Future of Money

Henrique Meirelles: criptomoedas são "caminho do futuro" e "modernização importante"

Em entrevista à EXAME, ex-ministro da Fazenda destacou importância do Real Digital e da regulamentação para expansão do setor

Henrique Meirelles se voltou para o mundo das criptomoedas recentemente (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Henrique Meirelles se voltou para o mundo das criptomoedas recentemente (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 21 de junho de 2023 às 09h00.

Ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles é um dos mais conhecidos nomes do mercado brasileiro, mas desde 2022 o economista e político passou a se dedicar para um segmento distante dos ambientes mais tradicionais que ocupou: as criptomoedas. Em entrevista exclusiva para a EXAME, ele contou porque se interessou na área e quais as perspectivas para seu futuro, em especial no Brasil.

Meirelles vai realizar na próxima quinta-feira, 22, a palestra de abertura no Digital Finance Brasil, evento que faz parte do Blockchain SP + SciBiz, que ocorre no campus da capital da Universidade de São Paulo (USP) para debater temas como tokenização, criptomoedas, regulamentação do setor e os diferentes casos de uso para essa tecnologia.

Além disso, ele ocupa atualmente o cargo de membro do conselho consultivo da corretora de criptomoedas Binance, que é a maior do mundo e também atua no Brasil. Logo após o anúncio da sua contratação, em setembro de 2022, ele destacou que os criptoativos trazem ganhos econômicos e de eficiência ao sistema financeiro e que seriam, portanto, o seu futuro.

Meses depois, e mesmo após o setor enfrentar desafios como falências de grandes empresas e ações de reguladores contra outras companhias, Meirelles mantém essa visão. Ele explica à EXAME que decidiu entrar no setor porque "conclui que isso era um caminho do futuro, uma modernização importante da economia, dos meios de pagamentos, então me interessei pelo assunto".

Ele destaca que as principais vantagens das criptomoedas são "a simplificação dos meios de pagamento, trazendo maior rapidez e uma diminuição de custos nas operações". Por isso, o ex-ministro acredita que a adoção das criptomoedas "será uma decorrência natural, um avanço importante", mas desde que o setor "seja devidamente regulamentado".

Futuro e desafios

Na visão do ex-ministro, um elemento que é importante para o desenvolvimento do setor no Brasil é "adicionar pessoas que tenham experiência em mercados regulamentados e que tenham tido a oportunidade de trabalhar também com regulações emitidas pelos bancos centrais do mundo todo". Ele acredita que trazer esses profissionais gera "maior maturidade e segurança para o setor".

Ao mesmo tempo, ele projeto que o lançamento do Real Digital, a versão digital da moeda brasileira e que estará integrada a uma rede blockchain, será "um passo muito importante" para a adoção das criptomoedas. O motivo é que o projeto do Banco Central "institucionaliza a moeda digital através de uma moeda criada por um próprio banco central. Então é importante, é algo que vai de fato trazer uma contribuição relevante para o mercado".

"A partir daí, existe a necessidade de fazer uma regulamentação desse mercado visando exatamente evitar os problemas que tem acontecido em outros países. Seriam os próximos passos", explica Meirelles. Atualmente, o Brasil já possui uma lei específica para o setor - o Marco Legal das Criptomoedas - mas ainda há a necessidade de implementação da regulamentação infralegal pelo Banco Central e de definir temas em aberto, como a segregação patrimonial.

Mesmo assim, o economista acredita que "a grande diferença é que o Brasil tem há muito tempo um mercado financeiro extremamente regulamentado, organizado e com controle muito firme do Banco Central e CVM. Tudo isso faz com que seja possível dar maior segurança para a expansão das criptomoedas". Ele afirma que o cenário é diferente nos Estados Unidos, mais afetado por falências como da corretora FTX e onde, recentemente, a SEC abriu processos contra as exchanges Coinbase e Binance.

"Nos Estados Unidos e outros países, os mercados são pouco regulados, com mais liberdade, inclusive na área bancária", diz Meirelles. Mas isso também traz possíveis riscos, como as falências de bancos regionais norte-americanos observados neste primeiro semestre. 'Esse tipo de ambiente gera potenciais problemas, e é o que está acontecendo agora".

Na visão de Meirelles, a resposta da SEC contra o setor de criptomoedas observada nas últimas semanas é uma "reação excessiva", mas esperada, e consequência de ter deixado o mercado com mais liberdade e poucas regras específicas, abrindo margem para ações que, agora, o regulador acredita serem irregulares.

Por outro lado, "o Brasil sempre regulou bem, e o Banco Central já está dando mostras que está adotando a mesma atitude em relação ao mercado digital, a CVM também. Já entra regulado, baseados em lei, o que é exatamente uma maneira de evitar problemas. É uma regulamentação que estabelece restrições, mas acaba sendo mais amigável por permitir desenvolvimento".

Esse cenário faz com que o país esteja bem posicionado para ter um avanço na adoção de criptomoedas no curto prazo, avalia Meirelles. Além disso, ele acredita que há uma combinação favorável para que o setor aproveite uma maior atração de capital estrangeiro para o Brasil. "Na medida em que o Brasil se estabilize e volte a crescer, e com atitude firme do Banco Central no controle da inflação e com uma certa valorização da moeda, começa a criar um ambiente mais favorável para investimento externo, o que inclui o mercado digital", afirma.

yt thumbnail

Siga o Future of Money nas redes sociais: Instagram | Twitter | YouTube Telegram | Tik Tok

Acompanhe tudo sobre:Henrique MeirellesCriptomoedasCriptoativosDrex (Real Digital)Banco Central

Mais de Future of Money

Stablecoins: o dólar digital sem fronteiras?

ETFs de cripto: entendendo a tese de investimento em ativos digitais para 2025

Fundador do LinkedIn diz que bitcoin valerá US$ 200 mil em 2025 e que investiu no ativo em 2013

"Drex é o início da tokenização do sistema bancário", diz Campos Neto em despedida do BC