Verón critica premiação do futebol argentino e destaca desigualdade econômica em relação ao Brasil (Gustavo Garello/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 12 de novembro de 2024 às 17h30.
Considerado um dos grandes craques do futebol argentino, Juan Sebastián Verón, atualmente presidente do Estudiantes-ARG, com passagens em clubes europeus como Sampdoria, Parma, Lazio, Manchester United, Chelsea e Internazionale, criticou as premiações no futebol da Argentina em comparação com o Brasil. Para ele, os prêmios "não pagam nem o ônibus dos torcedores".
“E aqui entre o Torneio dos Campeões do Mundo e a Copa Argentina, nem cobre os custos de ônibus para os torcedores... Mas o clube pertence aos sócios”, disse o dirigente nas redes sociais. Verón fez alusão ao valor recebido pelo Flamengo pela conquista da Copa do Brasil, que chegou a R$ 93,1 milhões, sendo R$ 73,5 milhões somente pela final.
Na Argentina, os valores das premiações estão muito distantes dos do Brasil. O campeão da Copa Argentina, por exemplo, recebe apenas US$ 170 mil (cerca de R$ 985 mil), valor bem inferior ao de um clube que chega à terceira fase da Copa do Brasil, que ganha em torno de R$ 2,2 milhões. Já a Copa da Liga Argentina, conquistada pelo Estudiantes de Verón, oferece ao campeão um prêmio de US$ 500 mil, aproximadamente R$ 2,9 milhões.
Para Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa liderada pelo cantor Jay-Z, fatores como a economia argentina, marcada por “irresponsabilidade, paternalismo e demagogia”, influenciam diretamente na indústria do futebol. “Recebem muito menos dinheiro porque geram muito menos dinheiro. Se viabilizar a constituição de SAFs, talvez consigam equilibrar forças com brasileiros em uma década. Sem elas, talvez consigam em duas ou três décadas, e se formarem uma liga antes de nós”, aponta Freitas.
“Hoje existe uma disparidade econômica do futebol brasileiro em relação ao argentino,” comenta Sara Carsalade, co-founder e responsável pela vertical de esportes da Somos Young. Segundo ela, o mercado brasileiro está em evolução, com iniciativas como as SAFs, a profissionalização da gestão, e o uso de tecnologia e dados para melhorar processos. “Essas medidas extracampo influenciam no resultado de campo e isso fica nítido quando você observa que, em 2024, o Brasil chegará a seis títulos consecutivos da Copa Libertadores,” acrescenta Carsalade.
Nos últimos anos, o distanciamento técnico e econômico entre clubes brasileiros e sul-americanos tem se intensificado. Isso é visível no sucesso de equipes como Palmeiras e Flamengo, que alternaram as vitórias na Copa Libertadores entre 2019 e 2022. O surgimento de agremiações que se tornaram SAFs também contribuiu para esse crescimento.
Para José Francisco Manssur, sócio do escritório CSMV Advogados e coautor do projeto de lei que criou a Sociedade Anônima do Futebol (SAF), qualquer impedimento à escolha da forma de organização de um clube prejudica o desenvolvimento. “Proibir um clube de se organizar como empresa é tão grave quanto obrigar todos os clubes a se transformarem em empresa, sob o ponto de vista da violação à autonomia. E realmente é um atraso na adoção do conceito que se faz no mundo inteiro, que só tem aumentado a distância financeira entre os clubes da Argentina e os brasileiros,” analisa Manssur, reforçando o impacto das SAFs na melhoria das receitas e competitividade no Brasil.