Mudanças climáticas podem custar US$ 1,1 bilhão para os sistemas de saúde globais, revela estudo
Relatório inédito do Fórum Econômico Mundial e da consultoria Oliver Wyman avalia impacto de eventos climáticos na maior incidência de doenças e foi apresentado em reunião do GT de Saúde do G20
Repórter de ESG
Publicado em 29 de outubro de 2024 às 17h19.
Última atualização em 1 de novembro de 2024 às 10h54.
"O desafio urgente das mudanças climáticas exige sistemas de saúde globais resilientes capazes de se protegerem de crises de larga escala e potencialmente longas", disse Oliver Eitelwein, sócio da Prática de Health e Life Sciences da Oliver Wyman, em entrevista exclusiva à EXAME.
O executivo lidera a área de sustentabilidade da consultoria que é uma das maiores do mundo etem uma divisão de Health e Life Sciences dedicada a pesquisas e implantação de projetos de mitigação de riscos climáticos nos sistemas de saúde público e privado.
Nesta terça-feira (29), Oliver apresenta umrelatório inédito feito em conjunto com oFórum Econômico Mundialdurante uma reunião doGrupo de Trabalho de Saúde do G20no Rio de Janeiro, sobre os impacto deeventos climáticos extremosna maior incidência e propagação de uma série de doenças. Na ocasião, também estiveram presentes a Organização Pan-Americana da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Um dos dados alarmantes é que asmudanças climáticaspodem levar a umcusto extra de US$ 1,1 bilhãopara os sistemas de saúde globais eresultar emUS$ 12,5 trilhões em perdas econômicasadicionais devido à queda de produtividade e crescimento econômico.Além disso, pode levar a mais 14,5 milhões de mortes até 2050 e forçar milhões de pessoas a se deslocarem em função da falta de água potável ou inundações e secas. Ao todo, foram avaliadas seis grandes categorias de eventos do clima e também seus reflexos na desnutrição e poluição do ar.
"Não há dúvida de que o aquecimento global e os eventos extremos — mais frequentes e ferozes devido ao aumento das temperaturas — estão agravando problemas de saúde no mundo e sobrecarregando muitos sistemas que já estão no limite", destacou Oliver.
Segundo o especialista, o impacto devastador da crise climática na natureza — desde o derretimento das geleiras e o aumento do nível do mar até a destruição da biodiversidade — já está bem documentado.O novo estudo surge então para dar luz a um tema não tão abordado pela ciência, que é justamente a correlação entre saúde humana e clima e também fazer um apelo para que os setores público e privado invistam em resiliência, pesquisas e tecnologias para reduzir as consequências mais graves de um planeta mais quente.
Outro destaque é que as mudanças climáticas devem agravar as desigualdades neste setor e quem mais irá sofrer são as populações mais vulneráveis — incluindo mulheres, indígenas, jovens, idosos, grupos de baixa renda e comunidades remotas.
Entre os seis riscos climáticos analisados, as inundações representam o maior e poderiam matar 8,5 milhões de pessoas. A seca vem em segundo lugar, com previsão de levar a 3,2 milhões de mortes. Já as ondas de calor vão cobrar o maior prejuízo econômico, estimado em US$ 7,1 trilhões até 2050 — devido principalmente à perda de produtividade.
No entanto, Oliver ressalta que ainda há tempo para que a economia mundial reduza de forma decisiva as emissões de gases estufa e adote estratégias para proteger a saúde humana. "Para isso, é fundamental que os formuladores de políticas reconheçam e abordem a insuficiente preparação dos sistemas para mitigar as consequências mais graves", reiterou.
Além disso, ele destaca a necessidade de se preparar para um cenário em que não iremos conseguir limitar o aumento das temperaturas aos 1,5 °C do Acordo de Paris e considerar um cenário realístico de aquecimento entre 2,5 e 2,7 °C.
Cúpula de Davos em 2025
Olhando para o futuro, a consultoria Oliver Wyman e o Fórum Econômico Mundial devem publicar um novo relatório complementar na Cúpula Anual de Davos do próximo ano.Este deve explorar soluções para prevenir as consequências mais negativas da crise climática iminente na saúde e apresentará caminhos para as indústrias agirem pela mitigação.
Serão três estratégias prioritárias: focar em tornar os sistemas de saúde locais resilientes ao clima; estimular a inovação em saúde, ciências da vida e academia para enfrentar as novas condições impostas pela mudança climática e alocar recursos governamentais e implementar políticas que possibilitem uma resposta global robusta—tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento.
Segundo Oliver, se define resiliência como a capacidade de um sistema evitar e conter uma crise, estabilizar-se após e, finalmente, se recuperar dela."Vimos de perto esta carência durante a pandemia de Covid-19, quando hospitais no mundo todo ficaram sobrecarregados pela demanda e ausência de pessoal. Para se tornarem resilientes ao clima, as localidades precisam primeiro entender como este afetará seus sistemas", destacou.
Já a inovação por meio de pesquisa e desenvolvimento no setor privado e acadêmico diz respeito a descoberta de novas vacinas e tratamentos. Para chegar lá, são necessários muito mais subsídios direcionados, além de uma redução da burocracia em projetos de longo prazo, explicou Oliver.
Por último, a prioridade é garantir financiamento governamental suficiente e sustentável, assim como políticas de apoio que reflitam os longos ciclos de inovação em P&D de tecnologias farmacêuticas, dispositivos médicos e saúde digital. Isto exigiria mecanismos de investimentos globais, contribuições individuais de países mais desenvolvidos e parcerias público-privadas, defendeu Oliver.
"Isso inclui a discussão e apelo também no G20 de ação na interseção entre clima e saúde, o potencial para a inovação do setor privado e o papel dos governos em liberar capital privado", concluiu.