Maior parte das criptomoedas fechou agosto em queda (dulezidar/Getty Images)
Cointelegraph Brasil
Publicado em 1 de setembro de 2022 às 16h35.
Agosto chegou ao fim sob o impacto do discurso direto e agressivo de Jerome Powell, presidente do Banco Central dos EUA, no simpósio anual de Jackson Hole, reafirmando que o combate à inflação é a prioridade número 1 da autoridade monetária norte-americana.
Os mercados desabaram e o bitcoin praticamente devolveu todos os ganhos obtidos em julho, com uma desvalorização mensal de aproximadamente 14%. O ether sofreu menos perdas diante da iminência do The Merge – aproximadamente 5%.
A atualização marcada para ocorrer nos próximos dias vai concluir a transição da rede da segunda maior criptomoeda do mercado de um mecanismo de consenso baseado em Prova de Trabalho (PoW) para um algoritmo de Prova de Participação (PoS), e tem despertado grandes expectativas entre as entidades do mercado.
Com o recuo dos ativos que respondem por 60% do valor total do mercado, as criptomoedas viram sua capitalização total recuar em mais de US$ 100 bilhões ao longo de agosto, de acordo com dados do CoinMarketCap. Visto em retrospectiva, tudo indica que a alta de de julho foi um rali de alívio típico de ciclos de baixa.
Analistas ainda esperam que o Bitcoin consolide um novo fundo abaixo dos US$ 17.622 registrado em junho antes de empreender uma reversão de tendência definitiva. Neste momento, um novo ciclo de alta do mercado de criptomoedas parece algo distante.
Como resultado, apenas 11 criptomoedas do top 100 registraram desempenho mensal positivo no fechamento do mercado na quarta-feira, 31 de agosto.
O melhor desempenho mensal coube ao Nexo (NEXO), token nativo da plataforma centralizada de rendimentos e empréstimos de criptomoedas. A alta de 48% do NEXO em agosto foi em parte impulsionada pelo anúncio de que a empresa destinaria US$ 50 milhões adicionais para recompra do token no mercado à vista.
Com isso, a empresa deve manter sua política de “compra discricionária e periódica do seu próprio token nativo” no mercado. A Nexo passou incólume pelas crises de insolvência e liquidez motivada pelo colapso do ecossistema Terra Classic (LUNC) e pela falência do fundo de hedge e criptomoedas Three Arrows Capital.
Ambos os eventos foram devastadores para dois de seus principais concorrentes diretos, a Celsius (CEL) e a BlockFi. Enquanto a primeira entrou com um pedido de falência, a segunda recebeu recebeu uma linha de crédito de US$ 250 milhões da exchange FTX e, posteriormente fechou um novo acordo com a empresa, abrindo possibilidade de compra da BlockFi pela FTX a um preço variável de até US$ 240 milhões com base em gatilhos de performance.
A Nexo reiterou que a iniciativa de dispor US$ 50 milhões para compra do NEXO no mercado à vista é uma demonstração da boa saúde financeira da empresa. Antoni Trenchev, cofundador e sócio-diretor da Nexo, acrescentou ainda que a plataforma de empréstimos está trabalhando para injetar liquidez no ecossistema cripto e oferecer novos produtos para os investidores:
“A alocação de US$ 50 milhões adicionais ao nosso plano de recompra é resultado de nossa sólida posição de liquidez e da capacidade e prontidão da Nexo para estimular seus próprios produtos, token e comunidade, juntamente com suas iniciativas externas de injetar liquidez na indústria.”
Em segundo lugar, vem o Chiliz (CHZ). O token nativo da plataforma da Socios.com, empresa líder do setor de fan tokens esportivos, subiu 45,5% em agosto. E não foi apenas o CHZ que registrou valorização acima da média em agosto. Muitos dos fan tokens emitidos pela Socios.com também obtiveram valorizações substanciais, apesar da retração mais ampla do mercado.
Alguns analistas atribuíram a alta do CHZ à proximidade da Copa do Mundo do Qatar e ao início da temporada europeia 2022/2023. No entanto, tanto no caso do Chiliz quanto no dos demais fan tokens negociados atualmente no mercado, trata-se de um movimento majoritariamente especulativo, sem que haja fundamentos que realmente justifiquem tal alta neste momento.
Segundo Bruno Milanello, executivo de novos negócios do MB, qualquer evento que envolva clubes, ligas ou eventos vinculados aos fan tokens da Chiliz podem atuar como um catalisador para alta dos preços.
No entanto, esperar que determinados eventos, mesmo se tratando da Copa do Mundo, ou o desempenho dos clubes no âmbito esportivo possam ter um efeito sobre os mercados é um equívoco:
"Qualquer previsão nesse sentido é irresponsável. Eventos da magnitude de uma Copa do Mundo podem ter diversos efeitos positivos, negativos ou absolutamente nenhum efeito, porque os fan tokens não foram criadas com o propósito do retorno, muito embora ele possa ocorrer. Foram criados para engajamento. O desempenho esportivo ou financeiro de um determinado atleta, time, clube ou liga não tem nenhum efeito sobre os preços".
Em terceiro lugar, já com um desempenho bem inferior aos dois primeiros colocados da lista, vem a Cosmos (ATOM). De acordo com analistas, a valorização de 13,6% em um momento desfavorável do mercado se justifica sob a perspectiva de valorização do ativo no longo prazo.
Analistas da VanEck, um fundo multibilionário de gestão de ativos, acreditam que o preço do ATOM aumentará 160 vezes até 2030, chegando a US$ 140.
Além dos analistas da VanEck, Patrick Bush e Matthew Sigel citam o Inter-Blockchain Communication Protocol (IBC) da Cosmos como um catalisador de alta principalmente porque “blockchains separadas do Cosmos SDK podem abrir canais de comunicação para trocar dados, mensagens, tokens e outros ativos digitais."
De acordo com os analistas, “a arquitetura IBC permite que cada blockchain execute atividades em outra blockchain sem depender de um terceiro confiável”. E acrescentaram ainda:
“A tecnologia de comunicação não permissionada e sem necessidade de confiança da IBC resolve muitos dos problemas apresentados por soluções de ponte supostamente confiáveis que levaram a mais de US$ 1 bilhão em fundos roubados por meio de hacks.”
Em níveis mais imediatos, o ATOM vai ser utilizado como um ativo colateral primário em três novas stablecoins que serão lançadas em breve no ecossistema da Cosmos.
O quarto ativo de melhor desempenho mensal em agosto foi o ANKR, com uma alta de 10,9%. O ANKR é um provedor de infraestrutura de blockchain descentralizado que opera uma série de nós distribuídos globalmente em mais de 50 redes que operam sob o algoritmo de Prova-de-Participação (PoS). O protocolo também fornece um conjunto completo de ferramentas multi-chain para usuários da Web3.
Na primeira quizena, dois eventos contribuíram para a alta do ANKR. Em 12 de agosto, o sistema de staking do ANKR foi implementado. Além disso, a Binance Labs, braço de capital de risco e acelerador da exchange de criptomoedas Binance, fez um investimento estratégico no provedor de infraestrutura para Web3.
Os fundos serão destinados a incrementar o serviço de chamada de procedimento remoto (RPC) da Ankr e construir seu conjunto de desenvolvedores Web3.
O EOS, com uma alta de 9,3%, fecha o top 5 de agosto. As outras seis criptomoedas do top 100 que acumularam ganhos mensais foram UNUS SED LEO (LEO), Huobi Token (HT), Decred (DCR), Pancake Swap (CAKE), Near Protocol (NEAR) e Trust Wallet Token (TWT).
No extremo oposto, as cinco moedas do top 100 que tiveram pior desempenho foram lideradas pelo Helium (HNT), um projeto que permite que usuários sejam recompensados com HNT por distribuir sinal de internet de longo alcance através da Helium LongFi, a partir da instalação de um hotspot.
No início de agosto, o Helium se viu envolto em duas polémicas. Em primeiro lugar, o protocolo relacionou como parceiros em seu site oficial duas empresas que, posteriormente, negaram vinculação com o projeto. Além disso, foi revelado que as receitas geradas pelo protocolo em junho somaram apenas US$ 6.651.
Embora o CEO da Helium, Amir Haleem, tenha saído em defesa da empresa, o HNT acumulou perdas de 41% ao longo do mês.
Logo em seguida, vem dois projetos de armazenamento de dados descenrtralizados. O Filecoin (FIL) e o Arweave (AR) desvalorizaram 34,5% e 30,8%, respectivamente.
Completam a lista dos cinco maiores perdedores do mês o GMT, token de utilidade do game move-to-earn Stepn, e o token DeFi Convex (CVX).
O bitcoin abriu o mês de setembro em queda. No final da manhã desta quinta-feira, 1º, o par BTC/USD registra uma baixa intradiária de 1,8% e é negociado a US$ 19.685, de acordo com dados do CoinMarketCap.
Siga o Future of Money nas redes sociais: Instagram | Twitter | YouTube | Telegram | Tik Tok