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"Sinto que sou a exceção", diz presidente da Bayer sobre cenário de diversidade racial nas empresas

Maurício Rodrigues, presidente da Bayer Crop Science, contou em entrevista à EXAME que falta de referências negras gera uma sensação de isolamento

Maurício Rodrigues, presidente da área agrícola da Bayer: "As organizações têm a responsabilidade de remover barreiras estruturais e criar oportunidades equitativas" (Leandro Fonseca/Exame)
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 22 de novembro de 2024 às 17h51.

Última atualização em 22 de novembro de 2024 às 18h00.

“A sensação que tenho é de ser uma exceção em um espaço onde a representatividade ainda é extremamente limitada”. A afirmação é do presidente da divisão agrícola da Bayer para a América Latina desde 2021, Maurício Rodrigues, atualmenteum dos poucos negros a ocupar a alta liderança no Brasil.

Esse sentimento é embasado. De acordo com a pesquisa “Lideranças em construção” da consultoriaIndique Uma Preta, menos de5% das lideranças das 500 maiores empresas do país são negras, sinal da desigualdade de acesso às altas posições.

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De acordo com Rodrigues, a falta de referências negras gera uma sensação de isolamento em meio a uma posição que carrega uma responsabilidade imensa, “não só pela própria trajetória, mas também pela importância de se tornar um símbolo de que é possível”, conta.

Embora acredite que avanços pontuais tenham acontecidos,as discussões sobre diversidade nem sempre se traduzem em ações e políticas efetivasnas empresas, o que ainda exige uma revisão profunda nas práticas de recrutamento.

Liderança diversa

Em entrevista à EXAME, Maurício contou sobre sua trajetória até alcançar a posição e como usa esse espaço para melhorar o cenário da diversidade na multinacional de saúde e agronegócio.

Rodrigues conta que seus pais puderam romper uma barreira muito comum às pessoas negras: a formação superior. “Isso permitiu que eu tivesse acesso a uma boa educação desde cedo e ingressasse em uma universidade de destaque”, conta. Maurício se formou em engenharia civil na Universidade de São Paulo (USP), e logo ingressou em uma carreira na tecnologia.

Sua primeira posição de liderança foi ainda jovem, aos 28 anos, quando já pôde comandar equipes de 40 a 50 pessoas, na Monsanto, companhia de biotecnologia da agricultura da Bayer. Rodrigues explica que a experiência ajudou a ensiná-lo sobre liderança e gestão, mas foi quando assumiu uma posição nos Estados Unidos que houve umavirada de chave na sua vida profissional.

Após treze anos na companhia, assumiu a posição de Chief Financial Officer no México, passando também pela liderança financeira no Brasil e, posteriormente, em toda a América Latina.

Em 2018, assumiu a vice-presidência de finanças da Bayer Crop Science, e três anos depois ingressou como presidente da divisão agrícola. “Acredito no trabalho com proximidade com as equipes, incentivando a colaboração para enfrentar desafios e implementar estratégias e uma liderança baseada na empatia”, explica.

Uma das suas metas na companhia é assegurar que a força de trabalho reflita mais da diversidade da população brasileira, desafio que também passa pelo setor de inovação, no qual a Bayer está inserida. Isso inclui em seu escopo de trabalho a liderança em discussões sobre a equidade étnico-racial, seja em palestras e rodas de conversas internas ou externas.

"Embora haja avanços pontuais e discussões cada vez mais frequentes sobre diversidade, equidade e inclusão, essas iniciativas muitas vezes não se traduzem em ações estruturais ou políticas efetivas dentro das organizações", explica Maurício Rodrigues, presidente na Bayer (Leandro Fonseca/Exame)

Diversidade na Bayer

Mudar o cenário, no entanto, ainda é uma tarefa difícil. “Apesar dos avanços, reconhecemos que ainda há um longo caminho a percorrerpara atingir nossos objetivos relacionados ao tema”, explica.

Para Rodrigues, a estratégia de diversidade, equidade einclusãoé também uma vantagem competitiva: profissionais de diferentes experiências ajudam a resolver problemas complexos e criar melhores soluções para o público. “Isso ajuda a empresa a se conectar de maneira autêntica com seus clientes, refletindo as realidades e necessidades dos mercados em que atua”, conta.

Para alcançar as metas, a companhia instaurou programas como o Leading By Existing. Criado em parceria com a consultoria B4People, a iniciativa busca acelerar profissionais diversos para posições de liderança. A edição-piloto, que durou 18 meses entre 2022 e 2023, trabalhou com41 mulheres, 18 pessoas com deficiência e 33 funcionários negros. Já a segunda, que será finalizada em dezembro, conta com 37 mulheres e 19 pessoas negras.

Já o B.Afro Delas é uma ação voltada para o desenvolvimento de carreiras de mulheres negras. Ao longo de dois anos, mais de 50 mulheres já participaram do acompanhamento profissional. A companhia também desenvolveu programas detraineevoltados para a inclusão de pessoas negras.

O presidente ainda explica que a valorização da diversidade por profissionais de gerações mais novas também é um dos fatores que incentivam a estratégia da companhia. Como meta, a Bayer busca alcançar a igualdade de gênero em cargos de liderança até 2030 globalmente.

A solução? Desenvolver talentos diversos

Maurício conta que as empresas precisam assumir um papel ativo no desenvolvimento de talentos diversos, seja por meio de programas decapacitação,ofertas deaprendizado ou mesmo uma mudança na cultura – ou não poderão melhorar seu panorama de diversidade permanentemente.

Ele também explica que o desenvolvimento de lideranças mais inclusivas e humanas também estimula debates com mais autoconhecimento e inteligência emocional. “Enquanto os colaboradores precisam estar comprometidos com seu desenvolvimento, as organizações têm a responsabilidade deremover barreiras estruturais, criar oportunidades equitativase criar uma cultura onde todos possam alcançar seu potencial”, explica.

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