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ETFs de cripto atraem milhões no 1º semestre, enquanto fundos de ações e multimercado amargam perdas

Gestora Hashdex vê base de clientes e captação crescerem no início de 2024, mesmo com cenário negativo para outros fundos

Hashdex é uma gestora brasileira líder na área de ETFs de cripto (Reprodução/Reprodução)

Hashdex é uma gestora brasileira líder na área de ETFs de cripto (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 30 de julho de 2024 às 17h46.

Última atualização em 30 de julho de 2024 às 17h57.

Os fundos de ações e multimercado fecharam o primeiro semestre deste ano com perdas de R$ 111 milhões e R$ 81 bilhões, respectivamente, pintando um cenário negativo para o setor. Mas um segmento específico foi na contramão das perdas: os ETFs de criptomoedas.

Dados compartilhados com exclusividade com a EXAME pela gestora Hashdex apontam que o primeiro semestre de 2024 foi, na verdade, o melhor para a empresa desde o lançamento de seus primeiros ETFs de cripto em 2021, quando foi pioneira ao obter as primeiras autorizações da CVM para lançar fundos de bitcoin e ether e, posteriormente, multiativos.

A gestora fechou o último semestre captando R$ 665 milhões. E, para Samir Kerbage, CIO global da Hashdex, o número "mostra claramente que o ciclo mudou, o pior já passou, após um período de pouca captação quando o mercado cripto caiu".

Não à toa, no mesmo período a Hashdex teve aumento de 30.354 investidores no mercado brasileiro, chegando agora a mais de 243 mil investidores. Já a nível global, o total de ativos sob gestão (AuM, na sigla em inglês) foi de R$ 2,04 bilhões em junho de 2023 para R$ 4,71 bilhões em junho de 2024, refletindo a valorização das criptomoedas no período, a expansão no mercado brasileiro e o lançamento de seu ETF de bitcoin nos Estados Unidos.

ETFs de cripto no Brasil

Para Kerbage, a diferença entre os ETFs de criptomoedas e os outros tipos de fundos no Brasil "dizem mais do momento que vive a nossa economia do que necessariamente do que um rouba monte [migração de investimentos dos fundos para os ETFs de cripto]".

"O momento é de juros muito altos e isso dificulta o caso de ativos de risco. Para fazer uma alocação com esse nível de taxa de juro e essa oferta de produtos de renda fixa tem de valer a pena, precisa buscar produtos que entregam um retorno esperado bem maior que você consegue no mercado de ações. Por isso, em períodos de juros altos, tem captação boa na renda fixa e em produtos de altíssimo risco, mas muito ruim no meio, e é um pouco disso que a gente está vendo", explica.

Na avaliação dele, a tendência é que, "conforme vermos a taxa de juro diminuindo, o ambiente macro melhorando, tende a ver melhora no mercado de ações mas sem necessariamente perda em cripto. A maior parte do patrimônio dos brasileiros está em renda fixa, então o fluxo é sair dela e entrar nesses fundos".

No caso da Hashdex, o executivo avalia que a atração dos investimentos se dá pela "posição de liderança" no mercado brasileiro, mas também mostra "como esse segmento de cripto tem se diferenciado de outros fundos, como multimercado e de ações, que estão em uma crise de  saques, enquanto os de cripto têm visto essa atração".

"Temos visto um crescimento de interesse em geral, mas em especial no de investidores institucionais, que agora têm um peso bem maior, principalmente depois da aprovação dos ETFs nos EUA, que deu mais clareza e colocou [cripto] no radar desses investidores", comenta.

Futuro dos ETFs de cripto

Kerbage afirma que a demanda atual vinda de institucionais brasileiros é "inédita", mas que ainda tende a aumentar: "Está no começo de um processo, agora com a CVM 175 e o marco regulatório de cripto há mais conforto para os institucionais considerarem a classe. Não diria que a barreira foi ultrapassada, mas está bem melhor e tem avançado, com family offices, gestores, fundos de pensão".

Um ponto importante para o segmento, ressalta, é a iminente revisão de regras de funcionamento de fundos de pensão, que pode liberar os aportes nos ETFs de cripto, destravando capital. No caso da Hashdex, a gestora "tem tido um número recorde de conversas e algumas já tem se refletido em investimentos pelos institucionais".

No momento, Kerbage avalia que os investidores brasileiros nos ETFs de criptomoedas se dividem em três categorias."Tem os pessoa física, que acessam diretamente os ETFs, e tem a tendência de atuar mais como traders, com especulação, e vão entrando e saindo do produto com mais facilidade e veem [o bitcoin] do ponto de especulativo e com alocações maiores que a gente recomenda até", diz.

"No caso dos assessores, family offices e pensão, a abordagem é completamente diferente. Veem como investimento em tecnologia de longo prazo, que está ainda nos primeiros dias, e veem como algo geracional de longo prazo, com prazo longo, readequação frequente", afirma.

Por fim, há o grupo que "tem o bitcoin como maior ativo de cripto, então a tese de reserva de valor digital emergente ganhou bastante notoriedade com o lançamento dos ETFs de bitcoin. E agora esperamos um ganho de relevância da segunda tese principal, com os ETFs de ether, em relação aos contratos inteligentes".

Da parte da Hashdex, Kerbage avalia que a empresa "lançou muitos produtos" nos últimos anos e hoje conta com uma "grande cesta, bem extensa" no Brasil. Por isso, o momento é de "chamar a atenção para ela". Mesmo assim, a gestora promete continuar lançando novos produtos, inclusive ainda em 2024, a partir da demanda dos clientes.

"É interessante notar que o modelo que a gente desenvolveu aqui e até o modelo operacional para adquirir os cripotoativos foi replicado nos EUA. Conseguimos levar para lá e foi o que basicamente todos os outros players adotaram. O Brasil foi pioneiro nos ETFs de cripto e com isso conseguimos estabelecer um padrão global para os ETFs de cripto. Temos muitas lições que foram aproveitadas, a nossa experiência", destaca.

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