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Impactos de eventos extremos levam a prejuízos de mais de US$ 200 bilhões anualmente em infraestruturas (HECTOR RETAMAL /AFP)
Redação Exame
Publicado em 15 de dezembro de 2025 às 11h00.
Última atualização em 15 de dezembro de 2025 às 11h04.
*Por Onara Lima
Os desastres são dispendiosos, não apenas em vidas humanas, mas também em perdas de desenvolvimento. Todo investimento em prevenção poupa muito mais em resposta e recuperação. No entanto, o financiamento para a redução do risco de desastres permanece muito aquém do necessário.
A infraestrutura é a espinha dorsal da sociedade moderna. Ela alimenta as cidades, conecta comunidades e sustenta a atividade econômica.
No entanto, todos os anos, desastres devastam a infraestrutura em todo o mundo, causando impactos macroeconômicos profundos, com perdas diretas estimadas em mais de US$ 200 bilhões anualmente, ou mais de US$ 2,3 trilhões por ano quando considerados os custos em cascata e os custos para o ecossistema. O impacto econômico é 10 vezes maior do que as estimativas anteriores.
Para mudar essa realidade, UN Office for Disaster Risk Reduction - UNDRR1, está trabalhando com governos, instituições financeiras e o setor privado para tornar o investimento resiliente a norma.
Ao incorporar a RRD (Redução do Risco de Desastres) nos sistemas financeiros e nas decisões de investimento, pode passar de gastos reativos para investimentos prospectivos, economicamente viáveis e informados pelos riscos.
Atualmente, a maior parte do financiamento de desastres concentra-se na resposta e recuperação pós-evento, em vez da prevenção. Entretanto, estudos mostram que US$ 1 gasto na redução de riscos de desastres gera um retorno médio de US$ 15 em termos de custos futuros evitados.
Aqui no Brasil, Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base – Abdib, apresentou estudos que apontam que cada R$ 1 investido em adaptação pode gerar até R$ 7 em benefícios econômicos.
A infraestrutura é um pilar estratégico fundamental para o sucesso econômico, com investimentos no setor gerando um efeito cascata que impulsiona o crescimento, a competitividade e a qualidade de vida no país.
No entanto, o Brasil enfrenta desafios significativos devido ao investimento historicamente baixo, que compromete a produtividade e a competitividade nacional.
Setores críticos como transporte (rodovias, ferrovias, portos), energia, saneamento básico e telecomunicações são essenciais para o desenvolvimento de atividades produtivas e a atração de empresas e indústrias.
Estamos em um país com dimensões continentais, o que por si só diz muito sobre o tamanho do desafio. Com estimativa de investimento de 278 bi, em 2025 (cerca de 2.2% do PIB), 70% desse valor é proveniente de recursos do setor privado.
De acordo com o raio-x do setor de infraestrutura Brasileiro 2025, o país precisaria investir mais de 4% do PIB ao ano, por pelo menos duas décadas para alcançar a média global de estoque de infraestrutura, que corresponde a 60% do PIB. Atualmente, o Brasil tem 35,5%, um dos níveis mais baixos entre economias emergentes.
Diante desse cenário conhecido, vale acrescentar o fator Resiliência Climática nos projetos de Infraestrutura. integrando os desafios quanto a força de trabalho, cadeia de fornecedores, capacidade de inovabilidade e Governança, sendo necessário uma abordagem sistêmica e abrangente para a resiliência da infraestrutura é crucial para manter a continuidade dos serviços diante de diversas ameaças.
As Recomendações da OCDE sobre Infraestrutura e Riscos Críticos enfatizam a importância da governança que visa limitar as interrupções de serviços e aumentar a capacidade de recuperação após choques.
O Indicador de Governança de Infraestrutura (IGI) da OCDE avalia elementos-chave de governança para aprimorar a resiliência de infraestruturas críticas: governança multissetorial; interdependências e vulnerabilidades; confiança e compartilhamento seguro de informações; parcerias para uma visão comum de resiliência; conjunto de políticas, ferramentas e incentivos; responsabilização e monitoramento; e cooperação multissetorial aprimorar o uso de ferramentas políticas para priorizar medidas custo-efetivas ao longo do ciclo de vida da infraestrutura.
Construir resiliência exige uma abordagem sistêmica, priorizando os componentes mais críticos e abordando os pontos fracos que criam vulnerabilidades críticas para todo o sistema.
Os ativos de infraestrutura geralmente são apenas parte de um sistema mais amplo, que deve ser considerado em sua totalidade em uma estratégia abrangente de resiliência.
Os tipos de riscos enfrentados pelas infraestruturas críticas estão em constante evolução. Riscos climáticos e outros desastres naturais, ameaças digitais e riscos de segurança podem interromper serviços com consequências socioeconômicas de grande alcance.
Nesse cenário dinâmico de riscos, uma política abrangente deve adotar uma abordagem que considere todos os riscos e ameaças à resiliência das infraestruturas críticas, a fim de garantir uma infraestrutura mais resiliente.
O objetivo é evitar três “espirais” que podem causar um colapso sistêmico: O endividamento somado à perda de receita, o surgimento de áreas consideradas muito arriscadas para serem cobertas por seguradoras, e um cenário de necessidades humanitárias recorrentes. “Investimentos mais inteligentes” que criem resiliência a desastres futuros e aliviem a pressão sobre as finanças públicas.
Lembrando que, o impacto é sentido de forma desproporcional pelas nações mais pobres, onde a infraestrutura frágil pode significar a diferença entre a recuperação e anos de desenvolvimento perdido. Precisamos trazer a consciência e uma bússola calibrada para a necessidade de Infraestrutura Social.
O monitoramento da resiliência do setor de infraestrutura envolve a avaliação da vulnerabilidade, o desenvolvimento de estratégias de adaptação e o acompanhamento do desempenho utilizando IoT, ferramentas como testes de estresse, imagens de satélite e indicadores compostos.
Esse processo ajuda a identificar fragilidades em setores críticos como energia, água e transporte, permitindo que governos e organizações fortaleçam a infraestrutura contra desastres e interrupções por meio de planejamento, investimento e medidas de adaptação.
As principais atividades incluem a comparação com as melhores práticas globais, o desenvolvimento de avaliações de risco e a implementação de roteiros de longo prazo para incorporar a resiliência em todo o ciclo de vida da infraestrutura.
O Índice Global de Resiliência da Infraestrutura (GIRI) é um indicador composto que busca mensurar a resiliência da infraestrutura combinando métricas de risco financeiro com três conjuntos de indicadores sociais, econômicos, ambientais e políticos que representam a capacidade de absorver, responder e restaurar.
O relatório deverá ser baseado em cinco pilares principais, sendo Pilar 1: Modelo Global de Risco de Infraestrutura, Pilar 2: Índice Global de Resiliência da Infraestrutura, Pilar 3: Soluções Baseadas na Natureza, Pilar 4: Monitoramento do Progresso e Pilar 5: Financiamento da Resiliência da Infraestrutura.
Nos últimos anos, o Brasil consolidou avanços importantes no setor de infraestrutura, com novos modelos de concessão, segurança jurídica, projetos robustos e um ecossistema técnico e institucional cada vez mais preparado para enfrentar os grandes desafios nacionais.
Mas a complexidade do cenário atual exige executar as obras com visão estratégica, capacidade de adaptação e, acima de tudo resiliência, Em meio às transições energética, climática, digital e social, planejar uma infraestrutura robusta, aumenta a produtividade e eficiência, facilitando o comércio e atraindo investimentos.
O foco deve estar em reconhecer e reduzir o hiato da infraestrutura no Brasil, que resulta em gargalos, eleva custos, prejudica a indústria e atrasa o crescimento econômico, tornando os produtos menos competitivos globalmente.
Esse olhar e cenário cheio de complexidades, mas também oportunidades, foi abordado na 5ª Edição do Fórum Infraestrutura Cidades e Investimentos, realizado pela Exame, no dia 02 de dezembro 2025, que reuniu líderes públicos, privados e da sociedade civil para discutir com pragmatismo e visão ampla capaz de conectar presente e o futuro da infraestrutura no Brasil.
Investir em modais integrados (ferrovias, portos, rodovias) e infraestrutura digital é essencial para a competitividade sistêmica e o desenvolvimento sustentável.
*Onara Lima é fundadora da ESG Advisory. Atua há 23 anos em Gestão Ambiental e Sustentabilidade e trabalhou em empresas como Gerdau, Suzano, Grupo Ambipar e CCR.