ESG

Podcast: como os flextarianos estão mudando o plantio de soja no mundo

Consumidores que estão diversificando as fontes de proteína criam demanda por grãos específicos para a produção de carne vegetal

Para produzir as carnes de planta, o ideal é contar com grãos especiais, diferentes da soja utilizada para a produção de ração animal — destino de quase a totalidade das safras (Alexis Prappas/Exame)

Para produzir as carnes de planta, o ideal é contar com grãos especiais, diferentes da soja utilizada para a produção de ração animal — destino de quase a totalidade das safras (Alexis Prappas/Exame)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 15 de junho de 2021 às 16h17.

Última atualização em 15 de junho de 2021 às 16h40.

Há uma nova categoria de consumidores no mercado de alimentação. Os “flextarianos” são aqueles que estão diversificando as fontes de proteína, ou seja, buscam comer menos carne. Porém, ao contrário dos veganos e dos vegetarianos, que eliminam por completo a proteína animal, o flextariano recorre às “carnes de planta” — na prática, ele aumenta o consumo de proteínas.

O cenário impulsiona o mercado de proteína vegetal, que deve crescer entre 12% e 14% ao ano, na próxima década. “O consumo sobe no mundo inteiro, não apenas na Europa e nos Estados Unidos”, afirma Letícia Gonçalves, CEO global da divisão de nutrição humana da ADM, uma das maiores tradings de soja do mundo.

A executiva foi a convidada desta semana do podcast ESG de A a Z, produzido pela EXAME. Ouça abaixo a entrevista completa.

O aumento da demanda por proteína vegetal está criando um novo mercado para produtores de soja. Segundo Gonçalves, para produzir as carnes de planta, o ideal é contar com grãos especiais, diferentes da soja utilizada para a produção de ração animal — destino de quase a totalidade das safras.

“Por enquanto, é um mercado de nicho. Mas vai crescer e se tornar muito relevante”, afirmou Gonçalves, destacando que é uma grande oportunidade para os produtores brasileiros. “Não acredito que um mercado vá canibalizar o outro. A demanda continuará aquecida.”

Mercado em franco crescimento

O setor de proteína vegetal tem atraído diversos gigantes do setor de alimentação, em toda a cadeia. Além da ADM, a Cargill, outra grande trading de soja, iniciou uma marca de produtos de carne vegetal chamada PlantEver — a marca da ADM, fruto de uma joint-venture com a brasileira Marfrig, se chama PlantPlus.

Em abril, a JBS adquiriu a  totalidade das ações da Vivera, a terceira maior empresa de produtos “plant-based” da Europa, por 341 milhões de euros. O montante é equivalente a 2,28 bilhões de reais. A operação inclui três unidades produtivas da Vivera e um centro de pesquisas localizados na Holanda.

No dia do anúncio, as ações da empresas brasileira subiram mais de 4%. Segundo o presidente da JBS, Gilberto Tomazoni, a Vivera “traz musculatura no setor de plant based com conhecimento tecnológico e capacidade de inovação”.

Carne, a grande vilã

Recentemente, um dos restaurantes mais apreciados de Nova York, o Eleven Madison Park, decidiu abandonar a carne. "O sistema de comida atual simplesmente não é sustentável", afirmou Daniel Humm, o chef do restaurante, ao jornal The New York Times.

Segundo reportagem da agência Bloomberg, esse não é um caso isolado. O site de culinária Epicurious parou de postar novas receitas com carne bovina. O Culinary Institute of America está promovendo menus “à base de plantas”. Dezenas de universidades, como Harvard e Stanford, fazem a transição para refeições que respeitem o meio ambiente.

A reportagem aponta que, se a tendência continuar, a carne bovina pode virar o novo carvão, e ser rejeitada pelos impactos que a sua produção causa no meio ambiente.

“A carne bovina está sob muita pressão”, disse à Bloomberg Anthony Leiserowitz, diretor do Programa de Comunicações sobre Mudança Climática da Universidade Yale. “A mudança nas forças do mercado foi a sentença de morte para o carvão. E é a mesma coisa neste caso. Vai ser a mudança nos gostos e preferências dos consumidores, não uma determinada regulamentação.”

Para Letícia Gonçalves, da ADM, essa preocupação é, por enquanto, infundada. Pode ser, mas, por via das dúvidas, a empresa já está preparada para a transição.

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