A Web5 está entre nós: você já sabe o que é?
Enquanto muita gente ainda tenta entender a Web3, a 5ª versão da web chega atropelando quem ficou pelo caminho e confunde ainda mais os usuários. Por que ela existe? Para quê? Como funciona?
Da Redação
Publicado em 11 de dezembro de 2022 às 10h18.
Por Felippe Percigo*
Em agosto de 1991, nascia a world wide web e a nossa vida mudaria para sempre. Era estranho na época entender que poderíamos acessar informações geradas por pessoas no mundo inteiro pelo computador, a despeito da geografia. Hoje, tudo isso não passa de simples rotina, tão mecânica quanto escovar os dentes. Não pensamos mais, só destravamos nossos smartphones e clicamos no site ou app que quisermos.
Desde então, passados 31 anos, não paramos de discutir como seguir aprimorando a web. Mais do que isso. Queremos saber como conseguimos tirar mais proveito dela, aumentar seus casos de uso, explorar toda a sua potencialidade.
Passamos da web dos primórdios, uma web estática, para a Web2, que tornou possível muita coisa antes inimaginável, como viver financeiramente da internet, como fazem muitos negócios e influenciadores. De lá, desembarcamos na Web3, uma iniciativa em busca de extirpar práticas controversas da Web2, como o sequestro e a monetização irregular da identidade dos usuários por parte das grandes corporações.
A proposta da Web3 certamente nos soa como das melhores. Devolver a identidade a quem é de direito: nós, usuários. E ceifar o poder das big techs e seus servidores centralizados a partir da descentralização do sistema.
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Ainda assim, existe muita polêmica em torno do tema e os pensadores da web não estão exatamente convencidos de que a versão 3 da world wide web está fazendo o trabalho direito.
Um desses nomes é o maximalista Jack Dorsey, fundador do Twitter e hoje à frente da Block, gigante de pagamentos digitais. Insatisfeito com os rumos que a Web3 está tomando, ele anunciou em junho deste ano a criação da Web5. O projeto nasceria baseado na única blockchain que, segundo ele, vai sobreviver ao tempo, a do Bitcoin.
O primeiro resultado prático da Web5 é o Zion, um aplicativo para criadores, uma espécie de rede social que explora os novos componentes da versão da web idealizada por Dorsey.
O app é descrito pelos desenvolvedores como “uma plataforma de comunidade descentralizada e escalável global aberta que facilita o fluxo direto de conteúdo e pagamentos entre criadores e seus públicos”. Trocando em miúdos, ele é direcionado a duas funções principais: comunidade e pagamento.
Os especialistas classificam o aplicativo como um mix entre o Twitter e um fórum online convencional. Os usuários podem usar esses fóruns para compartilhar conteúdo, trocar ideias e ser recompensados financeiramente por essas atividades. As transações são concluídas via Lightning Network, um protocolo de segunda camada do Bitcoin.
Para quem está se perguntando se haverá tokens envolvidos: a resposta é não. Mike Brock, gerente geral da TDB, subsidiária da Block à frente da construção da Web5, garantiu que não haverá tokens para investir no ecossistema.
Essa decisão está intimamente ligada à maior motivação de Dorsey para criar a Web5: combater a influência dos investidores de risco que adotaram pesado a Web3. Ele acredita fortemente que a enxurrada de capital aportada pelos VCs na Web3 criou uma rede que é tudo menos descentralizada.
O bilionário já deixou sua crítica clara diversas vezes no Twitter. Mandou, inclusive, recados enfáticos, dizendo que a Web3 nunca “escapará” dos “incentivos” dos VCs. “Em última análise, é uma entidade centralizada com um rótulo diferente”, disparou ele recentemente. Para Dorsey, os investidores não estão nem um pouco interessados nas questões de gerenciamento distribuído e armazenamento de dados.
Ok. Mas como funciona a Web5 e qual a diferença para a Web3?
Vamos por partes.
A Web5 é uma rede peer-to-peer, ou seja, ponto a ponto, com uma proposta de descentralização radical, apoiada em identidade (DIDs) e nós da web descentralizados (DWNs). Tem a blockchain do Bitcoin como base.
Os DWNs (Descentralized Web Nodes) são os principais responsáveis pela interação do usuário na Web5. Funcionam como unidades de armazenamento de dados pilotadas pelos próprios usuários - diferentemente da versão 2 da web - em seus computadores e demais dispositivos. Isso permite a todos gerenciar, compartilhar e trocar dados e informações sem um provedor ou infraestrutura intermediária, como Google ou Facebook, por exemplo.
A Web5 também funciona com o apoio dos DIDs (identificadores descentralizados) e das credenciais verificáveis para garantir a identidade autossoberana.
As credenciais verificáveis são uma representação digital da identidade que permite ao usuário se identificar sem o envolvimento de qualquer intermediário. É comparável no mundo real com os meios tradicionais de identificação, como CPF, carteira de motorista e passaporte.
A diferença para os tradicionais é que os da Web5 são assinados digitalmente e verificáveis. O usuário pode criar suas credenciais na rede e usá-las em qualquer plataforma que exija verificação.
Os Identificadores Descentralizados são os correspondentes criptográficos das credenciais verificáveis, como nomes de usuário e senhas. Eles atuam como cartões de identidade para você operar a sua versão online sem complicações. Como são geradas pelo próprio usuário, essas identidades são únicas para cada pessoa.
Os DIDs são combinados com credenciais verificáveis para permitir que o usuário se identifique quando necessário. Os identificadores são o único componente da versão 5 da web que entra em contato com uma blockchain pública. Eles variam em seus níveis de descentralização, dependendo da cadeia pública usada.
Diferenças entre Web3 e Web5
Como os dois conceitos ainda são muito novos - muita gente inclusive nunca deve ter ouvido falar de Web5, o que se sabe é que as operações básicas são parecidas, propondo-se a criar uma web de propriedade do usuário e amigável. Os objetivos também são semelhantes, mas existe aí uma grande diferença entre discurso e prática. E, neste quesito, ambas ainda têm um longo caminho a se provar.
Ainda assim, algumas características as diferenciam.
Uma delas é a rede de transações. As transações na Web3 envolvem DApps e contratos inteligentes. Os registros de cada transação são armazenados e expostos publicamente na blockchain.
Já na Web5, estão hospedados os Aplicativos da Web Descentralizados (DWAs) que não são baseados na blockchain, mas podem se comunicar com os DWNs, rede peer-to-peer que existe independentemente de qualquer cadeia pública. Os DWAs se assemelham a um site que contém os recursos de um aplicativo nativo, ou seja, é uma espécie de híbrido entre um site e uma aplicação móvel.
O armazenamento de dados também é diferente. Os dados na Web3 são mantidos na rede pública usando ferramentas como o IPFS (Interplanetary File System). Todos os usuários da web podem acessar.
Por sua vez, a Web5 coloca esse poder nas mãos dos usuários com o auxílio dos DWNs. A própria pessoa armazena seus dados e também escolhe, por conveniência própria, as informações que têm o interesse de tornar públicas. Caso o interesse exista.
Web1, Web2, Web3, Web5. Peraí. Está faltando a Web4.
É verdade. Alguns afirmam que ela nunca existiu. Ou que teria sido atropelada por Jack Dorsey, já que a Web5 é a soma de dois elementos: Web2 + Web3. Existem ainda aqueles que classificam a Web4 como a evolução da Web2 para o mobile.
Enquanto sentimos falta da quarta versão, já tem gente pensando na sexta. O rapper Snoop Dogg, conhecido entusiasta cripto, anunciou no Twitter que estaria trabalhando na Web6. Justin Sun, fundador da Tron, também. Brincadeira ou verdade? A ver!
*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em Finanças Digitais e educa diariamente, por meio da sua plataforma e redes sociais, mais de 100.000 pessoas a investirem no universo cripto com segurança.
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