Com presença de Beckham, Tom Brady e Ryan Reynolds 'se enfrentam' como donos em jogo na Inglaterra
Astros globais são sócios de Birmingham x Wrexham, que jogaram pela Terceira Divisão
Redação Exame
Publicado em 18 de setembro de 2024 às 17h33.
O Birmingham venceu o Wrexham por 3x1, em jogo válido pela Terceira Divisão da Inglaterra (League One), na noite desta segunda-feira, 16, e alguns detalhes fora de campo chamaram mais a atenção do que os acontecimentos dentro das quatro linnhas. As duas equipes, na verdade, possuem os astros do esporte e entretenimento, Tom Brady e Ryan Reynolds, como proprietários das duas equipes, em um movimento que está em ascensão e vem sendo muito recorrente nos últimos anos.
Tom Brady, considerado um dos principais jogadores de todos os tempos da NFL, adquiriu uma porcentagem em 2023 do Birmingham, passando a fazer parte do Conselho Consultivo do clube. Já Reynolds, estrela de filmes como Deadpool e Lanterna Verde, já é dono há mais tempo do Wrexham, desde 2021, ao lado do ator Rob McElhenney.
Nas arquibancadas, chamou a atenção a presença de outra celebridade: David Beckham, que é inglês e foi muitos anos capitão da seleção da Inglaterra, estava acompanhado de Tom Brady e de um dos seus filhos, Romeo Beckham, fruto do seu relacionamento com Victoria Beckham.
A entrada de celebridades do próprio esporte, da música e do entretenimento comprando ou adquirindo fatias de clubes de futebol vem acontencendo com mais frequência que o normal. O caso mais recente deles aconteceu ainda neste mês de agosto, quando o cantor Ed Sheeran adquiriu 1,4% do Ipswich Town, que disputa a Premier League, através de ações da Gamechanger 20 Ltd. Ele se tornou sócio minoritário da equipe e vai ter o direito de utilizar um camarote executivo no Portman Road, estádio da equipe, por muitos anos.
O Ipswich Town voltou a disputar a liga inglesa nesta temporada após 22 anos, e Ed Sheeran e é torcedor do clube. Além disso, ele já tinha uma relação próxima, pois era um dos patrocinadores oficiais dos times masculino e feminino, desde 2021.
O cantor também costuma estar ativo na vida do Ipswich. Recentemente, ele participou de um vídeo de divulgação da nova temporada do clube ao dirigir um trator. Era uma referência ao apelido 'Os Garotos dos Tratore', dado aos torcedores locais, pelo fato do time estar localizado numa região agrícola da Inglaterra.
"A entrada de personalidades, artistas e atletas como investidores em clubes junta uma expectativa financeira, mas não só isso, especialmente a visibilidade que a aproximação com o esporte traz, o chamado soft power. Isso envolve países, investidores e muito particularmente as personalidades da mídia. Não tem nada de irregular ou artificial em alguém querer fazer investimento em algo que possa ficar em evidência, ou que vai envolver algum componente intangível como uma paixão por algum clube, ou o interesse em mostrar sua participação em algo que atrai milhões de pessoas. Considero um movimento positivo, pois são mais recursos que vão tramitar no esporte. Se bem administrados, podem gerar uma melhoria da modalidade como um todo", opina José Francisco Manssur, sócio do escritório CSMV Advogados e um dos autores do projeto de lei que criou a Sociedade Anônima do Futebol (SAF).
Ed Sheeran não é a primeira personalidade a adquirir uma fatia de alguma agremiação esportiva, pelo contrário. Nos últimos anos, a lista é extensa. Em 2022, o consagrado ator Michael B. Jordan comprou o AFC Bournemouth, também da Premier League.
"Acredito que todas as partes só tem a ganhar, com uma visibilidade que extrapola os padrões de marketing e publicidade. Perceba que em muitos desses casos, essas celebridades adquirem clubes menores, com alguma ligação emotiva, mas em ligas e países desenvolvidos e que podem trazer a potencialização de receitas, seja com a própria exposição ou novas parcerias", acrecenta Joaquim Lo Prete, Country Manager da Absolut Sport no Brasil, agência de experiências esportivas.
O astro LeBron James, da NBA, comprou em 2011, por 6,5 milhões de dólares, 2% das ações do Liverpool. Atualmente, essa participação vale mais de 50 milhões de dólares. Também da NBA, Steve Nash adquiriu o Mallorca, da Espanha, por 20 milhões de euros.
Outro caso bastante famoso é o da dupla de atores Ryan Reynolds e Rob McElhenney, que em 2021 comprou o Wrexham AFC, do País de Gales, por 2,5 milhões de dólares. Já o ator norte-americano Matthew McConaughey adquiriu o comprou o Austin FC, de seu país, em 2019. Já o comediante e ator Will Ferrell é o proprietário do Los Angeles FC, que disputa a MLS nos Estados Unidos.
"É um movimento que aumentou muito no pós-pandemia. Levando em conta a boa gestão, é uma associação que só tem a ganhar. Os clubes, quando adquiridos, se vêm fortalecidos por um comprador que possui credibilidade em seu ramo, disposto a impulsionar ainda mais seus rendimentos. Ao mesmo tempo, uma instituição esportiva tem o poder de atrair milhões em receitas, com exploração da ativos principais do, novos negócios em arenas e patrocinadores. Se bem sucedido, os ganhos com imagem são infinitos", complementa Ricardo Bianco Rosada, fundador da consultoria brmkt.co, que atua nas áreas de Estratégia, Branding, Marketing e Desenvolvimento de Negócios.
Em 2022, a atriz Reese Witherspoon virou uma das co-proprietarias do Nashville FC, da Major League Soccer (MLS). Natalie Portman, sua companheira de gravações, também se tornou uma das investidoras Angel City, da liga feminina dos Estados Unidos.
No Brasil, o caso mais emblemático é de Ronaldo Fenômeno, que iniciou esse processo ao adquirir o Real Valladolid, da Espanha, comprando 51% das ações por 30 milhões de euros (cerca de R$ 141 milhões), em 2018. Mais recentemente, o cantor Gusttavo Lima comprou o Paranavaí, equipe da segunda divisão do Paraná. O músico pagou R$ 3 milhões para ficar com 60% da SAF.
“Esse tipo de investimento de grandes nomes do esporte, como o que Magic Johnson está propondo no Brasil, é algo bastante comum nos Estados Unidos. Lá, atletas e celebridades investem regularmente em outras modalidades, o que contribui para o desenvolvimento e profissionalização de novos mercados. Esse movimento só acontece em ambientes com alta segurança jurídica e estabilidade de mercado, e é interessante observar que o Brasil está caminhando nessa direção dentro dos esportes”, afirma Leonardo Cavarge, especialista em estratégia de negócios no esporte e Diretor Financeiro da World Poker Federation.
Cavarge ainda completa ao dizer que um exemplo concreto desse cenário no Brasil é o caso de André Akkari, uma referência mundial no poker, que investiu na FURIA, que se tornou uma das principais organizações de eSports do Brasil. “Esse tipo de iniciativa não apenas reforça a confiança dos investidores no país, mas também impulsiona setores emergentes como os eSports e abre portas para que outras celebridades enxerguem o Brasil como um destino atraente para seus investimentos”, finaliza.
Para especialistas em gestão esportiva, o investimento de personalidades, artistas e até atletas consagrados a clubes de futebol pode trazer um movimento financeiro, de imagem e reputação que podem ser benéficos ao mercado, desde que, é claro, sejam bem administrados.
"Temos visto um movimento interessante de celebridades adquirindo fatias de clubes de futebol ou outros esportes. Assim como uma empresa, é preciso ter eficácia e competência para gerir projetos deste porte e com tantas particularidades, mas normalmente essas celebridades já funcionam como verdadeiras instituições, pois possuem profissionais técnicos, de várias áreas, neste controle; completar o staff com especialistas da área de entretenimento agrega muito e pode ser um encurtador de caminhos altamente essencial. Eu vejo com bons olhos, e acredito que esse fator possa potencializar ainda mais as operações, visto que estamos falando de segmentos com milhões de fãs e seguidores, e a superexposição é quase que orgânica", aponta Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo.
"Quando uma celebridade decide investir em uma entidade esportiva, imagina-se que seja para agregar pela imagem, pelo investimento financeiro e/ou por ajudar através do planejamento/estratégia. Quando isso ocorre, e a celebridade tem visão empresarial e experiência, por isso vejo como positivo. Existe o risco dessas pessoas resolverem investir e se envolverem com uma entidade sem experiência empresarial e com direcionamentos equivocados mais baseados na emoção e no ego", analisa Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo.
"Mesmo a compra de um percentual irrelevante no processo decisório, se feita por uma celebridade, gera repercussão que extrapola o próprio noticiário esportivo, e gera interesse, ainda que em sub-produtos dos clubes e suas marcas. Veremos ao longo dos próximos quatro anos pelo menos dezenas ou mesmo uma centena de celebridades da indústria da música e do cinema incorporando a sua carteira de investimentos participações minoritárias e pontuais entre os seus ativos alternativos. É um movimento sem volta de propaganda implícita desses ativos, agora financeiros", explica Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa de entretenimento norte-americana, comandada pelo cantor Jay-Z, que gerencia a carreira de centenas de atletas.