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Inteligência artificial está "reduzindo custo para resolver problemas", diz professor de Harvard

Em entrevista exclusiva para a EXAME, Karim Lakhani falou sobre os desafios para a implementação de IAs generativas por empresas

Inteligência artificial tem ganhado espaço nas empresas (Reprodução/Reprodução)

Inteligência artificial tem ganhado espaço nas empresas (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 12 de outubro de 2023 às 14h35.

Última atualização em 16 de outubro de 2023 às 13h43.

O lançamento do ChatGPT fez com que, de uma hora para outra, a inteligência artificial generativa dominasse as discussões sobre tendências e mudanças para os próximos anos. E essa popularidade faz sentido, já que a nova tecnologia reduz os custos para resolver problemas e também para a própria cognição humana.

É o que avalia Karim Lakhani, professor da Harvard Business School e um dos principais especialistas do mundo em gestão de tecnologia, inovação, transformação digital e inteligência artificial, em entrevista exclusiva para a EXAME. Na visão do pesquisador, que estará no Brasil para participar do evento HSM+, as IAs generativas são "tecnologias de fundação", ou seja, têm o potencial para mudar complemente determinados aspectos da vida humana e abrem margem para múltiplas aplicações.

É um caso semelhante ao da internet, que "mudou a forma de nos comunicamos a partir dos computadores". Na prática, a internet "levou o custo da transmissão de informação para zero", o que abriu margem para a criação de todo um mundo digital que, hoje, "é quase como algo que sempre existiu para nós".

Já no caso da inteligência artificial generativa, o que está sendo reduzido é o "custo da cognição, da resolução de problemas. isso é um choque para todo mundo, porque pode ser usada para igualar níveis de performance em diferentes áreas. É uma democratização. A IA generativa vai afetar principalmente os trabalhadores da área do conhecimento", argumenta o professor.

Para Lakhani, a grande popularidade em torno da IA generativa surgiu do fato dela já contar com diferentes casos de uso, e com vantagens e aplicações mais aparentes que, por exemplo, a tecnologia blockchain. Apesar dela também ser uma tecnologia de fundação, o blockchain tem demorado mais tempo para se disseminar e ser incorporado.

"Já a IA generativa não está demorando, com vários casos de uso surgindo. O hype mudou. Claro que tem problemas, os vieses por exemplo. Mas eu comparo à criação do automóvel: os primeiros eram horríveis, não funcionavam. Com o tempo, essa tecnologia mudou o mundo. Acho que é o mesmo caso, a inteligência artificial generativa acabou de ser inventada, e agora precisamos torná-la mais eficiente, criar infraestrutura, reduzir vieses, isso demora", lembra o pesquisador.

Vantagens da IA generativa

Na visão de Lakhani, a vantagem de usar ferramentas como o ChatGPT é a capacidade de realizar tarefas "mais rapidamente e de forma mais eficiente", resultando em um "impulso na performance". E, pelas pesquisas do professor, esse uso é ainda mais vantajoso para quem já possui habilidades acima da média na área em que trabalha.

Ao mesmo tempo, o professor afirma que "ainda não sabemos no que a IA generativa é boa ou é ruim. Para matemática, por exemplo, ela comete muitos erros. Na análise de entrevistas, foi onde teve a pior performance. Tem que ter cuidado, porque nem os criadores sabem no que elas são boas ou ruins".

"Mas o maior benefício é para as pessoas criativas, que agora podem impulsionar sua performance se souberem usar, e as pessoas que talvez tenham sido marginalizadas e possam ser capazes de pegar e desenvolver e usar novas habilidades. Na prática, são ferramentas que encurtam curvas de aprendizado", explica o pesquisador.

Pelas pesquisas, o uso de inteligência artificial generativa trouxe os melhores resultados quando precisou criar novas ideias ou ranquear informações. Já o pior desempenho foi em tarefas de análise e identificação de erros. Por isso, Lakhani aposta em um uso mais intenso nas indústrias "que demandam a resolução de problemas".

Ao mesmo tempo, o professor avalia que a adoção por parte dos trabalhadores ainda está aquém do ideal. Pesquisas feitas pela equipe de Lakhani mostram que, em geral, 90% dos trabalhadores dizem que já usaram inteligências artificiais generativas, e cerca de 70% acreditam que elas vão mudar seus trabalhos nos próximos três anos. Mas apenas 10% dizem que já as utilizam todo dia.

"Existe um gap entre saber e fazer entre os profissionais. Eles testam, sabem que é importante, mas não usam. Se acha que [a IA] vai mudar seu trabalho em 3 anos, precisa começar a usar hoje. Muitas pessoas não sabem usar, mas é uma questão de prática, tem que ir testando para conseguir usar e entender. A IA generativa é um ajudante cognitivo, ajuda a pensar, resolver problemas, ser criativo, então precisamos a aprender a 'andar de bicicleta' de novo com essas ferramentas", argumenta.

Para Lakhani, a resistência a essa tecnologia envolve, por um lado, a visão de que ela ajudará pouco no dia a dia. Por outro lado, há um medo de ser mal visto se não souber usá-la, além do receio de que ela poderá "roubar" seu emprego.

"A preocupação que eu tenho é com quem é 'alérgico' a essa tecnologia. Já temos casos de algumas pessoas que nunca aprenderam a usar a internet, não quiseram usar tecnologia no começo e agora estão parados, não sabem usar quase nada, e pode ocorrer o mesmo agora. E isso começa a te afetar no dia a dia. É preciso superar esse gap, o medo e dar tempo para aprender", diz.

Mesmo assim, o professor de Havard acredita que é sim provável que alguns empregos deixem de existir. É o caso de áreas como a agricultura, em que "máquinas estão cada vez mais substituindo humanos no trabalho. Muitos trabalhos são transformados, outros deixam de existir. E muita gente pensa que seu setor está imune a isso, e não é o caso. Indidivualmente, isso significa que você tem que investir em conhecer e usar esses sistemas, entender o que pode fazer com eles. O medo faz sentido, mas a resposta não pode ser a negação".

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