Real segue entre moedas mais desvalorizadas e bitcoin pode servir como proteção
A queda nos números da economia tende a provocar uma desvalorização ainda mais acentuada da moeda brasileira; bitcoin pode ser uma forma de proteção
Gabriel Rubinsteinn
Publicado em 9 de março de 2021 às 10h53.
O ano de 2020 foi de turbulência econômica histórica. Choques no mercado afetaram o comércio, a inflação, o emprego e os orçamentos nacionais — desencadeando uma recessão global sem precedentes, da qual nem mesmo economias estáveis puderam escapar.
Assim como a falta de uma estratégia global organizada de contenção de vírus prolongou os impactos da pandemia de Covid-19 na saúde pública, a estratégia e a incapacidade de manter uma política monetária coordenada contribuíram para a instabilidade das moedas em todo o mundo.
Os países economicamente vulneráveis, muitos dos quais enfrentavam estresse cambial antes de 2020, estão entre os mais afetados. Entre eles Brasil, Venezuela, África do Sul, alguns outros países africanos, Turquia e até os EUA, que emitiram e ainda estão emitindo uma quantidade enorme de papel moeda para dar liquidez ao seu mercado interno.
Os piores desempenhos este ano foram o venezuelano bolívar soberano e o dólar zimbabuano (também chamado de Zimdollar), e ambos os países viram uma desvalorização acumulada no ano de mais de 70% em relação ao dólar, segundo dados da FXSSI.
Na maioria dos casos, moedas nacionais se desvalorizam devido à desaceleração econômica do país, o que causa um déficit no balanço de pagamentos e o aumento da taxa de inflação.
Isso pode ser uma consequência de diferentes desacelerações econômicas, como ações de guerra, queda do PIB, queda dos preços das commodities que constituem uma grande parte das exportações, queda do poder de compra, aperto nas condições de crédito, instabilidade política, etc.
A desvalorização da moeda está frequentemente associada a uma política monetária mal organizada e relacionada a decisões de controles fiscais.
Real brasileiro
O real está entre as moedas mais desvalorizadas em 2020, tendo caído quase 30% no acumulado do ano. O Brasil depende muito de investimentos estrangeiros e, em 2020, muitos investidores migraram para mercados menos arriscados, ou mais rentáveis — como o bitcoin.
Os gastos internos têm sido altos no Brasil, o que ajudou a sustentar alguns aspectos da economia, mas alimentou a preocupação de que o governo pudesse ultrapassar seu teto de gastos, o que vem sendo evidenciado pela escalada de preços dos alimentos.
O governo divulgou planos para criar um sistema adicional de previdência social, mas o plano em si contém um teto de gastos que seria ultrapassado nos termos atuais. Ao mesmo tempo, o Ministério da Economia tem sido inflexível quanto à manutenção do auxílio emergencial em relação ao cumprimento das regras fiscais.
O potencial para uma crise orçamentária e a profunda divisão nas declarações públicas de diferentes setores do governo e do banco central assustaram os investidores. Isso causou depreciação, apesar de alguns ganhos temporários ao longo do mês de janeiro, em resposta às notícias econômicas positivas, incluindo a confiança em uma recuperação do setor industrial do Brasil e o anúncio de um acordo comercial bilateral com os Estados Unidos que ainda não se concretizou.
A balança comercial tem sido sustentada pelo agronegócio, que é o setor que mais cresceu em 2020. Ainda assim, sua relação direta com o real mostra que as commodities não conseguirão, sozinhas, manter a balança comercial no positivo.
O gráfico acima mostra a correlação do câmbio BRL/USD, que segue em queda, enquanto os contratos futuros do agronegócio seguem puxando a balança comercial, segundo informes do Bank of America (BofA)
Com o PIB em queda, tendo retraído 4,8%, apenas a agropecuária cresceu: a indústria recuou 3,5% e os serviços, 4,5%, segundo o IBGE. O ritmo de recuperação desacelerou no 4º trimestre e a economia encerrou o ano no mesmo patamar do início de 2019. Se ainda houvesse necessidade de lastro para dar valor ao papel moeda, o real estaria sendo lastreado unicamente pelas commodities agrícolas.
O bitcoin como moeda de proteção
Diante de um cenário tão adverso para a economia e para moeda corrente, seja aqui no Brasil, seja fora em países tão ou mais frágeis, o bitcoin é, segundo especialistas, uma boa opção para criar proteção monetária contra a inflação e a desvalorização monetária.
Somente no anopassado, em relação ao real, o bitcoin teve uma valorização de mais de 400%, saindo da faixa dos 29 mil reais em janeiro de 2020 para mais de 150 mil reais em dezembro, chegando a 230 mil reais em janeiro deste ano. Enquanto isso, o real se desvalorizou, frente ao dólar, em cerca de 30%.
A expectativa da inflação para o ano de 2021 é de algo entre 5 a 6%, o que provocará mais desvalorização da moeda, o que sugere que a população deve procurar alternativas para se proteger e manter seu poder de compra.
O bitcoin, devido a sua emissão limitada, descentralização e outras características econômicas relevantes, já destacadas por instituições como o Citigroup, o JPMorgan e os CEOs da BlackRock e da Pantera Capital, mesmo com os seus riscos, pode definitivamente ser uma opção.
No curso "Decifrando as Criptomoedas" da EXAME Academy, Nicholas Sacchi, head de criptoativos da Exame, mergulha no universo de criptoativos, com o objetivo de desmistificar e trazer clareza sobre o funcionamento.Confira.