Mudanças climáticas tornaram o mundo US$ 1,5 trilhão mais pobre
Pesquisador aponta que países mais próximos aos trópicos e com menor renda foram os que mais perderam
Jornalista
Publicado em 27 de novembro de 2023 às 16h28.
Última atualização em 28 de novembro de 2023 às 11h11.
Os impactos econômicos causados pelas mudanças climáticas estão corroendo o PIB global ao longo dos anos. O estudo “Perdas e danos hoje - como o clima afeta a produção e o capital”, conduzido James Rising, professor assistente da Universidade de Delaware e especialista em riscos climáticos, divulgado na segunda-feira (27), mostra que desde a Rio 92 até 2022, as economias dos países perderam US$ 1,5 trilhão. O tamanho do impacto varia, ou seja, está relacionado à vulnerabilidade de cada país.
No ano passado, a percentagem não ponderada do Produto Interno Bruto (PIB) mundial perdido é estimada por Rising em 1,8%. Já a projeção ponderada aponta para uma perda de 6,3%. A diferença entre os dois números, segundo o pesquisador, reflete a distribuição desigual dos impactos, concentrados nos países de renda mais baixa e nas regiões tropicais, que normalmente têm mais população e menos PIB.
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Os países menos desenvolvidos estão expostos a uma perda média de perda média do PIB ponderada pela população de 8,3%, enquanto os países do Sudeste Asiático e da África Austral perderam, em média, de 14,1% e 11,2%, respectivamente.
O Brasil, segundo a pesquisa, perdeu no ano passado 2% do seu PIB em decorrência das mudanças climáticas.
Rising explica que o resultado foi obtido a partir da análise de toda a literatura sobre as consequências da temperatura no produto interno bruto, o que possibilitou uma reflexão obre as diferentes decisões que são tomadas para o planeta.
“Temos oito estudos diferentes e deles foram retirados 58 modelos da relação entre as alterações climáticas e o PIB. Portanto, todos eles estão aqui representados”, detalha o pesquisador.
Fundo de compensação na COP28
A projeção do pesquisador mostra ainda que desde a Rio92, essas perdas globais somaram até 2022 a cifra de US$ 21 trilhões. Números como os apontados por Rising devem ajudar a pautar as discussões sobre o futuro fundo de compensação para perdas e danos decorrentes da mudança do clima durante a COP28, em Doha, que começa na quinta-feira (30).
Se uma parte do planeta sente os impactos negativos das mudanças climáticas na geração de riqueza, há outra que tem se beneficiado, em particular a Europa e o norte da Ásia. A estimativa apontada no estudo por Rising é de que ambos tiveram um ganho de 4,7% no PIB em função das novas variáveis do clima. Isso porque as duas regiões tiveram uma redução do frio durante o inverno, que reduz o consumo de energia. No entanto, à medida que o planeta continua a aquecer, deverá haver uma inversão e os efeitos vão se tornar negativos.
Mais ricos têm sentem menos
Tanto os Estados Unidos e a China, as duas maiores economias do mundo, estão próximos do ponto em que as perdas geradas pelas temperaturas mais quentes ultrapassam os benefícios dos Invernos mais amenos. Os EUA, segundo o estudo, não registaram praticamente nenhum ganho ou perda no PIB em 2022, enquanto a China registou uma perda de 1,8%.
Rising alerta para o que esperar em 2023. As projeções do pesquisador indicam que as perdas anuais poderão chegar a 2,05% do PIB global, ou seja, cerca de US$ 2,1 trilhões - valor bem próximo do PIB do Canadá.