Após tokenizar R$ 200 milhões, empresa brasileira diz que setor "só está começando"
Em entrevista à EXAME, CEO da Vórtx QR Tokenizadora destacou potencial e desafios do segmento de tokenização no Brasil
Repórter do Future of Money
Publicado em 7 de setembro de 2023 às 11h00.
Última atualização em 8 de setembro de 2023 às 11h18.
Com mais de R$ 200 milhões em ativos tokenizados, a Vórtx QR Tokenizadora se tornou uma das líderes do segmento no Brasil. Entretanto, o CEO da empresa, Fernando Carvalho, acredita que o mercado de tokenização está "apenas começando". Em entrevista exclusiva à EXAME, o executivo, que assumiu a posição em maio deste ano, falou sobre o atual panorama do setor.
"É um setor que está só começando. A gente tem uma relevância de ativos tokenizados, o total em valor, muito incipiente. A participação de tokenização ainda é pequena, e precisa de gatilhos para que o mercado cresça de verdade e tenha uma adoção geral pela população. Um desses gatilhos é a regulação", defende o executivo.
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A relação com os reguladores têm sido um dos diferenciais da Vórtx QR. A empresa é, atualmente, uma das poucas que participa do Sandbox Regulatório da Comissão de Valores Mobiliários, a CVM , sobre o tema. Na visão de Carvalho, isso coloca a tokenizadora em uma "posição privilegiada", mas também tem exigido responsabilidade e proatividade da empresa para trabalhar essa questão.
Tokenização regulada
Atualmente, o CEO da Vórtx QR avalia que administradores e gestores têm tido muitas dúvidas sobre como fazer a tokenização e o que pode, ou não, ser tokenizado. Nesse sentido, "a regulação é o primeiro gatilho, e a adesão [da população] é o segundo. Para destravar o uso dos tokens, precisa ter uma maior participação, adesão dos investidores institucionais. O grande mercado está aí, é a grande oportunidade".
Carvalho ressalta que a tokenização - o registro de ativos tradicionais em blockchains - "facilita a criação de ambientes de negociação para pessoas físicas", com alto potencial de atração desse pública. Entretanto, "enquanto os institucionais não aderirem, fica uma curva de crescimento limitada". Ao mesmo tempo, ele afirma que as tokenizadoras ainda precisam fazer o "dever de casa" para melhorar as soluções tecnológicas para tokenização.
"O mercado ainda tem uma certa resistência, uma percepção de teste, por não ter encontrado um solução definitiva em termos de custo e escala", explica. Por isso, o CEO da Vórtx QR tem uma "visão positiva" sobre esse mercado, mas "com cautela". E reforça que uma etapa essencial para o crescimento da tokenização será regulamentação, no momento mais dependente da atuação da CVM.
"A CVM discute as possibilidades sobre o uso de blockchain, o que funciona ou não. Existe um entendimento de que, como o objetivo principal do uso da tecnologia é criar um mercado menos concentrado em termos de infraesturtura, você tem vantagens claras mas também alguns desafios. Seria um mercado menos complexo, mais barato, com menos participantes", comenta.
O potencial da tokenização também está atrelada ao fato de que "o mercado de capitais foi um dos que menos se desenvolveu em termos de tecnologia nos últimos 20 anos", argumenta o CEO. Isso significa que o impacto de tecnologias disruptivas foi menor nesse segmento: "A forma como emite uma debenture hoje é parecida com a de 20 anos atrás".
Nesse sentido, Carvalho vê um desejo da CVM de atuar de forma positiva, buscando uma "evolução do mercado da forma certa, mas com uma cautela para proteger o investidor, tendo uma velocidade inferior à da tecnologia para não travar esse desenvolvimento", o que ele avalia ser natural.
O futuro do setor
O CEO da Vórtx QR vê o Drex, versão digital do real, como outro elemento importante para a expansão desse segmento. Na visão de Carvalho, o Drex "vai aumentar a chance de usar toda a potencialidade da tecnologia blockchain, programando a parte de liquidação no contrato inteligente e automatizando mais uma parte do processo, que é importante".
"De forma geral, eu vejo o Drex como um acelerador no mercado de toeknização, uma rede de registro distribuído na parte regulada no mercado e um ambiente de liquidação legalmente reconhecido pelo Banco Central", destaca. "O Drex traz a possibilidade de substituir a liquidação que acontece hoje nos sistema financeiro. Hoje usamos reais virtuais. É uma nova funcionalidade que esse sistema atual não tem, que é conectar contratos inteligentes".
"Nesse aspecto, o Drex é revolucionário, porque efetivamente não precisa fazer uma movimentação de programação externa, consegue integrar diretamente nesse ambiente e automatizar. A última instância no uso de blockchain em tokenização é que o contrato substitua o ativo físico atual, mas até que isso aconteça tem muitos passos em termos de regulação, segurança, gestão de chave", comenta.
No momento, Carvalho avalia que o mercado começa a "sair do analógico" e caminhar para o mundo tokenizado, mas ainda mantendo intermediários centralizados. E o Drex deverá servir como um dos "degraus" nesse processo. "A gente está muito animado com relação ao futuro desse mercado. A gente tem uma participação precoce nesse futuro do mercado tokenizado e está buscando fazer os testes da melhor forma possível", destaca.
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