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Semifinal da Libertadores: o atraso dos clubes sul-americanos quando o assunto é SAF

Questões políticas e tradicionalismo provocam distanciamento econômico com o Brasil

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 24 de outubro de 2024 às 18h32.

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Nos últimos anos, o distanciamento entre clubes brasileiros e sul-americanos tem provocado um desequilíbrio técnico e econômico, sendo refletido diretamente nos desempenhos e conquistas nas principais competições do continente. Isso se acentuou, principalmente, com o crescimento em gestão de times como Palmeiras e Flamengo, que ganharam alternadamente a Copa Libertadores, entre 2019 e 2022, e ao surgimento de agremiações que se tornaram SAF no país.

Neste ano, o principal case é o Botafogo, que se tornou SAF logo após a homologação pelo Congresso, em 2021, mas o outro semifinalista da disputa, o Atlético-MG, também seguiu o mesmo caminho, e em meados de 2023, vendeu 75% da Sociedade Anônima de Futebol ao grupo Galo Holding. Os outros 25% da SAF seguiram com a associação.

Considerado uma das maiores potências da América do Sul, o River Plate projetou um caminho alternativo somente no começo deste mês de outubro ao entrar na Bolsa de Valores do país com a criação do Club River Plate Financial Trust. Na prática, qualquer interessado, seja pessoa física ou empresa, podem investir no clube com 12 mil pesos.

A medida serve justamente para o clube conseguir voltar a competir com mais ênfase no continente, já que a SAF (na Argentina, SAD - Sociedade Anônima Deportiva) é proibída pela Associação de Futebol da Argentina (AFA).

"Assim como já ocorreu em todos os principais países do futebol mundial, ora por organização do próprio mercado, como na Inglaterra, ora por determinação do governo, por meio de lei, como em Portugal e Brasil, a migração do modelo associativo para o empresarial causaria um grande impacto positivo na Argentina. Uma mudança certamente proporcionaria a chegada de investidores, especialmente estrangeiros - o MCOs - e, com isso a distância entre os orçamentos dos clubes argentinos e brasileiros poderia diminuir", afirma Marco Loureiro, sócio dos CCLA Advogados e responsável pela área de Direito Societário.

Em julho deste ano, o Governo da Argentina havia liberado o capital privado no futebol argentino a partir de novembro deste ano, autorizando a transformação em Sociedades Desportivas (SADs). O presidente Javier Milei é um defensor desta mudança. Mas uma briga com Claudio Tapia, eterno presidente da Associação do Futebol Argentino -e que vem conseguindo mobilizar os clubes mais tradicionais do país, faz com medidas cautelares acabem parando na Justiça e barrando essa liberação. “Somos defensores das Associações Civis sem fins lucrativos e procuramos fixar uma posição institucional. As SAF’s não têm existência jurídica", chegou a dizer Tapia, em entrevista.

Para José Francisco Manssur, sócio do escritório CSMV Advogados e um dos autores do projeto de lei que criou a Sociedade Anônima do Futebol (SAF), qualquer tentativa de impedimento legal de que o clube escolha a forma como quer se organizar, viola um conceito universal do esporte, que é o conceito da autonomia da entidade esportiva.

"Proibir um clube de se organizar como empresa é tão grave quanto obrigar todos os clubes a se transformarem em empresa, sob o ponto de vista da violação à autonomia. E realmente é um atraso na adoção do conceito que se faz no mundo inteiro, que só tem aumentado a distância financeira entre os clubes da Argentina e os brasileiros", aponta.

Com seu estádio recém-reformado e recebendo mais de 80 mil pessoas em dias de grandes jogos, potencializando suas receitas e negócios, a ideia do River Plate ao entrar na Bolsa de Valores é de captar mais de 15 milhões de dólares, e usar esse dinheiro exclusivamente para melhorias no departamento de futebol, incluindo as categorias de base.

Para Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa de entretenimento norte-americana, a derrocada dos clubes argentinos também é fruto de um longo processo que combinou por décadas à depreciação econômica do país, e condena a proibição quanto a essas transformações. "Em qualquer sociedade que se apresente como livre, não cabe mais justificar proibições como essa que defende a confederação. Até na Venezuela o ambiente de negócios e administração dos clubes de futebol é hoje mais propenso a desenvolvimento. Quem defende o atual regime é quem extrai benefício próprio da política neles, e do seu caráter associativo, como se dava no passado com os maiores sindicatos", aponta.

"A transformações dos clubes em SAF em todo o mundo, e o Brasil é uma prova recente disso, retratam que é um caminho sem volta de investimentos dentro e fora dos campos, e um sinal de esperança não apenas para os chamados grandes, mas também aos menores, que passam a contar com novas receitas para incrementarem seus elencos e estruturas. É preciso, no entanto, boa gestão. Alguns clubes sul-americanos têm seguido esse caminho, mas é uma minoria. A partir do instante em que isso se tornar uma realidade, principalmente aos argentinos, creio que o nível de competitividade terá um efeito maior de equilíbrio", pontua Claudio Fiorito, presidente da P&P Sport Management Brasil, especializada no gerenciamento da carreira de atletas.

Já o Peñarol, outro gigante do futebol sul-americano, nem cogita a transformação em SAF, e neste caso, é única e exclusivamente por uma questão de 'tradicionalismo'. Dirigentes mais antigos, e até mesmo alguns atuais e com forte influência, defendem o conservadorismo e a cultura à moda antiga, prevalecendo uma relação mais ampla e próxima com a torcida, incluindo os sócios-torcedores, com forte participação na vida política da agremiação. 25% do faturamento do Peñarol vem do programa de associados, o que dá em torno de R$ 40 milhões de reais - metade do que muitos clubes brasileiros faturam com sócios-torcedores no ano.

Apesar de manter essa tradição, o Penãrol abriu os olhos para o aumento de receitas ao se tornar referência no continente com a modernização de seu estádio, o Campeón del Siglo. Inaugurado em 2016 e com capacidade para 40 mil pessoas, teve um custo baixo nas obras -estimado em 40 milhões de dólares. Foi construído do zero, atendendo a todas as normas básicas do Padrão Fifa.

Localizado a 20km do centro da cidade, é visto como mais moderno até mesmo que outros dois grandes estádios de Montevidéo, o tradicional Centenário e o reformado Parque Central, do rival Nacional. "Um avanço em termos de segurança", pontou Juan Pedro Damiani, presidente do Peñarol, quando a solução foi instalada.

Parte deste sucesso em segurança e modernização tem a ver com a tecnologia brasileira da Imply, responsável por fazer todo o projeto com sistema de gerenciamento de acessos para pessoas e veículos. Eles contemplam 73 catracas, que incluem diversos validadores integrados, inclusive controle biométrico, além de seis cancelas de estacionamento que aprimoram o conforto e a preservação de quem visita o estádio. O planejamento de serviços fornecido pela Imply também dispõe de um painel fullcolor, com 79,6m², que reproduz imagens com qualidade de alto nível, potencializando a interação e experiência vivenciada dentro do estádio.

"É exemplo de inovação e modernização no continente. Desde 2016 temos colaborado com o Peñarol, oferecendo nossas soluções tecnológicas de ponta para garantir a melhor experiência aos torcedores e visitantes. Com sistemas de controle de acesso biométrico, gestão de veículos, e um painel fullcolor de alta definição, a Imply contribui para a segurança, o conforto e a interatividade dentro do estádio. Nossa parceria reforça nosso compromisso em liderar a transformação tecnológica em arenas e estádios por toda a América Latina", explica Tironi Paz Ortiz, CEO da Imply.

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