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O que está por trás da nova onda de calor no Brasil?

Alerta vermelho do Inmet coincide com recorde de temperatura em São Paulo para o mês de dezembro e é mais um retrato dramático das mudanças climáticas

Segundo a ONU, 2025 deve ser o segundo ou terceiro ano mais quente já registrado (Mike Blake/Reuters)

Segundo a ONU, 2025 deve ser o segundo ou terceiro ano mais quente já registrado (Mike Blake/Reuters)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 29 de dezembro de 2025 às 06h00.

A nova onda de calor que se espalhou pelo Brasil neste início de verão é mais um reflexo das mudanças climáticas em curso, que tem elevado as temperaturas médias e ampliado a frequência e a intensidade de eventos extremos.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mantém alerta vermelho para partes das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, em um episódio que já empurra os termômetros para cerca de 5°C acima da média histórica.

O fenômeno ganhou força a partir do último dia 23 e se intensificou com a chegada oficial do verão, no domingo, 21. Na quinta-feira, 25, São Paulo registrou 35,9°C, a maior temperatura já observada em dezembro na série histórica da capital, um retrato do que se tornou cada vez mais comum.

Segundo meteorologistas, a atual onda de calor é resultado da atuação de uma massa de ar quente e seco, reforçada pela Alta Subtropical do Atlântico Sul, que tem inibido a formação e o avanço das chuvas no Centro-Sul do país. Em um clima mais quente, sistemas atmosféricos desse tipo tendem a produzir impactos mais intensos e persistentes.

Mas afinal, por que está tão quente? Já é consenso na ciência que as mudanças climáticas estão diretamente associadas ao aumento das temperaturas e à maior recorrência de eventos extremos — como as ondas de calor. 

Willians Bini, Climate Business Strategist e metereologista há mais de 25 anos, destacou à EXAME que os últimos dois anos têm sido de 'anomalias positivas' (altas nos termômetros) em praticamente todo o planeta. 

"Nós já ultrapassamos os 1,5ºC estipulados pelo Acordo de Paris. Quando vemos as projeções, estas tendências devem persistir. Não podemos mais apenas falar de mitigação dos riscos e sim de adaptação às novas condições impostas pelo clima", disse.

Pela primeira vez na história, 2024 bateu o marco limítrofe e o mundo registrou a média mais alta em um período de 12 meses: 1,52ºC.  Janeiro deste ano também foi o mês mais quente registrado até então.

O especialista ressalta que o fenômeno se caracteriza por uma conjuntura climática de pelo menos 5ºC acima da média por no mínimo cinco dias consecutivos.

Além da mudança climática, outro fenômeno que influencia é o La Niña, caracterizado pelas temperaturas mais frias do que o normal na superfície do Oceano Pacífico e que reflete de diferentes formas no Brasil. Enquanto no Sul há uma redução na precipitação e risco de estiagem, no Nordeste acontece o oposto.

"Estamos vivendo irregularidades, o que acaba levando ao pico de altas por vários dias seguidos", explicou Willians. 

Na região Sudeste, a sequência de dias muito quentes tem sido interrompida por frentes frias e instabilidades pontuais, que não chegam a aliviar de forma duradoura as altas temperaturas, mas indicam um padrão mais variável do que o típico para o verão.

Esses sistemas ajudam a trazer chuva e reduzir temporariamente o calor, mas não têm sido suficientes para impedir episódios prolongados de calor intenso.

Cuidados redobrados

Ondas de calor são um 'desastre negligenciado' e diferente do que muitos pensam, matam mais que tempestades e deslizamentos. Um estudo recente divulgado pela organização ambiental Germanwatch revelou que o clima extremo causou 800 mil mortes e prejuízo de US$ 4,2 trilhões em 30 anos. 

Visto o cenário atual de alta nos termômetros, a defesa civil emitiu um alerta: redobrar a atenção com idosos e crianças, que devem ingerir bastante água para se manterem hidratados e protegidos do sol.

A médica Emergencista e Chefe do Serviço de Emergência do Hospital Moinhos de Vento, Alessandra Wanderley Tobaru, explicou à EXAME, que naturalmente o corpo humano mantém uma temperatura média de 36,5°C. Quando exposto a um calor acima do normal, ocorre o aumento da sudorese, a fim de levar ao resfriamento e dilatação dos vasos sanguíneos.

"Então há um risco maior de desidratação e queda da pressão arterial, levando aos sintomas de mal estar, tonturas, dor de cabeça, fraqueza e até desmaios", destacou.

Entre suas recomendações, estão: usar roupas leves e fatores de proteção solar tanto químicos (filtro solar) como físicos (óculos, chapéus) e evitar exposição direta ao sol -- principalmente entre o período de 10h às 16h.

As crianças e idosos são grupos de maior risco, devido ao mecanismo de regulação da temperatura corporal funcionar de forma diferente nos extremos das idades, explicou Alessandra. Além disso, pacientes com doenças crônicas também são mais vulneráveis.

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