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Linhas de transmissão da rodovia elétrica Etiópia-Quênia ajudam a integrar redes de energia e a reduzir apagões no continente. (Dr. Eng. John Mativo/KETRACO/Reprodução)
Redator na Exame
Publicado em 20 de dezembro de 2024 às 09h30.
A Etiópia e o Quênia, dois líderes africanos no uso de energia renovável, inauguraram oficialmente a Rodovia de Eletricidade Etiópia-Quênia, uma megaestrutura que permite compartilhar eletricidade entre os dois países. A iniciativa busca solucionar desafios relacionados à geração de energia renovável, como a dependência de fatores climáticos e a dificuldade de armazenamento. A reportagem é da CNN.
A rodovia elétrica, inaugurada após uma década de construção e um investimento de US$ 1,2 bilhão (cerca de R$ 7,51 bilhões), é composta por 1.045 quilômetros de linhas de transmissão. Quando há excedente de eletricidade em um dos países, a energia é automaticamente direcionada para atender à demanda do outro, otimizando o uso dos recursos disponíveis.
A interconexão já beneficia o Quênia, que importa 200 megawatts diários da Etiópia — aproximadamente 10% da demanda máxima de sua rede nacional. A capacidade total de transferência da infraestrutura é de 2.000 MW.
Especialistas apontam que esse tipo de infraestrutura é essencial para garantir transições energéticas bem-sucedidas no continente. Segundo Darlain Edeme, analista de energia da Agência Internacional de Energia (IEA), o compartilhamento de energia “melhora a qualidade, confiabilidade, segurança e tem benefícios nos preços,” o que é fundamental em regiões com crescimento acelerado da demanda por eletricidade.
Na Etiópia, com uma população de quase 130 milhões de pessoas, o consumo per capita de eletricidade quadruplicou entre 2000 e 2022. No Quênia, o aumento foi de 75% no mesmo período. Com planos ambiciosos, como o objetivo da Etiópia de alcançar eletrificação universal até 2025, a necessidade de infraestrutura compartilhada se torna cada vez mais evidente.
Contudo, desafios financeiros e técnicos ainda limitam a expansão da eletricidade. Em 2024, o continente contava com cerca de 600 milhões de pessoas sem acesso à energia, o equivalente a quase metade da população africana. Projetos como a rodovia elétrica entre Etiópia e Quênia visam reduzir esse déficit de acesso.
A criação de interconectores exige investimentos elevados. O custo da Etiópia-Kenya Electricity Highway segue o padrão de outros projetos africanos, como a interconexão entre Zâmbia e Namíbia, concluída em 2010 por US$ 300 milhões (R$ 1,88 bilhão), e o sistema entre regiões da República Democrática do Congo, construído em 1982 por US$ 800 milhões (R$ 5,01 bilhões).
Apesar do custo, a iniciativa já trouxe resultados. Na Etiópia, as exportações de eletricidade, que antes se limitavam a Djibouti, aumentaram em quase 50%, gerando novas receitas e reduzindo o desperdício de energia excedente.
Daniel Schroth, diretor do Departamento de Energia Renovável e Eficiência Energética do Banco Africano de Desenvolvimento (AfDB), enfatiza a importância da infraestrutura para lidar com o crescente déficit de energia no continente. O AfDB contribuiu com mais de US$ 300 milhões (R$ 1,88 bilhão) para o projeto.
A rodovia elétrica faz parte do Pool de Energia da África Oriental (EAPP), que reúne 13 países com o objetivo de atender à crescente demanda e oferecer suporte em momentos de déficit energético. A próxima meta do EAPP é conectar a Tanzânia, já interligada ao Quênia, à Zâmbia, unindo as redes da África Oriental e Austral.
A longo prazo, a União Africana espera criar um mercado único de eletricidade no continente, com interconexões que incentivem a competição e reduzam os custos para os consumidores. Segundo Schroth, “não haverá transição energética sem transmissão.”
Além da África, projetos similares de interconexão têm se expandido globalmente. Na Europa, existem mais de 400 interconexões, incluindo uma entre Espanha e Marrocos. Um novo projeto entre Grécia e Egito, com previsão de conclusão para 2029, conectará diretamente os mercados energéticos europeu e africano.
“A África tem o potencial de se tornar uma potência em energia limpa,” afirma Edeme, da IEA. “Com mais cooperação internacional e investimentos, estamos vendo um impulso significativo no setor.”