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Metade dos países não tem sistema de alerta precoce contra riscos climáticos

Apesar das nações na linha da frente das alterações climáticas terem aumentado a proteção, os progressos são insuficientes, como na África

Alerta: houve um aumento de 80% no número de pessoas afetadas por catástrofes desde 2015 (Photo by Sodiq Adelakun/Anadolu Agency/Getty Images)

Alerta: houve um aumento de 80% no número de pessoas afetadas por catástrofes desde 2015 (Photo by Sodiq Adelakun/Anadolu Agency/Getty Images)

Paula Pacheco
Paula Pacheco

Jornalista

Publicado em 3 de dezembro de 2023 às 11h08.

Última atualização em 4 de dezembro de 2023 às 10h53.

Relatório divulgado neste domingo, 3, em Dubai, durante a COP28, pelo Gabinete das Nações Unidas para a Redução do Risco de Catástrofes (UNDRR) e a Organização Meteorológica Mundial (OMM), revela que metade dos países no mundo ainda não conta com sistemas adequados de alerta precoce contra riscos múltiplos.

Segundo o relatório "2023 Global Status of Multi-Hazard Early Warning Systems", que analisa os dados mais recentes um ano após o início da iniciativa "Alerta Rápido para Todos" e tem como objetivo abranger todas as pessoas em todo o mundo até 2027, mais vidas estão a ser protegidas de condições meteorológicas extremas e dos impactos perigosos das alterações climáticas, mas muito ainda tem de ser feito.

Ainda segundo o estudo, 101 países declararam ter um sistema de alerta rápido, um aumento de apenas seis países em comparação com o ano passado. No entanto, esse número é o dobro em relação ao apontado em 2015.

"Os progressos são encorajadores, mas não devemos ser complacentes. Com um aumento de 80% no número de pessoas afetadas por catástrofes desde 2015 e metade do mundo ainda sem acesso a alertas precoces, é imperativo tomar medidas agora para salvar vidas, meios de subsistência e bens", afirmou Mami Mizutori, representante especial do Secretário-Geral das Nações Unidas para a Redução do Risco de Catástrofes e Chefe da UNDRR.

“O que estamos a fazer no âmbito da iniciativa "Alerta Rápido para Todos" pode proteger e salvar as comunidades vulneráveis dos piores impactos. Trata-se de um objetivo ambicioso, mas também exequível", disse António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, durante a apresentação.

Guterres apelou por uma aceleração da velocidade e da escala do apoio nos países em 2024. "Para que se torne realidade, precisamos de todas as mãos no convés a remar na mesma direção, colaborando e cooperando de uma forma que nunca fizemos antes".

África abaixo da média global

Outra conclusão é que África duplicou a qualidade da cobertura dos sistemas de alerta precoce. Apesar do avanço, o continente segue abaixo da média global. Menos de metade dos países menos desenvolvidos e apenas 40% dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento dispõem de um sistema de alerta precoce multi-riscos. “Nos Estados Árabes, os conhecimentos sobre os riscos que servem de base aos sistemas de alerta precoce são particularmente reduzidos”, aponta o documento.

O aumento da cobertura de sistemas de alerta passa pela disponibilidade de recursos. Neste domingo, foram feitos novos anúncios na COP, incluindo 6 milhões de euros da Dinamarca, pouco mais de 5 milhões de euros da Suécia e a confirmação de um financiamento adicional de 8 milhões de euros da França.

Com o compromisso conjunto de todos os principais bancos multilaterais de desenvolvimento e do Fundo Verde para o Clima de aumentar o investimento em sistemas de alerta precoce, a expectativa é de que se intensifique o apoio a mais países e na garantia do financiamento necessário para a concretização da iniciativa "Alerta Rápido para Todos" nos próximos quatro anos.

Avanços

Entre os países que avançaram em seus planos de ação nacionais específicos e de estruturas de coordenação estão as Maldivas, o Laos e a Etiópia. O Benim reforçou as comunicações para chegar às comunidades de maior risco. Ainda segundo o relatório, o aviso de cheias repentinas nas Ilhas Fiji foi reforçado para proteger toda a população de quase um milhão de pessoas.

"Estamos fazendo progressos, mas temos de fazer mais. Muitos países em África, no Pacífico e na América do Sul ainda têm lacunas significativas no que diz respeito ao número mínimo de observações meteorológicas necessárias para a realização de previsões. Os alertas precoces são o fruto mais fácil da adaptação às alterações climáticas. Não são um luxo, mas uma necessidade", afirmou o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.

Muitos ainda são afetados

O relatório da WMO-UNDRR recomenda o investimento na governação do risco como base comprovada para permitir sistemas de alerta precoce eficazes. Os países com estratégias mais abrangentes, que integram a adaptação às alterações climáticas e a resiliência às catástrofes, registaram uma cobertura ainda melhor dos sistemas de alerta precoce.

O relatório também salienta a intensificação dos esforços para garantir que as comunidades de difícil acesso disponham de sistemas de alerta precoce que cheguem a todos e que se baseiem nas necessidades locais.

O documento aponta a necessidade de reforçar as ações de antecipação para melhorar a preparação. Os níveis de preparação das comunidades melhoraram, com 250 milhões de pessoas evacuadas todos os anos a nível mundial desde 2015 antes da ocorrência de uma catástrofe.

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