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El Salvador quer "esconder problemas" com bitcoin, diz especialista

Governo Bukele volta a investir reservas do país em bitcoin com compra de US$ 15 milhões, mas, para especialistas, movimento não ajuda mercado cripto nem população salvadorenha

El Salvador já soma mais de 70 milhões de dólares em bitcoin (NurPhoto/Getty Images)

El Salvador já soma mais de 70 milhões de dólares em bitcoin (NurPhoto/Getty Images)

Na última segunda-feira, 9, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, anunciou a compra de mais 500 unidades de bitcoin (BTC), por um valor de US$ 15,4 milhões, aumentando ainda mais a exposição do país ao ativo digital. Atualmente, já são cerca de US$ 71 milhões em reservas alocadas na maior criptomoeda do mundo. Analistas ouvidos pela EXAME, entretanto, condenaram o movimento.

(Mynt/Divulgação)

Bukele, como de costume, usou as redes sociais para anunciar a compra mais recente de bitcoin, no mesmo dia em que a criptomoeda começou a intensificar a queda para os níveis mais baixos em mais de um ano: “El Salvador acabou de comprar na baixa! 500 moedas com preço médio aproximado de US$ 30.744”, escreveu.

De acordo com Vicente Braga, sócio do FAS Advogados na área bancário, meios de pagamento e fintechs, "El Salvador tem uma posição muito favorável aos criptoativos em geral e ao bitcoin em específico. Nesse sentido, esse movimento de compra apenas ressalta a aposta do país em ter o bitcoin como uma de suas moedas oficiais. É natural que um país que está adotando a estratégia de se posicionar como um grande amigo dos criptoativos busque ter algumas reservas em bitcoin".

No entanto, o COO da corretora cripto Brasil Bitcoin, Vinicius Bitzer, acredita que a mais recente aquisição de bitcoin pelo governo salvadorenho tem efeitos negativos: "Serve apenas para mascarar um problema econômico interno muito maior, pois, embora a adoção tenha atraído muita visibilidade ao país, ao analisar o impacto real da adoção do bitcoin [em El Salvador], vemos que a estratégia tomada por Bukele foi claramente equivocada".

"O Estado deveria ter investido primeiramente na educação e estabilidade financeira dos cidadãos, afinal por mais que o bitcoin seja promissor, sua usabilidade no dia a dia ainda é baixa e torná-lo uma moeda de curso forçado o torna tão — ou mais — prejudicial que as moedas fiduciárias, devido à sua grande volatilidade, o que pode prejudicar ainda mais as classes mais vulneráveis", completou o executivo.

El Salvador se tornou conhecido após ser o primeiro país a adotar o bitcoin como moeda de curso legal, em setembro de 2021. Contanto, o presidente é alvo de duras críticas por especialistas que afirmam que se trata de uma operação de alto risco, na qual quem pagará o custo do experimento será a população.

O governo já fez sucessivas compras após a sua primeira de 400 moedas, compradas na época por US$ 21 milhões. No dia 21 de dezembro de 2021, o país brincou com a numerologia e comprou 21 unidades da moeda, marcando o dia 21 do último ano de número 21 do século 21, ajudando a levá-lo até o estoque atual de mais de 2.300 unidades.

Sobre a última compra, de 500 BTCs,  Felipe Medeiros, analista e sócio da Quantzed Criptos, explica porquê a movimentação teve pouco impacto no mercado: “Trata-se de uma quantidade pequena, perto do alto volume visto nos últimos dias. Além disso, não é um fato novo, que traria otimismo para o mercado” comentou.

Apesar de Bukele se orgulhar de comprar a moeda em momentos de baixa, o analista também aponta que o país, assim como a maior parte dos investidores, ainda perde dinheiro com suas operações. “O preço médio comprado por El Salvador é de US$ 43.865, o que representa uma perda de mais de 30% do valor investido”, explicou Felipe.

Apesar dos pontos negativos, a adoção da criptomoeda pela população tem sido vista como um sucesso. Segundo um estudo do Escritório Nacional de Pesquisa Econômica (NBER), 20% das empresas do país já aceitam cripto como forma de pagamento. Para comparação, 25% desses estabelecimentos aceitam cartões de crédito e débito.

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