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Manifestantes na COP28: as mudanças climáticas afetam de forma mais intensa as populações mais vulneráveis (Leandro Fonseca/Exame)
Colunista
Publicado em 13 de julho de 2024 às 13h36.
A tecnologia climática está recebendo um impulso adicional de programas governamentais sem precedentes nos Estados Unidos e na Europa, que liberarão uma avalanche de capital para enfrentar o desafio de atingir compromissos de emissão zero líquida até 2050. Em conjunto, essas medidas podem abrir mais oportunidades para investidores em um mercado que a McKinsey estima que possa atingir de US$ 9 trilhões a US$ 12 trilhões em investimento anual até 2030.
Até esse momento, a previsão era que estes investimentos voltados para climatechs deveriam se distribuir por uma conhecida gama de setores. O setor de energia elétrica renovável tem sido o maior recebedor, captando boa parte do capital distribuído entre 2019 e 2022, com os investimentos mais que dobrando. Impulsionado pela adoção crescente de veículos elétricos (EVs), o segmento de transporte ficou em segundo lugar, com seus investimentos aumentando 370% nesse período. Combustíveis alternativos e gestão de carbono são dois campos emergentes que têm chamado bastante atenção, mas ainda sem destaque de escala. Complementam este quadro investimentos nos setores industrial, gestão de resíduos, óleo e gás, agricultura, água e construção civil.
Este panorama de setores alvo de investimento Climatech vai, no entanto, mudar radicalmente de agora em diante. O tema do trauma climático coletivo é um fator raramente discutido entre investidores privados, mas que vai passar a ser significativo para as oportunidades que estão surgindo. O que está sendo feito em termos de investimento em tecnologias de precaução que representem adaptações às mudanças climáticas que estão nos atropelando?
De um ponto de vista psicossocial, o trauma coletivo geralmente abrange experiências comunitárias de guerra, escravidão, racismo e outras formas de opressão, moldando o destino de comunidades, culturas e nações, potencialmente influenciando resultados globais como as mudanças climáticas. Esse trauma coletivo se manifesta de várias formas, como negação, manipulação, atribuição de culpa e incapacidade de reconhecer a urgência da crise.
O mercado de investimentos de Climatech vai se alterar profundamente para dar conta de enfrentar o trauma coletivo climático. Se antes a ciência e inovação climática motivavam isoladamente a condução dos investimentos privados, agora defende-se a ampliação da informação sobre trauma, culturas colaborativas e negociações de alto risco guiadas por princípios de rentabilidade para navegar pelos desafios impostos pelo colapso climático.
Como incentivar fiscalmente e subsidiar o capital privado que vai assumir a mudança de cidades inteiras de locais de risco? Como garantir que estruturas de emergência (também financiadas pelo capital privado) possam se remunerar ao longo das próximas décadas? Qual política fiscal vai garantir às seguradoras um segmento de mercado para disponibilização de capital para eventos centenários e cinquentenários que atacarão populações existentes? Estas operações de seguro serão coordenadas por empresas privadas puras ou deverão caracterizar operações mistas?
A antecipação do trauma e sua crise subsequente se apresenta como uma oportunidade para o desenvolvimento de diversas tecnologias. A emergência climática é um desafio global urgente que afeta pessoas e comunidades em todo o mundo, e seus impactos não são nem serão distribuídos uniformemente. Populações vulneráveis, particularmente aquelas em comunidades marginalizadas e desfavorecidas, sofrem as consequências mais graves.
Estudos indicam que indivíduos de baixa renda e outros grupos marginalizados são frequentemente expostos de forma desproporcional à poluição, eventos climáticos extremos e riscos à saúde resultantes da mudança climática. Estes estudos representam demonstrações inequívocas de tomada de consciência, clamando por uma ação justa. Vale ressaltar que a ação efetiva por justiça climática e energética se alinha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS), em particular os ODS 7 (Energia Acessível e Limpa) e ODS 13 (Ação Climática), que enfatizam a importância do desenvolvimento inclusivo e sustentável, claramente identificadas com manifestações conscientes do trauma.
É essencial que governos, formuladores de políticas e sociedades se conscientizem do trauma presente e trabalhem em conjunto com investidores na busca de soluções mais justas, sustentáveis e rentáveis.