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Sobre a água: usina solar flutuante em construção na província de Anhui, na China. (Kevin Frayer/Getty Images)
Publicado em 3 de janeiro de 2025 às 11h00.
Última atualização em 3 de janeiro de 2025 às 16h11.
As usinas solares flutuantes têm atraído bastante interesse global nos últimos anos. O conceito é semelhante ao das usinas instaladas em solo. Entretanto, apesar da crescente competitividade da energia solar (os módulos hoje custam da ordem de 10 centavos de dólar por watt), existem alguns desafios técnicos específicos. Por exemplo, é necessário garantir estabilidade relacionada aos esforços mecânicos provocados por ventos, ondas e variação de nível dos reservatórios, além de proteção para evitar que algas macrófitas se prendam aos módulos.
Por outro lado, como a maioria dos reservatórios está perto de centros populacionais, esses projetos podem trazer ganhos para pequenas vilas e grandes metrópoles. Além disso, usinas solares flutuantes podem apresentar outras vantagens em relação às tradicionais, como não interferir com diversos usos do solo em espaços que podem ser escassos em países menores e com maior densidade populacional.
A eficiência de produção de energia, por sua vez, é maior pelo efeito de temperatura. Devido à proximidade da água, os módulos fotovoltaicos de uma usina flutuante atingem temperaturas menores que as de uma usina no solo, correspondendo a um ganho de 0,4% de potência por grau Celsius. Considerando o aquecimento global, esse deverá ser um benefício crescente ao longo do tempo.
Adicionalmente, as usinas flutuantes reduzem a evaporação de corpos hídricos, o que pode ser um aspecto interessante em países com menor disponibilidade de água. Esses sistemas reduziriam ainda a evaporação global da ordem de 100 bilhões de m3 de água/ano, o que equivale ao volume máximo de três reservatórios de Sobradinho, o maior lago artificial do Brasil.
Segundo um artigo da revista Nature Sustainability, que avaliou bases de dados de reservatórios em todo o mundo a partir de dados climáticos locais, estima-se que se 30% dos mais de 100 mil reservatórios globais fossem cobertos por solares flutuantes, a geração anual de energia elétrica seria da ordem de 9.500 terawatts-hora (TWh) – cerca de um terço da produção global.
Outro artigo da Nature afirma que, se 10% dos reservatórios das hidrelétricas do mundo fossem cobertos com usinas solares flutuantes, a capacidade de geração seria igual à disponibilizada por todas as usinas fósseis existentes no planeta.
Dessa forma, a integração da energia solar flutuante com a hidrelétrica emerge como uma solução potencial para aumentar a eficiência e a capacidade de produção de energia limpa, aproveitando infraestruturas já existentes, podendo compartilhar a mesma subestação e o acesso à rede elétrica, além de reduzir também custos operacionais.