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Parente de uma vítima da covid-19 planta uma árvore como parte do projeto Bosques da Memória, na cidade de Silva Jardim, Rio de Janeiro, em 16 de janeiro de 2021 (Florian PLAUCHEUR, Eugenia LOGIURATTO/AFP)
AFP
Publicado em 17 de janeiro de 2021 às 08h47.
Última atualização em 18 de janeiro de 2021 às 13h08.
Sob o céu azul de um sábado radiante, Paulo de Souza planta uma muda de ingá em um parque no interior do Rio de Janeiro; é uma homenagem ao irmão, um piloto aposentado que morreu no mês passado após contrair o novo coronavírus.
Silvio de Souza Junior “gostava da natureza (...) e gostava de voar. É uma bela forma de representá-lo”, diz à AFP seu irmão, um dos participantes do projeto Bosques da Memória, que busca reflorestar áreas litorâneas desmatadas do Brasil e homenagear as vítimas da pandemia.
Organizada por três redes de ONGs, a iniciativa prevê o plantio de 200 mil árvores no próximo semestre em diferentes regiões do país, com o duplo objetivo de ajudar as famílias a lidar com o luto e contribuir com o meio ambiente.
"Muitas dessas famílias não tiveram sequer oportunidade de enterrar seus entes queridos" devido aos riscos de contaminação, explica Luis Paulo Ferraz, um dos coordenadores do projeto.
Neste sábado (16), foram plantadas oito mudas de espécies nativas no parque da Associação Mico-Leão-Dourado, localizado a duas horas da cidade do Rio de Janeiro.
“Além da perda, o processo de passagem foi feito de forma muito violenta. E no gesto de plantar uma árvore, também estão depositando muito desse afeto, desse carinho, dessa saudade, nessa muda”, acrescenta Ferraz, secretário executivo da organização.
No total, este parque abrigará 6.800 novas árvores do projeto Bosques da Memória, mas nem todas terão placas com nomes de pessoas falecidas ou cerimônias com familiares, para evitar aglomerações.
A voz de José Oliveira Costa fica embargada ao pensar em sua filha Evandra, que faria 44 anos, mas morreu de covid-19 em novembro, após cinco dias entubada na UTI.
"O mundo está precisando de pessoas que tenham em mente esse propósito de plantar mais árvores quando há tanta destruição”, reflete.
Costa espera que a quaresmeira que ele plantou em sua homenagem, uma árvore exuberante de flores roxas, dure tanto quanto sua memória.
“A árvore para mim simboliza algo que dura muito tempo, simboliza a eternidade. Eu sei que o nome dela está aqui, vou voltar aqui outras vezes e vou ver essa árvore crescer", garante entre lágrimas.
Mais de 208 mil brasileiros morreram desde o início da pandemia, que voltou a piorar nos últimos dois meses.
O projeto foi criado pela Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA), a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) e o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica.
Segundo a organização SOS Mata Atlântica, este bioma que se estende por mais de 100 mil km2 ao longo da costa oceânica conserva apenas 12% de sua vegetação original devido ao processo de urbanização.