalizações, existem nada menos do que cinco stablecoins. Sendo assim, fica evidente ressaltar a sua importância no mundo cripto, pois sua utilidade tem sido comprovada pelos próprios usuários.

Entretanto, fica o questionamento: por que os volumes estão crescendo e para que servem se no final do dia não valorizam frente às moedas fiduciárias nas quais são referências? A resposta se traduz em casos de uso, que estão se multiplicando de diversas formas para os diferentes tokens.

Como um exemplo, pode ser uma alternativa para um argentino buscar proteção frente ao dólar, comprando USDC para se proteger frente a desvalorização de sua moeda local, o peso. Outro exemplo, entre os nossos vizinhos da América Latina, seria um venezuelano querendo se proteger da inflação e comprando USDT para garantir proteção inflacionária, o que na linguagem do mercado chama-se hedge de inflação.

Já é de conhecimento público que o Banco Central do Brasil vem estudando o lançamento de uma Central Bank Digital Currency (CBDC, Moedas Digitais do Banco Central, na tradução em português) em Real, pois certamente enxergou valor nesta tecnologia e acredita que existem casos de uso para a utilização do "Real virtual". Os primeiros testes com usuários devem acontecer já no próximo ano, mas a implementação deve ocorrer de forma gradual.

Um dos objetivos da autoridade monetária, certamente, seria dar mais acesso ao Real e torná-lo uma moeda de conversão mais livre, modernizando o processo do fechamento de câmbio, algo há muito pleiteado pelo mercado. Podemos pensar em vários casos de uso, dos mais elaborados, como o de empresas de comércio exterior que poderiam se beneficiar desta tecnologia e competir com bancos e corretoras em busca de menores tarifas, maior agilidade e serviço. Ou ainda casos mais simples, com pessoas físicas, como o de um estrangeiro que está enviando seu filho para estudar no Brasil e precisa enviar recursos para pagar as despesas mensais.

No Brasil já existem stablecoins de Real há alguns anos. A pioneira foi o Brazilian Digital Token (BRZ), desde 2019, emitido pela empresa Transfero. Em 2020, surgiu o cBRL (adquirido pelo BRZ recentemente), e, em 2022, foi emitido a mais nova stablecoin de Real, o cReal, emitido pelo fundação americana CELO, que já possui experiência com stablecoins, devido a também possuir em seu portfólio: o cUSD e o cEUR.

Em síntese, é possível afirmar que as stablecoins já são uma realidade, é uma inovação que veio para ficar, e seus casos de uso vêm crescendo velozmente. Porém, é um instrumento que precisa ser bem avaliado pelo usuário, que deve identificar se existe uma boa combinação entre a proposta do token e seus objetivos - sejam eles proteção cambial, inflacionária ou transferência entre pessoas, por exemplo.

Se os usuários continuarem a utilizá-los, com certeza os bancos centrais ficarão mais interessados em lançar suas próprias moedas digitais e desenvolver seus mercados locais. Com os casos de uso se multiplicando, o usuário final também é beneficiado com mais competição de mercado, segurança e ferramentas, melhorando a experiência com inovação e tecnologia.

*Henrique Teixeira é country manager do Grupo Ripio no Brasil.

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