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Lotada de lobistas, COP29 deve ser a segunda maior da história

O número de representantes da indústria de petróleo presentes na Conferência supera soma das delegações dos 10 países mais vulneráveis

COP29, que acontece em Baku, no Azerbaijão, e tem lobistas como a quarta maior representação (Kiara Worth, UN Climate Change)
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 17 de novembro de 2024 às 05h47.

Última atualização em 17 de novembro de 2024 às 05h58.

* De Baku

A 29ª Conferência do Clima em Baku deve se consolidar como o segundo maior encontro da história das cúpulas climáticas, com 66.778 participantes presenciais e 3.975 virtuais registrados, conforme dados preliminares da Organização das Nações Unidas (ONU). A expressiva adesão - com público inferior apenas que o da COP28, que aconteceu em 2023, em Dubai - despertou preocupações entre especialistas quanto aos critérios de credenciamento.

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Contudo, particularmente alarmante, é o volume de lobistas presentes na cúpula do Azerbaijão que, em Dubai, já haviam aparecido em massa: 2.450 representantes dos interesses da indústria de combustíveis fósseis tiveram acesso às negociações climáticas da COP28, em comparação aos 636 do ano anterior, na COP do Egito

Há dois dias, um levantamento divulgado pela coalizão Kick Big Polluters Out (KBPO, em livre tradução "Expulse os Grandes Poluidores")indicou a presença de ao menos 1.773 representantes da indústria petroleira na COP29.Um número descomunal, conforme o relatório, e quesupera a soma das delegações dos dez países mais vulneráveis às mudanças climáticas.

Influência corporativa em evidência

Nesta edição da Conferência do Clima, o país anfitrião, Azerbaijão, lidera as representações gerais com 2.229 membros, seguido pelo Brasil (1.914) e a Turquia (1.862). Os Emirados Árabes Unidos, sede anterior do evento, ocupam a quarta posição em número de representantes (1.011), e a China aparece em quinto lugar (969).

Olhando para este ranking, é possível constatar quea "comitiva lobista" posiciona-se como quarta maior força no evento, representando em Baku gigantes do setor como Chevron, ExxonMobil, bp, Shell e Eni, que ainda de acordo com a KBPO, enviaram conjuntamente 39 representantes.

Embora as Cúpulas Climáticas aconteçam desde meados dos anos 90, apenas em Dubai o documento final incluiu referências à necessidade de abandonar asfontes energéticas poluentes. A demora de quase 30 anos para mencionar oficialmente a eliminação dos combustíveis fósseis ilustra o poder de influência que a indústria exerce sobre as negociações.

Presença de lobistas é paradoxo pós COP28

A participação massiva do setor petroleiro na COP29 evidencia agora um paradoxo com as metas estabelecidas justamente para esta conferência, especialmente quando entre os temas cruciais estão transição energética, alternativas genuínas e recursos para ações climáticas.

“A presença da indústria está ofuscando a daqueles que estão na linha de frente da crise climática ”, destacou Sarah McArthur, diretora da UK Youth Climate Coalition.  "Não temos tempo para interesses adquiridos e táticas de atraso. Cada ano que não removemos essa influência é mais um ano em que colocamos em risco nossa sobrevivência coletiva", alertou a ambientalista, em comunicado da KBPO.

O cenário tem rendido manifestações constantes ONGs e ativistas e, também, de renomados especialistas climáticos, incluindo o ex-secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e o cientista brasileiro Carlos Nobre, que junto a outras autoridades do mundo todo encaminharam uma Carta Aberta a Simon Stiell, Secretário-Executivo da UNFCCC, propondo reformas estruturais no evento.

Entre as principais recomendações do documento estão aprimorar critérios para seleção de países-sede, excluindo nações resistentes à transição energética, redimensionar o evento, limitando participações questionáveis,  ampliar a participação científica nas discussões e estabelecer um órgão consultivo científico permanente.

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