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O cliente é quem vai mostrar o verdadeiro caso de uso do Real Digital, diz Banco BV

Em entrevista exclusiva à EXAME, executivos contam os planos do banco para tokenização e digitalização da economia

Digital generated image of blue and yellow glowing data on black background. (Getty Images/Reprodução)

Digital generated image of blue and yellow glowing data on black background. (Getty Images/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 23 de junho de 2023 às 18h05.

Última atualização em 17 de julho de 2023 às 11h22.

Criado em 1988, o Banco BV não é uma fintech ou um banco digital, mas isso não significa que a instituição não tenha a inovação no radar. E um dos assuntos mais importantes para o setor bancário nos últimos anos é a digitalização da economia, como se adaptar a ela e criar novos produtos, serviços e estratégias para clientes. Nesse cenário, somam-se novidades como o Pix, o Open Finance e o Real Digital.

Em entrevista exclusiva à EXAME, executivos do BV destacam que o banco tem tido uma participação ativa no desenvolvimento de todas essas ferramentas. No caso da tokenização e do Real Digital, Jimmy Lui, head de inovação e Open Finance, ressalta que o banco "está trabalhando dentro do que o arcabouçou regulatório permite. Temos um programa de inovação aberta maduro, buscando complementaridade com fintechs".

Ele avalia que o tema é "relativamente novo" para os grandes bancos, o que demanda "educação, estar próxima da tecnologia, trabalhar com fintechs". Exatamente por buscar essa proximidade, o BV participa do desenvolvimento do Real Digital desde a sua primeira etapa, o Lift Challenge. Agora, sua proposta foi uma das 16 selecionadas para participar dos testes do piloto da versão digital da moeda brasileira.

Real Digital

Lui explica que a grande mudança do Real Digital é que, na prática, "o dinheiro vai virar um software, e quando o dinheiro vira software de verdade, consegue se integrar com outros softwares, como os de posse, e consegue fazer coisas mais inteligentes, que hoje não são possíveis". A lógica é semelhante ao do surgimento de qualquer nova tecnologia: trazer soluções mais simples para os desafios e processos do cotidiano.

O executivo vê a moeda digital brasileira como uma "primeira camada", que vai dar espaço para entender como explorar sua tecnologia e gerar "outras camadas de integração em que consegue fazer transferências por um app, de carro, casa, tudo de forma remota, sem precisar de cartório. É um dinheiro programável, conectado, mas com potencial de muito mais inovação".

Nesse sentido, ele lembra que o Real Digital — com previsão de lançamento para o público no fim de 2024 — ainda está sendo concebido, e por isso é cedo para dizer com certeza quais serão os seus principais casos de uso. "Podemos ter um monte de ideia, mas é o cliente quem diz o caso de uso de verdade. O Real Digital é mais uma tecnologia base, a beleza dele vai ser na segunda, terceira onda".

"O mundo cripto nasceu completamente fora do mainstream, então quando traz para o mainstream, os grandes bancos têm um potencial enorme de distribuição, educação do cliente, criação, aumenta muito. É um conhecimento acumulado das possibilidades, dos produtos, ao juntar essas novas tecnologias. Você tem um belo acelerador para aumentar a adesão dos clientes", avalia.

É uma visão semelhante à de João Gianvecchio, gerente de inovação e de ativos tokenizados do BV. Ele diz que os principais casos de uso em estudo no momento tem como foco "tirar fricção de modelos": "Hoje, quando faz a compra e venda de um veículo, tem de fazer a transferência em algum lugar, depois do recurso e aí sim pega o automóvel. Com o Real Digital, quando faz a transação, pode programar tanto o bem quanto o dinheiro. É algo atômico. Ao vender, o registro já vai estar uma versão tokenizada, então programa o documento do veículo para ser transferido uma vez que a transferência do dinheiro ocorre".

O exemplo de Gianvecchio mostra como a moeda digital pode mudar diversas operações do dia a dia. Além de trazer a programabilidade, o executivo também cita uma eficiência e transparência maiores como grandes vantagens do Real Digital. "A partir do momento que o dinheiro passa a ser programável, você vai extrapolando os usos cada vez mais".

E isso, é claro, também vai impactar as operações dos bancos. No caso do BV, o gerente afirma que a instituição já vem "há um tempo" em uma jornada de "olhar no mundo de blockchain, smart contract, tokenização". "No ano passado, fizemos testes de tokenizar recebíveis de atacado e fazer a distribuição para uma whitelist. A tokenização de ativos ainda era uma grayzone, um ativo que ainda vai ser regulado", pontua.

"Nós vimos que é possível fazer, fragmentar recebível em pequenas partes, e isso gera acesso para vários tipos de investidor. Aumenta o acesso para os clientes", destaca Gianvecchio. Atualmente, o banco tem projetos em estudo envolvendo áreas como tokens não fungíveis (NFTs, na sigla em inglês) e contratos inteligentes. E eles vão se somar aos planos para o Real Digital.

Para o executivo do BV, o projeto do Banco Central vai ter "um impacto muito grande na vida das pessoas", e o Brasil pode sair na frente desse processo, já que, "de forma inédita, o BC, diferentemente de outros projetos regulatórios, está abrindo bastante a discussão antes de falar o que vai ser a regulamentação. Aí sim vai definir como trabalhar tudo isso. O impacto é gigantesco, o ponto é ver como esse quebra-cabeça vai ser integrado".

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Integração com o Open Finance?

O Real Digital faz parte da agenda de digitalização da economia proposta pelo Banco Central, que também inclui o Pix e o Open Finance. Entretanto, Gianveccio afirma que ainda é cedo para pensar nas integrações entre todas essas ferramentas: "A tese do Banco Central é gerar mais inclusão, ter produtos mais personalizados, fáceis, já que a população está se digitalizando mais. Mas como esse quebra-cabeça se junta é o grande porém".

Jimmy Lui vai na mesma linha, afirmando que ainda é cedo para falar de uma integração entre o Open Finance e a tokenização. E um dos principais motivos para isso é que o próprio Open Finance ainda não foi finalizado, e deve ter "pelo menos mais um ano de construção", com as empresas explorando e entendendo melhor como usar esse recurso.

"A indústria tinha algumas hipóteses sobre casos de uso, falavam de agregadores como primeiro caso, e na verdade, o BV vê que o maior benefício tem sido em crédito, usando dados como renda para melhorar o limite do cliente", explica Lui. Para ele, o Real Digital e o Open Finance são habilitadores, e não produtos em si, para outros produtos e serviços que surgirão posteriormente.

"Juntando habilitadores, você pode ter várias aplicações, modelos de negócio, produtos. Estamos criando toda uma infraestrutura de pagamento instantâneo, troca de informação, dinheiro programável, que é base para explosão de inovação no próximo ano. O que o cliente vai usar, e como, ainda está cedo para dizer", avalia.

"As pessoas gostam das teses, produtos finais, acha que não é o caso, é uma infraestrutura tecnológica super importante que vai replataformizar bastante da tecnologia que a gente conhece hoje. A palavra é integração. A hora que tudo estiver maduro, vai ser outra experiência", prevê o executivo do BV.

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