ESG

Mães estão menos satisfeitas que pais e líderes no ambiente de trabalho

Mapeando um Ambiente Pró-família nas Organizações, realizado pela consultoria Filhos no Currículo, mostra diferentes percepções sobre o acolhimento no trabalho quando o assunto é parentalidade. A pesquisa também indica caminhos para a melhoria

Consultoria Filhos no Currículo divulga pesquisa Mapeando um Ambiente Pró-família nas Organizações (filadendron/Getty Images)

Consultoria Filhos no Currículo divulga pesquisa Mapeando um Ambiente Pró-família nas Organizações (filadendron/Getty Images)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 5 de abril de 2022 às 07h00.

Última atualização em 5 de abril de 2022 às 14h08.

As mães são mais criteriosas do que pais e líderes quando o assunto é satisfação no ambiente de trabalho, é o que revela o Mapeando um Ambiente Pró-família nas Organizações, realizado pela consultoria Filhos no Currículo, divulgado em primeria mão pela EXAME.

Dados do levantamento indicam que 90% dos pais acreditam que a empresa na qual trabalham é um bom lugar para as mães trabalharem. Mas, quando a mesma pergunta é feita para essas mães, o índice cai para 68%. A discrepância também acontece entre líderes (83%) e colegas de profissionais com filhos (80%).

As mulheres com filhos também se mostram mais criteriosas quando interrogadas se a empresa é um bom lugar para os pais trabalharem, se mostrando menos otimistas (77%) em relação aos colaboradores homens com filhos (87%), bem como aos líderes (83%).

"A carga mental acumulada nas mulheres gera esse impacto na satisfação e percepção. Além disto, de maneira geral, os dados parecem otimistas, mas mudam quando os temas são aprofundados", diz Michelle Terni, cofundadora da consultoria Filhos no Currículo e idealizadora da pesquisa.

(Filhos no Currículo/Reprodução)

De primeira, 70% dos funcionários se declararam acolhidos pelo seu líder direto, mas, ao serem questionados se sentiam alguma insegurança para comunicar suas necessidades com clareza para o gestor, 45% responderam ainda ficar inseguros, e 35% dos colaboradores, em geral, afirmaram ter nenhuma ou pouca clareza acerca das políticas de parentalidade da organização.

Com relação à liderança, 98% afirmam se sentir seguros em gerir uma equipe de profissionais com filhos, mas, ao serem perguntados sobre o grau de segurança para esclarecer dúvidas relacionadas as políticas de parentalidade, esse percentual cai para 73%.

Entre as iniciativas socioemocionais apontadas como desejáveis num ambiente pró-família, liderança acolhedora e empática foi requisito principal apontado pelos profissionais. Em seguida está a recepção no retorno da licença, preparação para a licença maternidade, mentorias de carreira após a chegada dos filhos, apoio psicológico e, por fim, programas de acompanhamento para gestantes e parceiros.

E, quando questionados sobre o benefício essencial na criação de um ambiente pró-família, a maioria das pessoas lideradas apontou a jornada de trabalho flexível em primeiro lugar, superando a licença maternidade e paternidade estendida, o auxílio-creche e o plano de saúde estendido aos dependentes.

"Para que as mães e pais sejam de fato acolhidos no ambiente de trabalho é preciso a estruturação de políticas efetivas, que considere as necessidades de cada profissional e os respeite nas diferentes etapas da parentalidade", diz Terni.

Momentos desafiadores na parentalidade

Os resultados da pesquisa levantam outro aspecto importante: 1 em cada 4 dos entrevistados vivenciam ou vivenciaram uma parentalidade com desafios, caracterizada pelo luto gestacional, a parentalidade solo ou de filhos com necessidades específicas, adoção, gestação de risco ou prematuridade, dentre outros casos.

A maioria deles apresentou uma visão ainda mais crítica com relação às práticas de parentalidade desenvolvidas nas empresas. Eles também expõem mais falta de segurança no retorno após o período de licença.  A diferença de insegurança desse grupo para àqueles que não têm uma parentalidade desafiadora, chega a dez pontos percentuais.

"Muitas pessoas passaram pela perda gestacional e outros desafios, mas não encontraram acolhimento para isto nas empresas, porque são assuntos pouco tratados nas empresas. É preciso que as companhias considerem esse período necessário de licença e cuidado", diz Terni.

Além disso, há falta a atenção especial no retorno ao trabalho, sendo que 25% dos pais e mães revelam insegurança nessa fase. Para os líderes, esse também é o momento de menor percepção de segurança desde a saída para a licença. A importância de um olhar atento nesse momento é tão crítica, que consta entre as top 5 iniciativas almejadas para a criação de um ambiente de trabalho que respeite a parentalidade (58%).

A pesquisa também apurou as percepções na espera do bebê: 4 em cada 10 entrevistados disserem ter apresentado algum grau de insegurança para dar a notícia da gestação e cuidar de suas necessidades físicas e emocionais. Em relação à licença maternidade e retorno ao trabalho, sustentar a amamentação nesse retorno foi considerado preocupante para metade das mães.

"Há uma hipótese de que, apesar da pesquisa ser anônima, muitas pessoas se dizem ser acolhidas pelos líderes por receio de algum impacto no trabalho, mas os dados apresentam outras percepções quando falamos de momentos específicos como retorno da licença, aviso sobre a gestação e mais".

(Filhos no Currículo/Reprodução)

Para avançar, a criação de um ambiente pró-família

Para avançar, a consultoria Filhos no Currículo indica três caminhos: o primeiro deles é reforçar o trabalho de base dentro das empresas - que passa pela implementação de benefícios (como jornadas flexíveis, licenças parentais, auxílios financeiros e de saúde), até a mudança no comportamento da liderança.

Outro ponto é tratar a causa das disparidades encontradas no mercado em relação ao que é este ambiente pró-família. "A maioria se diz satisfeita com as práticas das empresas, ou seguras para liderar funcionários com filhos. Ao mesmo tempo, sinalizam desconhecer o que é uma política parental ou não ter preparo para orientar sobre o assunto”.

A respeito da visão mais criteriosa das entrevistadas mães, Michelle afirma que o terceiro caminho é trazer mais isonomia para a conversa. “A realidade começará a mudar quando as empresas ampliarem a pauta, deixando de falar somente para e com a mulher, e passarem a abrir diálogo e propor benefícios e políticas para a família, em seus vários formatos possíveis".

(Filhos no Currículo/Reprodução)

Metodologia

Os dados do levantamento são da Filhos no Currículo, consultoria focada em criar ambientes corporativos cada vez mais acolhedores para pais e mães, e teve o apoio do Movimento Mulher 360 e do Talenses Group. Foram ouvidos 1.568 profissionais de empresas de todas as regiões do país, entre novembro de 2021 e janeiro de 2022, por meio de um questionário online 90% quantitativo. As perguntas foram respondidas por pessoas das redes sociais e comunidades da consultoria, bem como por funcionários de parceiros e clientes.

Depoimentos anônimos colhidos na pesquisa

  • “(Uma empresa pró-família é) um ambiente onde a chegada de um novo membro na família seja vista de maneira tão natural pelos líderes e pares, que o responsável não sinta receio de falar sobre o assunto e no impacto em seu desenvolvimento profissional”.
  • “Trabalhar com uma líder que entende os desafios da maternidade faz toda diferença. Já desisti de propostas de emprego aparentemente melhores em termos de posição e salário justamente por perceber que não teria flexibilidade alguma e teria que passar muito tempo longe dele, seja por deslocamentos infinitos, seja por super demanda de viagens. Ser mãe não me limita. E não quero um emprego que limite minha maternidade”
  • “Quero que as empresas entendam que não sou divisível nos meus papéis. Sou sempre mãe e naquele momento ESTOU trabalhando. Meu filho existe, mesmo no horário comercial. E eu sou mãe no horário comercial. E minhas escolhas e visão de mundo possuem esse filtro também, de alguém que tem filhos, que enxerga o mundo por essa ótica.”
  • “Sou homem, gestor e tenho uma líder mulher que foi muito pouco compreensiva na hora de eu tirar os 20 dias de licença paternidade. A empresa tem alguns bons benefícios, mas a prática da liderança passa longe disso. Dá a entender que os benefícios são para “parecer legal” para o mercado e atrair talentos”.
  • “O luto gestacional é muito negligenciado pelas empresas e afeta muito a saúde mental das pessoas. Tive duas perdas que necessitaram de internação hospitalar e em uma delas não fiquei nem ao menos um dia afastada, trabalhei firme, mas com dores no corpo e no coração e sei que isso cobrou seu preço na minha saúde mental. As empresas e gestores precisam estar preparadas para lidar com estas situações.”
  • “Minha carreira alavancava ano a ano antes de ser mãe, com promoções e aumentos. Atualmente, sinto minha entrega ainda maior, mas não tenho aumento há mais de 5 anos. Como mãe, acabo tendo que sair em horários diferentes, não faço horas extras. O que parece é que não sou merecedora de promoção, como se estivesse em "débito" pelas vezes que tive que deixar o time e ir atender meu filho”.

 

 

Acompanhe tudo sobre:DiversidadeLicença-maternidadeLicença-paternidadeLiderançaMulheres

Mais de ESG

Dólar fecha em queda de 0,84% a R$ 6,0721 com atuação do BC e pacote fiscal

Alavancagem financeira: 3 pontos que o investidor precisa saber

Boletim Focus: o que é e como ler o relatório com as previsões do mercado

Entenda como funcionam os leilões do Banco Central no mercado de câmbio