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Larry Fink, CEO da BlackRock: “Investir é um ato de otimismo” (Colaborador/Bloomberg)
Editor ESG
Publicado em 15 de março de 2023 às 20h02.
Última atualização em 15 de março de 2023 às 20h07.
Como navegar em uma crise pensando no longo prazo. Esse deveria ser o título da mais recente carta anual de Larry Fink, CEO da BlackRock, a maior gestora do mundo, aos clientes e demais stakeholders da companhia. O documento, sempre aguardado pelo mercado, aponta para um cenário desafiador, estabelecido no ano passado, que deve persistir em 2023. “Pela primeira vez em décadas, os mercados de capitais e de títulos declinaram juntos em 2022”, afirma Fink, logo no início.
Situações urgentes requerem soluções na mesma medida, e Fink deixa claro que, apesar de encorajar seus clientes a sempre pensar a longo prazo, o “curtoprazismo” faz parte da responsabilidade fiduciário de um gestor. Diante de uma iminente crise bancária nos Estados Unidos, desencadeada pela quebra do Silicon Valley Bank na semana passada, surgem novas prioridades. “Ainda não sabemos de que forma isso vai cascatear pelo setor bancário”, aponta o CEO, alertando para a provável volatilidade dos mercados nos próximos dois anos, um cenário de riscos elevados, mas também de oportunidades.
A possível crise de liquidez é mais um dos fatores a gerar pressão inflacionária, que continuará a ser o foco do Federal Reserve, o banco central americano. E, embora o mercado financeiro esteja em melhores condições do que em 2008, os bancos centrais dispõem de um número limitado de ferramentas para o controle, justamente em função desse período de dinheiro farto. Com isso, o vetor de crescimento econômico deve mudar.
“Após anos de crescimento puxado por gastos do governo, o mundo precisa que o setor privado lidere o crescimento econômico e eleve o padrão de vida da população ao redor do globo”, diz Fink. “Precisamos de líderes que reconheçam esse imperativo e trabalhem juntos para destravar o potencial do setor privado.”
Como escreveu na carta passada, Fink destacou as mudanças nas cadeias de suprimentos globais que estão em curso. A polarização política, a pandemia e a invasão da Ucrânia pela Rússia levam os líderes globais a trocar eficiência e custos menores por resiliência e segurança nacional. Isso levará a uma economia mais fragmentada, e é importante os investidores reconhecerem os riscos e oportunidades dessa mudança.
“O capital não será alocado nos negócios que oferecem maiores retornos, independentemente de onde estão localizados”, afirma. No curto prazo, haverá um efeito inflacionário, e Fink prevê que a subida nos preços ficará entre 3,5% e 4% nos próximos anos.Mais da metade dos ativos da BlackRock, que somam mais de 8 trilhões de dólares, estão relacionado a aposentadorias. Fink se orgulha de ajudar os clientes a pensar no futuro, porém, reconhece que há uma crise sendo criada em virtude do maior protagonismo dos indivíduos na gestão de suas aposentadorias. Muitas pessoas poupam, mas não investem, o que será insuficiente para garantir uma aposentadoria satisfatória. Ao mesmo tempo, há um contingente grande de pessoas que precisam gastar suas poupanças em investimentos.
Em cima disso, há o problema da falta perspectiva. “Investir é um ato de otimismo”, diz Fink. Se as pessoas não enxergam um futuro melhor, têm pouco ou nenhum incentivo para guardar dinheiro.
Ainda em relação ao futuro, Fink abordou a questão da emergência climática, um dos tópicos mais presentes nas cartas anteriores. “Ainda acredito que os próximos 1.000 unicórnios não serão mecanismos de buscas ou redes sociais, mas empresas capazes de tornar a transição energética mais acessível”, escreveu.O CEO, no entanto, ressaltou que apostar na transição energética ou não é uma decisão do cliente, e há quem o faça, ou não. O papel da BlackRock, nesse caso, é oferecer a possibilidade de escolha e as informações necessárias para a tomada de decisão. “Governos é que devem determinar as políticas, não é papel das empresas, ou das gestoras, serem polícia ambiental”, afirmou Fink.