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A concretização do novo cronograma exigirá uma grande reforma da infraestrutura japonesa, que é altamente dependente de combustíveis fósseis produtores de dióxido de carbono (Koichi Kamoshida/Getty Images/Getty Images)
Leo Branco
Publicado em 14 de novembro de 2020 às 08h00.
Última atualização em 16 de novembro de 2020 às 09h35.
O Japão será neutro em carbono até 2050, declarou seu primeiro-ministro, fazendo uma promessa ambiciosa de acelerar drasticamente as metas de combate ao aquecimento global do país, mesmo planejando construir mais de uma dúzia de usinas a carvão nos próximos anos.
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O primeiro-ministro Yoshihide Suga estabeleceu o objetivo durante seu primeiro grande discurso político desde que assumiu o cargo em setembro, quando o então líder do Japão, Shinzo Abe, renunciou repentinamente. O anúncio veio poucas semanas depois que a China, rival regional do Japão, disse que reduziria suas emissões líquidas de carbono a zero até 2060.
Dirigindo-se ao parlamento japonês, Suga pediu que o país "seja neutro em carbono em 2050", uma declaração que atraiu aplausos dos legisladores. Segundo ele, alcançar esse objetivo será bom não só para o mundo, mas também para a economia do Japão e sua posição global.
"A adoção de uma abordagem agressiva do aquecimento global vai gerar uma transformação em nossa estrutura industrial e em nosso sistema econômico, que levará a um grande crescimento da economia", afirmou ele, respondendo aos críticos que alertaram para as consequências econômicas.
A nova promessa climática do Japão, uma grande atualização de seu compromisso anterior com a redução dos gases de efeito estufa, é necessária se o mundo espera manter o aumento da temperatura global bem abaixo de dois graus, como estipulado no acordo climático de Paris de 2015.
O Japão é o quinto maior emissor mundial de gases de efeito estufa, e havia dito anteriormente que se tornaria neutro em carbono "o mais cedo possível", prometendo reduzir as emissões em 80 por cento até 2050.
O Japão agora se junta à China, o maior poluidor, e à União Europeia, prometendo reduzir suas emissões líquidas de carbono a zero. O líder da China, Xi Jinping, fez a mesma promessa por seu país no mês passado, durante a Assembleia Geral da ONU.
Os dois anúncios das maiores economias da Ásia reforçaram quanto os Estados Unidos, o segundo maior emissor de carbono do mundo, se tornaram párias depois que o presidente Donald Trump garantiu em 2017 que retiraria a nação do Acordo de Paris.
A decisão do Japão provavelmente foi impulsionada por uma combinação de pressões políticas internas e externas, de acordo com Takeshi Kuramochi, pesquisador de política climática do Instituto NewClimate na Alemanha.
Embora grupos ambientais argumentem há muito tempo que o país precisa acelerar seu progresso na redução de emissões, a força do movimento vem crescendo nos últimos anos, "especialmente nos setores de negócios e finanças", disse Kuramochi, acrescentando que Suga provavelmente também sentiu que era importante não ceder a liderança sobre a questão à China. Ainda segundo Kuramochi, "seria um pouco embaraçoso para o Japão, como nação desenvolvida, ter um cronograma de emissões líquidas zero que perdesse para a China".
Não está claro se o compromisso de Suga é viável, e ele ofereceu poucos detalhes sobre como o Japão alcançaria esse objetivo, dizendo apenas que aproveitaria o poder da "inovação" e da "reforma regulatória" para transformar a produção e o uso de energia do país.
A concretização do novo cronograma exigirá uma grande reforma da infraestrutura japonesa, que é altamente dependente de combustíveis fósseis produtores de dióxido de carbono. O país vem fazendo progressos constantes na redução de suas emissões, mas permanece entre os dez maiores emissores per capita.
"Quando você olha para o Japão como uma economia, há muitas coisas que precisam ser consideradas na formulação dessa meta ambiciosa. Isso exigiria um olhar muito mais profundo sobre os recursos que o Japão tem, talvez a maneira como diferentes setores operam", disse Jane Nakano, membro sênior do Programa de Segurança Energética e Mudanças Climáticas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, acrescentando que não apenas o governo, mas muitas entidades empresariais e acionistas das indústrias também precisariam se comprometer a alcançar o zero líquido até 2050.
No início dos anos 2000, o Japão havia feito progressos substanciais na redução das emissões de dióxido de carbono mediante o uso de energia nuclear. Porém o colapso de uma usina nuclear em Fukushima, depois de um terremoto devastador e um tsunami em 2011, levou a uma paralisação generalizada dos reatores de energia do país, que geravam cerca de um terço do fornecimento total. Apenas algumas das usinas foram reiniciadas.
Com poucas fontes de energia, o Japão decidiu reinvestir em carvão. Já planejou e está no processo de construção de 17 usinas a carvão, mesmo quando outras grandes economias se afastam dessa fonte de energia.
Atualmente, o Japão planeja reduzir – mas não eliminar – sua dependência do carvão, diminuindo sua contribuição para a produção de eletricidade do país de 32 por cento em 2018 para 26 por cento até 2030, em parte por meio do desligamento de usinas ineficientes.
O país também prometeu acabar com os controversos subsídios governamentais para a exportação de tecnologia de energia a carvão para as nações em desenvolvimento, onde seu uso em eletricidade continua a aumentar. Atualmente, o Japão apoia três desses projetos e diz que vai considerar o financiamento de outros apenas em casos "excepcionais".
Outras tentativas para diminuir o uso interno de carvão no Japão provavelmente enfrentarão forte resistência da indústria japonesa, que ainda é fortemente dependente dessa energia. Ainda assim, o anúncio de Suga pode fazer com que o país repense seu compromisso com o carvão em favor de fontes de energia mais limpas e diversificadas.
O Japão já está considerando um aumento substancial na geração de energia eólica e solar, e também está de olho nas tecnologias mais novas e menos estabelecidas, como usinas que queimam amônia ou hidrogênio.
A retomada das usinas nucleares também pode estar incluída, apesar da resistência pública generalizada à ideia. Em seu discurso na segunda-feira, Suga declarou que o país continuaria a desenvolver energia nuclear com "prioridade máxima na segurança", observação que atraiu uma rodada de vaias e assobios dos parlamentares.
Algumas partes do país serão pioneiras da promessa climática global de Suga. O movimento em direção à nova meta já havia começado em nível local, onde 150 governos municipais se comprometeram a ser neutros em carbono até meados do século.
Grandes corporações como a Toyota e a Sony adotaram cronogramas semelhantes para zerar suas emissões.
Mas, mesmo que o Japão atinja seu objetivo, isso não será suficiente para deter ou mesmo retardar a tendência atual de aquecimento global, uma meta que requer um esforço planetário.
O Japão já está sentindo as consequências das mudanças climáticas. O aumento das temperaturas em todo o país contribuiu para ondas de calor mortais. E os cientistas afirmam que o aquecimento global também colaborou para o tamanho e a intensidade dos tufões devastadores que atingiram o país no ano passado.
"A prevenção de uma catástrofe climática exigirá uma transformação do sistema energético que permeia toda a sociedade moderna. Não há dúvida de que fazer uma mudança tão drástica no período extremamente curto de apenas 30 anos é muito difícil", disse Kentaro Tamura, diretor da Área de Clima e Energia do Instituto de Estratégias Ambientais Globais, em Kanagawa, no Japão. Mas acrescentou: "Estou otimista."
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